Entenda as denúncias de propinas na compra de vacinas do governo Bolsonaro

Os dois casos envolvem cifras com valores elevados. Em um deles, o deputado Luis Miranda teria recebido proposta de R$ 6 milhões de reais para integrar esquema irregular. No outro, o Ministério da Saúde cobrou propina de US$ 1 por dose

Duas denúncias de propostas de propina para duas vacinas diferentes contra o coronavírus surgiram na noite desta terça-feira, 29. Em uma delas, o deputado Luis Miranda (DEM) teria recebido uma oferta de propina milionária para parar de atrapalhar as negociações do Executivo federal com a vacina indiana Covaxin. Na outra, teria sido exigida a propina de US$ 1 por dose da vacina Astrazeneca, correspondendo ao valor de R$ 1 bilhão.

De acordo com apuração da revista Crusoé, responsável por uma das denúncias, Luis Miranda foi convidado por Silvio Assis, conhecido lobista de Brasília, para uma reunião em sua casa para conversar pessoalmente. A intenção do encontro era convencer o parlamentar a parar de criar problemas para o negócio. Em certo momento, ele chegou a dizer que Miranda seria recompensado caso decidisse entrar no esquema.

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Silvio Assis é um conhecido da Polícia Federal por outros esquemas de corrupção, além de um homem de confiança de Ricardo Barros, deputado indicado por Miranda como aquele que comandava a aquisição da vacina. Em 2018, ele foi um dos presos da Operação Registro Espúrio, da Polícia Federal, após ser pego cobrando R$ 3,2 milhões em propina. As informações foram divulgadas pela revista Veja.

Ainda conforme a revista Crusoé, um mês após a primeira reunião, foi marcado um novo encontro. Desta vez, com a presença de Ricardo Barros, além do lobista. Nessa oportunidade, Silvio falou de valores caso Miranda aceitasse participar do esquema. Ele ganharia seis centavos de dólar por dose, equivalente a R$ 6 milhões caso a venda de R$ 20 milhões de doses fosse concretizada.

O parlamentar se defende e diz que rechaçou a proposta de forma categórica e teria até ameaçado dar voz de prisão ao lobista. Questionado pela Crusoé sobre as conversas, Miranda disse que não iria se manifestar e prefere falar sobre o assunto para a Polícia Federal, caso seja chamado. Já Silvio Assis nega que tenha tratado de vacinas com o homem. “Se tratou de vacina não foi comigo, não. Nem conversei isso. Nada”, disse Assis à Crusoé.

Vendedor de vacina também disse que governo pediu propina de US$ 1 por dose

Propina de US$ 1 por dose de vacina em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde teria sido pedida pelo governo Bolsonaro, informou o jornal Folha de S. Paulo, na noite desta terça-feira, 29. A informação foi repassada à repórter Constança Rezende por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply. Ele disse que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou a propina em um jantar em Brasília, no último dia 25 de fevereiro.

A empresa Davati Medical Supply teria buscado o Ministério para negociar a compra de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca. Na época, a proposta feita seria de US$ 3,5 por cada imunizante. "O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa", declarou Dominguetti. Posteriormente, a dose de cada um dos imunizantes passou a ser US$ 15,5.

"Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: 'Olha, para trabalhar dentro do Ministério, tem que compor com o grupo'. E eu falei: 'Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?'", contou Dominguetti. "Tinha que majorar o valor da vacina, que teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo", continuou o representante, em declaração à Folha.

Nesta noite, o senador Omar Aziz (PSD), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, disse que Dominguetti será convocado para depor na CPI na próxima sexta-feira, 2. Requerimento apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania) defende que ele deve comparecer ao Senado para esclarecer a declaração dada à Folha de S. Paulo nesta terça.

Em relação à denúncia da revista Crusoé, Aziz respondeu a um internauta no Twitter que já tinha visto o conteúdo divulgado, mas não afirmou se a CPI também deverá convocar os envolvidos na suspeita.

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