Deputado quer denominar de Paulo Freire sede da Secretaria da Educação do Ceará

Ex-filiado ao PT, perseguido pela ditadura militar e defensor da participação em lutas sociais, o legado de Freire continua sendo um tema polêmico no Brasil, principalmente entre a direita e extrema-direita

Começou a tramitar nesta quarta-feira, 15, na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), um projeto de lei que denomina de Paulo Freire  (1921-1997) a sede da Secretaria da Educação do Estado (Seduc-CE). De autoria do deputado estadual Elmano de Freitas (PT), a proposta defende que o educador brasileiro "propôs respostas que se apresentem sobre a prática pedagógica que se desenvolve na escola pública, deixando mensagem concreta com importante legado". 

Freire foi uma figura de destaque na pedagogia crítica do século XX. O trabalho do educador propõe um método dialógico de alfabetização que fomenta a participação em lutas políticas. De acordo com um estudo de 2016, "Pedagogia do Oprimido" foi o terceiro livro mais citado nas Ciências Sociais. 

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O professor tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. Como escritor, ajudou a conquistar um amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos.

Em 1964, os militares brasileiros derrubaram o governo de Goulart em um golpe de Estado e prenderam Freire. Segundo Moacir Gadotti, o governo militar considerava Freire um "subversivo internacional" e "um traidor de Cristo e do povo brasileiro.

Quando Freire voltou ao Brasil, em 1980, tornou-se um dos membros fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele supervisionou muitos dos projetos de alfabetização de adultos do PT e atuou como secretário municipal de educação em São Paulo entre 1989 e 1991. Sob a liderança do co-fundador do PT de Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, o partido venceu as eleições gerais de 2002.

A conexão com a esquerda ainda é usada pela direita brasileira e, ainda hoje, o legado de Freire continua sendo um tema polêmico no Brasil. A direita e extrema-direita retratam o educador como um perigoso subversivo que planejava doutrinar a juventude. Em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro defendeu esse tipo de discurso ao questionar os métodos utilizados na educação pública.

Em discursos e entrevistas, Bolsonaro e seus aliados descrevem Freire como uma espécie de "bicho-papão esquerdista", cuja influência precisa ser expurgada do sistema educacional brasileiro. Durante sua campanha eleitoral, Bolsonaro prometeu a seus partidários que entraria no Ministério da Educação com um "lança-chamas" para remover Paulo Freire.

O agora ex-ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub, culpou Freire pela baixa classificação educacional do Brasil, e comparou a pedagogia freireana a um "vodu sem comprovação científica". Da mesma forma, o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, conhecido como "guru" de Bolsonaro, destaca Freire como um "militante pseudo-intelectual" que produziu "uma coleção de truques para reduzir a educação à doutrinação sectária".

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