Assembleia Geral da ONU: verdades e mentiras ditas por Bolsonaro

Presidente defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19, cuja ineficácia é comprovada, criticou o passaporte sanitário e disse que o Brasil estava à beira do socialismo antes de assumir o governo

O presidente Jair Bolsonaro, em um discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, nesta terça-feira, 21, defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19, cuja ineficácia é comprovada, criticou o passaporte sanitário e disse que o Brasil estava à beira do socialismo antes de assumir o governo. Ao todo, partes do discurso presidencial não condizem com a verdade. Confira:

Falso - Auxílio Emergencial

“As medidas de isolamento deixaram um legado de inflação em especial nos gêneros alimentícios no mundo todo. No Brasil, para atender os mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos, e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de 800 dólares para 68 milhões de pessoas em 2020”.

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Conforme Bolsonaro, foi criado auxílio emergencial de 800 dólares — cerca de R$ 4,2 mil em conversão para o real — para auxiliar a população. Na verdade, a medida ofereceu, em cinco parcelas, na primeira fase do programa, um benefício de R$ 600 para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação mais vulnerável durante a pandemia da Covid-19. Mesmo que tenha sido uma proposta do governo federal, o valor foi aprovado pelo Congresso Nacional.

Além disso, a proposta original do Planalto era de um auxílio na casa dos R$ 200. Em 2020, Bolsonaro afirmou que o então valor pesava "muito para a União”. 

O presidente também omitiu que, em 2021, o auxílio emergencial está mais restrito que o do ano passado, sendo que o recebimento varia de acordo com a composição da família. Se tiver apenas um membro, o benefício é de R$ 150 por mês; com mais de uma pessoa, a família recebe R$ 250. Já no caso de uma família chefiada por mulher sem cônjuge ou companheiro, com pelo menos uma pessoa maior de idade, o valor é de RS$ 375.

Segundo o chefe do Executivo, as medidas de isolamento provocaram alta na inflação. Além do discurso ter se desalinhado aos do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, momento em que o português citou diversas crises globais e defendeu medidas internacionais de saúde, a fala vai contra o que defende a Organização Mundial da Saúde (OMS). Sem as medidas sanitárias aplicadas por gestores muncipais, a propagação da Covid-19 e os impactos da pandemia seriam ainda maiores. 

Falso - Eficiência do tratamento precoce 

Bolsonaro voltou a fazer críticas ao combate à pandemia. Contrariando orientações científicas, Bolsonaro defendeu, como fez diversas vezes na pandemia, o tratamento precoce. Diferente do que fez acreditar o presidente, os medicamentos, como a cloroquina, não possuem comprovação científica para o seu uso. 

Recentemente, a CPI da Covid no Senado investiga um caso em que integrantes do chamado "gabinete paralelo" do governo de Jair Bolsonaro usaram a operadora de saúde Prevent Senior como uma espécie de laboratório para comprovar a tese de que o chamado "kit covid" (hidroxicloroquina e azitromicina) era eficiente contra a doença. Eles revelaram também que pacientes não foram informados do tratamento experimental, o que é ilegal.

Em entrevista à emissora de TV, médicos acrescentaram que a operadora de saúde omitiu mortes pela doença em estudo no qual pretendia comprovar a eficácia do kit covid.

Segundo eles, nove pacientes vieram a óbito, mas o estudo relata que foram apenas dois casos. Essa pesquisa foi citada por Bolsonaro como prova da sua falsa tese de que as pessoas não precisavam fazer quarentena ou usar máscara porque a combinação de cloroquina e azitromicina curaria a doença, o que contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS).

No dia 14 de julho, o próprio Ministério da Saúde reconheceu, em documento enviado à CPI da Covid no Senado Federal, que os medicamentos do chamado kit covid são ineficazes contra o coronavírus. Por pedido do senador Humberto Costa (PT-PE), duas notas técnicas foram entregues a comissão. 

Falso - Manifestações de 7 de setembro, de apoio ao governo federal, foram as maiores da história

Em seu pronunciamento, Bolsonaro ignora que a mobilização do Dia da Independência foi visivelmente menor que, por exemplo, os protestos contra a presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016, e as manifestações generalizadas em 2013. Segundo dados de 2016 do Instituto Datafolha, o ato pró-impeachment de Dilma na Avenida Paulista teve um público de 500 mil pessoas, o maior ato desde o movimento Diretas Já, em 1984. Já nos atos bolsonaristas do 7 de setembro, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo estimou que 125 mil pessoas participaram da manifestação.

Falso - O Brasil está há 2 anos e 8 meses sem nenhum caso concreto de corrupção

Diferente do que disse o presidente, em maio, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, entregou seu celular à Polícia Federal 19 dias após ser alvo de buscas da Operação Akuanduba - investigação sobre supostos crimes de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando na exportação de madeira do País. O responsável pela operação, o delegado Franco Perazzoni, foi dispensado  do comando da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da Polícia Federal no Distrito Federal, mas seguiu conduzindo as investigações que estavam sob sua alçada. 

Em fevereiro, o Ministério da Saúde fechou contrato de R$ 1,6 bilhão com a Precisa para compra de 20 milhões de doses da Covaxin. O valor por dose (US$ 15) era o mais caro dos seis imunizantes que o País havia comprado. O negócio se tornou alvo de diferentes investigações por suspeita de irregularidades e corrupção e, em junho, após recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU), a Saúde suspendeu o contrato.

Além da CGU, o contrato da Precisa com o ministério entrou na mira da CPI da Covid, da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU). 

Verdade -  Governo federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta.

Segundo o consórcio de veículos de imprensa, 263 milhões de doses já foram recebidas pelos Estados, e 142 milhões de pessoas foram imunizadas com pelo menos uma dose. Isso representa 87,7% da população com mais de 18 anos. A população adulta totalmente imunizada chegou a 50,07%. Considerando todos os brasileiros, 66,6% receberam ao menos uma dose, e 38,1% foram totalmente imunizados.

Falso - BNDES financiou “obras em países comunistas sem garantias” e que “quem honrava esses compromissos era o próprio povo brasileiro”

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),  classificado como empresa pública federal, contabilizou 148 operações em 15 países por meio do mecanismo de crédito para exportação de bens e serviços. Na verdade, Bolsonaro também mentiu, pois todos os contratos tiveram garantias e as inadimplências não foram cobertas por impostos dos contribuintes.

Nesses casos, o dinheiro público é emprestado para as empresas brasileiras para a realização de obras no exterior. Após a operação, cabe aos países estrangeiros fazer o pagamento da dívida com o banco. Essa devolução é feita com juros, em prazo determinado nos contratos. A União é quem estabelece as operações, países de destino, principais condições contratuais e mitigadores de risco, cabendo ao banco a análise e a execução delas.

Os detalhes desse tipo de operação podem ser consultados em uma página criada pela instituição financeira para explicar como funcionam os contratos de exportação firmados a partir de 1998. A maior parte dos empréstimos foi concedida entre 2007 e 2015, durante os governos Lula (2003-2011) e Dilma Rousseff (2012-2016).

De acordo com o BNDES, o projeto do Porto de Mariel, em Cuba, “foi o único que incorreu em 100% do risco soberano de um país, não sendo exigidas garantias de terceiros”. O mitigador de risco de crédito, nesse caso, era uma conta corrente em Cuba.

Exagerado - 83% da energia no Brasil vem de fontes renováveis

Segundo dados do projeto Comprova de 2020, o Brasil possui 44,9% de fontes renováveis em sua matriz energética. Os dados são do Balanço Energético Mundial 2020, da Agência Internacional de Energia (IEA). Com o maior percentual entre as nações do G20, o Brasil segue atrás da Indonésia (25%) e Índia (22%). A taxa do Brasil também supera a média mundial, de apenas 13,8% de energia renovável.


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