Lula, Bolsonaro e a disputa pelos votos do Nordeste

Atual presidente tem intensificado viagens à região e deve estar nesta quinta, 24, no Rio Grande do Norte; Lula, por sua vez, tem viagens para estados nordestinos previstas para Julho

Os dois potenciais candidatos à Presidência da República, que despontaram nas primeiras pesquisas referentes ao pleito de 2022, já iniciaram seus respectivos planejamentos e ações para intensificar a batalha pelo voto no Nordeste. O ex-presidente Lula (PT), líder nas pesquisas, e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo colocado na preferência dos eleitores, vêm realizando ou já agendaram visitas à região neste ano.

A disputa não é por acaso. Para Bolsonaro, o Nordeste é um desafio que poderia garantir-lhe a reeleição. Pesquisa Datafolha realizada em maio apontou que a região concentra a maior rejeição ao atual presidente. Cerca de 62% dos moradores do Nordeste não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum. Na média nacional da mesma pesquisa, a rejeição a Bolsonaro era de 54%. Já para Lula, o Nordeste é, tradicionalmente, a região onde o PT tem mais força. Sabendo disso, e de olho em 2022, o petista já agendou viagens à região para julho.

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Na próxima quinta-feira, 24, Bolsonaro estará novamente no Nordeste. O presidente deve desembarcar no Rio Grande do Norte, para cumprir agenda nos municípios de Jucurutu e Pau dos Ferros. As informações foram divulgadas pelo Ministério de Desenvolvimento Regional. O avião do presidente também é esperado em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense. De lá Bolsonaro deve seguir para evento em Cajazeiras, na Paraíba, mas a agenda ainda não foi confirmada.

A entrega de obras tem sido uma marca das visitas de Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, o presidente veio ao Ceará para cerimônia onde assinou ordens de serviço para a retomada de obras paradas em Tianguá. Ele também passou por outros municípios da Região Metropolitana de Fortaleza e causou aglomerações.


Retrato dessa intensificação de atividades no Nordeste ocorreu no mês passado, quando Bolsonaro realizou, em menos de dez dias, visitas a três estados da região: Alagoas, Piauí e Maranhão. O gestor entregou obras, fez promessas e atacou adversários políticos. Em Maceió, Bolsonaro participou de evento para inaugurar casas populares e chamou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) de "picareta". Calheiros é o relator da CPI da Covid, que investiga a atuação do governo federal em temas referentes ao enfrentamento da pandemia no Brasil.

No Piauí, o presidente discursou ao lado do senador Ciro Nogueira (PP-PI), em 20 de maio, ao inaugurar uma ponte no município de Santa Filomena. O presidente criticou Lula e citou a possibilidade de ampliação dos valores do Bolsa Família, principal programa criado nos governos petistas. No dia seguinte, ele esteve em cerimônia de entrega de títulos de propriedade rural em Açailândia, no Maranhão, onde mirou no governador Flávio Dino, aliado de Lula, e disse que libertaria o estado da “praga" que é o comunismo.

Paula Vieira, cientista política vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), aponta que o Nordeste é crucial para qualquer presidenciável. No caso de Bolsonaro, a pesquisadora destaca que as visitas ocorrem em dois sentidos que buscam uma meta em comum: fortalecer a imagem do presidente e de seus candidatos na região.

“O primeiro objetivo é conquistar potenciais eleitores do Lula e o segundo é articular com políticos locais que o apoiam, nessa perspectiva de fazer um jogo de diálogo institucional do Executivo com possíveis candidatos a deputado e senador”, pontua, destacando que a ideia é ganhar a preferência de eleitores que são vinculados aos possíveis candidatos locais ligados a Bolsonaro. “É uma tentativa de alinhamento entre o interesse local e nacional”.

Já o ex-presidente Lula deve desembarcar em julho em estados do Nordeste. As viagens dão sequência ao movimento que o petista realizou em Brasília e no Rio de Janeiro, após readquirir seus direitos políticos, com objetivo de reencontrar apoiadores e formar novas alianças para 2022. A expectativa é de que a passagem de Lula pela região ocorra em duas etapas, com a primeira delas tendo início na primeira quinzena de julho.

Dirigentes petistas têm falado que a ideia é que Lula participe de reuniões pequenas e fechadas com atores políticos e sociais importantes. Para evitar aglomerações, a agenda de encontros não deve ser divulgada. “Serão conversas políticas, sem relação com eleição. O presidente Lula quer debater sobre o desenvolvimento regional, o combate à fome e a luta por vacinas”, disse o vice-presidente nacional do PT, Márcio Macêdo, ao jornal Folha de S.Paulo.

Apesar da fala de Macêdo, a pesquisadora Paula Vieira aponta que uma eventual visita de Lula a estados do Nordeste ocorre, sim, no sentido do ex-presidente se mostrar como candidato. “Ele vem para dizer: olha eu voltei. O Nordeste já votou no Lula e na última eleição escolheu em peso o candidato do PT (Fernando Haddad). Lula vem para mostrar que segue ativo na vida política”, projeta.

O deputado estadual Acrísio Sena (PT) foi mais claro sobre as intenções da visita do ex-presidente ao Nordeste. “O objetivo é construir cenários para 2022, não tenho dúvidas. Lula vem com o intuito de fortalecer nossas bancadas e terá diálogos com lideranças locais de outros partidos. Na verdade, é uma construção de uma perspectiva de um movimento nacional pela democracia, pela retomada do crescimento econômico e distribuição de renda, pautas que estão travadas no Brasil”, observa.

Sena destaca que o Ceará tem papel importante na visita do ex-presidente ao Nordeste. “Nós temos um desafio muito grande, já que existem dois nomes de projeção nacional no Ceará como possíveis candidatos à presidência. É o caso do Ciro Gomes (PDT) e do Tasso Jereissati (PSDB). Nesse sentido, considero que o Estado tem um papel estratégico nesta visita”.

Ainda de acordo com o parlamentar, as recentes visitas do atual presidente ao Nordeste não devem alterar o cenário eleitoral na região. “A política que Bolsonaro tem feito nas áreas da saúde e do meio ambiente são contrárias ao que os governos estaduais têm adotado. Eu acredito que não há menor penetração da agenda dele na região. A propósito, eu acho até que a votação dele corre o risco de ser menor do que a de 2018”, completa.

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