DiCaprio, Caetano, Katy Perry e outros artistas pedem que Biden recuse acordo ambiental com Bolsonaro

Em meio ao crescente desmatamento da floresta amazônica, dezenas de celebridades do Brasil e dos EUA já assinaram carta pedindo que presidente norte-americano não aceite nenhum acordo com Bolsonaro.

Um grupo com 36 artistas do Brasil e dos Estados Unidos enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pedindo que ele não feche um acordo ambiental com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) antes de redução real no desmatamento na Amazônia. O texto pede ainda a livre participação da sociedade civil nos debates ambientais antes que qualquer compromisso seja firmado. 

O documento foi assinado pelos atores Alec Baldwin, Joaquin Phoenix, Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e Orlando Bloom, além dos cantores Katy Perry e Roger Waters, entre outros. Do lado brasileiro, subscrevem Caetano Veloso, Fernando Meirelles, Marisa Monte, Sonia Braga e Wagner Moura. 

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No texto, os artistas afirmam que "ações urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças à Amazônia, ao clima e aos direitos humanos", descartando um acordo imediato com o Bolsonaro como uma solução. "Encorajamos você a continuar o diálogo com povos indígenas e comunidades tradicionais da Bacia Amazônica, com governos subnacionais e a sociedade civil (...) antes de anunciar quaisquer compromissos ou liberar quaisquer fundos", diz o documento.

Segundo o ator Mark Ruffalo, que interpretou o super-herói Hulk nos filmes do Universo Cinematográfico Marvel, o "futuro climático depende da proteção da Amazônia e do apoio aos defensores indígenas da floresta". "Tenho orgulho de prestar minha solidariedade a eles. Nos unimos para exigir: "Presidente Biden: com Bolsonaro não há acordo!", endossou. 

"Há um golpe no Brasil, não é um golpe militar. É muito difícil para as pessoas fora do Brasil saberem exatamente o que está acontecendo e a dimensão do perigo pelo qual estamos passando. Este não parece mais com o país que conheci, onde vivi e que amei tanto", disse a atriz Sonia Braga.

Nesta segunda-feira, 19, a ativista sueca Greta Thunberg participou de coletiva com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, onde fez críticas ao desempenho de Bolsonaro nas crises ambientais e sanitárias. A ambientalista afirmou que Bolsonaro tem responsabilidade tanto na questão ambiental quanto na resposta negativa do Brasil à crise de saúde. 

Desde a eleição de Biden, o presidente brasileiro soube que precisaria mudar sua política externa se quisesse manter abertos os canais com a Casa Branca. Apesar de manutenção de pragmatismo no trato com o Brasil, uma maior tensão na relação bilateral com os EUA tem se intensificado nas últimas semanas, principalmente no quesito da preservação ambiental, já que o Brasil mantém forte desmatamento na floresta amazônica.

No começo de abril, mais de 200 entidades brasileiras enviaram uma carta à Casa Branca pedindo que Biden que não firmasse um acordo com Bolsonaro. As instituições alegam que a gestão federal não tem legitimidade para representar o Brasil. 

Na última sexta-feira, 16, um grupo de 15 senadores do Partido Democrata dos EUA enviou uma carta ao presidente americano em que reclamam da falta de medidas para preservar o ambiente por parte do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Os políticos dos EUA também pedem para que Biden condicione qualquer apoio à preservação da Amazônia a um progresso nas ações brasileiras.

Em reunião recente com membros da equipe de John Kerry, enviado especial da Casa Branca para o clima, organizações enfatizaram que o presidente brasileiro não é confiável e que repassar recursos antes de haver progresso real seria premiar o retrocesso na política ambiental do país e ajudar na estratégia de relações públicas de Bolsonaro.

Durante a campanha presidencial, Biden propôs que um grupo de países pudessem doar US$ 20 bilhões ao Brasil para combater o desmatamento e que, caso o país fracasse, enfrente consequências. Na ocasião, Bolsonaro classificou os comentários de Biden como desastrosos.

Já na semana passada, Bolsonaro recuou e se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal em território brasileiro até 2030. Ele ponderou que a meta "exigirá recursos vultosos e políticas públicas abrangentes". O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também vem tentando convencer os EUA a enviarem dinheiro ao Brasil em troca de metas de redução de desmatamento.

Íntegra da carta Carta dos artistas do Brasil e dos EUA ao Presidente Joseph Biden

Estados Unidos, Brasil, 20 de abril de 2021

Proteja a Amazônia

Caro presidente Biden,

Obrigado por seu compromisso de agir pelas mudanças climáticas, pela conservação das florestas e pelo respeito aos direitos e à soberania dos Povos Indígenas. Escrevemos para você hoje como artistas e músicos dos Estados Unidos e do Brasil para expressar nosso apoio e solidariedade aos Povos Indígenas e organizações da sociedade civil na Bacia Amazônica - e ao redor do mundo - que expressaram profunda preocupação com relação a possíveis acordos ambientais com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Instamos sua Administração a ouvir nosso apelo e a não se comprometer com nenhum acordo com o Brasil neste momento.

Proteger a Floresta Amazônica é essencial para soluções globais para lidar com as mudanças climáticas. No entanto, a integridade deste ecossistema crítico está se aproximando de um ponto de não retorno devido às crescentes ameaças à floresta tropical e aos seus guardiões pelo governo Bolsonaro, incluindo desmatamento, incêndios e ataques aos direitos humanos.

Desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro de 2019, a legislação ambiental foi sistematicamente enfraquecida e as taxas de desmatamento triplicaram. As terras indígenas, que são as mais protegidas da Amazônia, foram invadidas, desmatadas e queimadas impunemente. Os direitos dos povos indígenas, guardiões da floresta, foram violados por Bolsonaro e seu governo.

Estamos preocupados que seu governo possa estar negociando um acordo para proteger a Amazônia com Bolsonaro neste momento. Embora estejamos aliviados que a secretária de imprensa da Casa Branca Jen Psaki tenha declarado recentemente que não haveria nenhum acordo bilateral anunciado na Cúpula dos Líderes do Clima no Dia da Terra, ainda estamos apreensivos.

Nós nos juntamos a uma coalizão crescente de mais de 300 organizações da sociedade civil brasileira e norte-americana, povos indígenas, membros do Congresso dos Estados Unidos e legisladores brasileiros para pedir a seu governo que rejeite qualquer acordo com o Brasil até que o desmatamento seja verdadeiramente reduzido, os direitos humanos sejam respeitados e a participação significativa da sociedade civil seja atendida.

Compartilhamos suas preocupações de que ações urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças à Amazônia, ao nosso clima e aos direitos humanos, mas um acordo com o Bolsonaro não é a solução.
Encorajamos você a continuar o diálogo com povos indígenas e comunidades tradicionais da Bacia Amazônica, com governos subnacionais e a sociedade civil, que têm soluções e desenvolveram propostas para sua consideração, incluindo a Plataforma Climática da Amazônia, antes de anunciar quaisquer compromissos ou liberar quaisquer fundos.

Agradecemos sua liderança em tomar as medidas necessárias e urgentes para lidar com a emergência
climática que enfrentamos coletivamente.

Respeitosamente,

Mark Ruffalo
Leonardo DiCaprio
Joaquin Phoenix
Jane Fonda
Rosario Dawson
Orlando Bloom
Katy Perry
Uzo Aduba
Alyssa Milano
Alec Baldwin
Marisa Tomei
Philip Glass
Roger Waters
Frances Fisher
Misha Collins
Laurie Anderson
Sigourney Weaver
Katherine Waterston
Ed Begley Jr.
Wendie Malick
Barbara Williams
Sonia Braga
Caetano Veloso
Gilberto Gil
Alice Braga
Wagner Moura
Fernando Meirelles
Walter Salles
Marisa Monte
Maria Gadú
Andrea Beltrão
Patrícia Pillar
Débora Bloch
Marcos Palmeira
Bela Gil
Fernanda Abreu
Folhapress

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