Além de Bolsonaro, conheça outros presidentes com posturas negacionistas durante a pandemia

Negação da importância da ciência no combate à Covid-19 em outros países tem resultado em diversos problemas, como a subnotificação da doença, pouco auxílio aos doentes, isolamento com o mercado internacional, geração de novas variantes e aumento expressivo de casos e mortes. Lista inclui líderes de países como Venezuela, Coreia do Norte e Turcomenistão

Desde 2020, países em todo o mundo compartilharam dados sobre casos e mortes de Covid-19 com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Meses depois, líderes mundiais têm articulado estratégias para prevenir e estimular a prática de medidas de isolamento para conter a doença. No entanto, além do Brasil, com a atual gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), alguns países se destacam por parecerem menos transparentes e negarem a escala do problema e a importância da ciência nesse contexto trágico.

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Nessas regiões, as posições negacionismos de seus líderes durante a pandemia têm atrapalhado a articulação para a aquisição de vacinas. Além disso, a prática tem resultado em outros diversos problemas, como a subnotificação da doença, pouco auxílio aos doentes, isolamento com o mercado internacional, geração de novas variantes e aumento expressivo de casos e mortes, etc. Veja a lista:

México

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, adotou desde 2020, início da pandemia, um comportamento contraditório, misturando comportamentos que vão contra as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) com indícios de apoio às orientações médicas.

A postura do líder mexicano foi classificada como negacionista muitas vezes. A estratégia sanitária recomendou apenas trabalho remoto e distanciamento social, sem a adoção de medidas estritas de confinamento, como ocorreu em países europeus nos quais os números de mortos foram muitos menores que os do México.

Ainda no começo do contágio, o presidente mexicano aconselhou a população a “seguir a vida normalmente”. Apesar de ter sido contaminado pelo vírus em janeiro de 2021, López não é um entusiasta do uso de máscara.

A revisão dos dados, feita pelo Ministério da Saúde local, mas ainda não oficializada por órgãos internacionais, colocaria o país no segundo lugar no ranking mundial de mortos pela pandemia.
O número de mortos pela Covid-19 no México pode ser pelo menos 62% maior do que se presumia inicialmente.

Tanzânia

O presidente da Tanzânia, John Magufuli, morreu no dia 17 de março aos 61 anos em decorrência de um problema cardíaco. Negacionista da gravidade da pandemia de Covid-19, o líder não era visto em público desde 27 de fevereiro, gerando especulações de que teria contraído o coronavírus.

A população da Tanzânia se despediu do presidente com cenas de aglomerações e uma multidão sem máscaras – em meio à pandemia – foram vistas no estádio de futebol onde o corpo de Magufuli foi velado.

Ele chegou a dizer que Deus e inalação protegeriam a população, e que o país estava livre da pandemia "devido a orações". Magufuli fazia campanha contra o uso de máscaras e vacinas. Ele
defendia também que o novo coronavírus era proveniente de um demônio ocidental.

"O coronavírus, que é um demônio, não pode sobreviver no corpo de Cristo. Ele queimará instantaneamente", afirmou o líder ao convocar as pessoas a irem às igrejas e mesquitas para orar. O presidente recomendava receitas caseiras — como uma bebida à base de gengibre, cebola, limão e pimenta — para eliminar o vírus.

No dia 26 de março, uma variante com o maior número de mutações do coronavírus foi identificada em viajantes da Tanzânia, o que levou cientistas a pedirem maior monitoramento em um país que tem ignorado medidas de combate à pandemia.

Um relatório enviado à Organização Mundial da Saúde e órgãos regionais mostra que a cepa tem dez mutações a mais do que qualquer outra versão, segundo o brasileiro Túlio de Oliveira, diretor do Krisp, instituto científico que realiza testes genéticos para dez países africanos.

Turcomenistão

O Turcomenistão, país da Ásia Central, um estado secreto e altamente autoritário, “não relatou nenhum caso de Covid-19 à OMS até agora”, de acordo com uma declaração da entidade. Mas grupos de direitos humanos dizem que a doença está se espalhando amplamente por lá.

Na região, as autoridades restringiram as viagens e pediram distanciamento social e uso de máscaras. Contudo, evitaram relacionar os cuidados com a circulação da Covid-19 no país. No meio do ano passado, o governo afirmou que máscaras são necessárias para proteger contra “a poeira” transportada pelo ar.

O Relatório Mundial 2021 da HRW acusou o governo turcomano, liderado pelo presidente Gurbanguly Berdymukhamedov, de ter “negado de forma imprudente e mal administrado a epidemia de Covid-19 dentro do país” e “coagido” os profissionais de saúde ao silêncio sobre a propagação do vírus.

Em seu site, a Embaixada dos EUA no Turcomenistão afirmou ter recebido que informes “de cidadãos locais com sintomas consistentes com Covid-19 passando por testes de coronavírus e sendo colocados em quarentena em hospitais de doenças infecciosas”. Segundo a embaixada, o Turcomenistão “pode não estar inclinado” a reconhecer oficialmente quaisquer casos que sejam confirmados.

A diretora do grupo europeu de exilados Direitos Humanos e Liberdades de Cidadãos do Turcomenistão, Diana Serebryannik, afirmou que a situação no país é um “desastre”, pois o governo se recusou a reconhecer Covid-19, deixando os doentes sem acesso a cuidados adequados e a maioria dos médicos sem o conhecimento básico para tratá-los.

Coreia do Norte

O líder norte coreanro Kim Jong Un tem aparecido em público sem usar máscara em várias ocasiões durante a pandemia. Uma polêmica envolve a precisão dos dados sobre infectados na Coreia do Norte.

Um relatório da OMS publicado em 8 de janeiro de 2021 afirma que o país testou 13.257 pessoas e não encontrou nenhum caso positivo de Covid-19. O relatório foi baseado nos dados de 15 laboratórios da Coreia do Norte que o Ministério da Saúde Pública da Coreia do Norte forneceu à OMS. Nenhuma atualização foi emitida desde então.

Distante de aplicar medidas sanitárias eficazes, a prioridade da Coreia do Norte desde o surgimento da pandemia no ano passado tem sido impedir o avanço do vírus por meio do isolamento internacional, incluindo o corte de quase todo o comércio com o governo da China, o que causa fortes impactos sociais e econômicos.

Venezuela

O presidente da Venezuela Nicolás Maduro decretou, no último dia 21, um lockdown de duas semanas no país. Com uma campanha de vacinação lenta, aumento de casos e mortes, e o iminente colapso das UTIs venezuelanas, o anúncio da imposição de um lockdown parece ter sido a saída mais eficaz a curto prazo para barrar a piora da crise.

De certa forma, as falas do ditador desvelaram a situação da crise sanitária na Venezuela. Durante seu combate à pandemia, o líder chegou a anunciar da distribuição em massa de um suposto remédio “milagroso” contra o coronavírus a centros de saúde e farmácias de todo o país.

O Carvativir, no entanto, não tem eficácia comprovada no combate à Covid-19. Composto de carvacrol, substância presente no óleo de orégano, o medicamento criado pelo médico venezuelano do século XIX José Gregorio Hernandez é usado como expectorante e foi classificado pelo FDA, a agência reguladora de medicamentos dos EUA, como “seguro e inócuo para consumo humano”.

Mesmo assim, Maduro promoveu o remédio como as “gotas milagrosas”, o que levou o Facebook a suspender sua página da rede social plataforma devido a violações da política contra informações falsas sobre a pandemia. A decisão foi baseada em orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que afirma não haver atualmente medicamento para curar o vírus. 

A Venezuela registrou na segunda-feira, 29, 1.288 novos casos de coronavírus, o maior número diário desde o início da pandemia de covid-19 no país, em março de 2020. A associação Médicos por la Salud, criada em 2014 por profissionais independentes que cruzam dados para obter cifras mais próximas da realidade, entretanto, estima que o número de infectados seja ao menos quatro vezes maior. Até segunda, o país contabilizou um total de 1.577 mortes e 157.943 casos de covid-19 desde o início da pandemia.


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