Pressionado, Bolsonaro procura substituto para Pazuello

No ápice da pandemia no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro procura agora seu quarto ministro da Saúde. Pressionado pela explosão de mortes e internações por covid-19 e frustrações na campanha de vacinação, o presidente decidiu trocar o comando da pasta ocupada por Eduardo Pazuello. Políticos que participam das conversas com o Planalto dizem que o general se inviabilizou como ministro. A questão é saber quem assumirá o posto.

A cardiologista Ludhmila Hajjar é uma das candidatas mais fortes para a vaga, como antecipou a Coluna do Estadão, e se reuniu com Bolsonaro na tarde deste domingo, 14, no Palácio da Alvorada. A conversa, no entanto, foi inconclusiva. A médica tem postura favorável ao isolamento social como forma de combater o avanço do vírus e já criticou o uso da cloroquina, bandeiras que contrastam diretamente com o que defende o presidente desde o início da pandemia.

A escolha de Ludhmila, no entanto, poderia atender a outros interesses do governo. Médica de vários parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), é tratada como uma unanimidade pelo alto escalão da Justiça e da política. Com ela no ministério, Bolsonaro passaria a ter o apoio do Congresso e do Judiciário na condução da pandemia. Não se sabe, no entanto, se o presidente se adaptaria a uma profissional que tem opinião própria e posição clara sobre como lidar com a doença.

Segundo autoridades que acompanham a discussão, Bolsonaro resiste a entregar a Saúde a um político do Centrão, que vem cobiçando a vaga. Por isso, a alternativa mais provável passou a ser a entrada de um profissional da saúde. Além de Ludhmila, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Queiroga, também chegou a ser apontado como opção.

Ludhmila tem a simpatia de políticos influentes do Progressistas e a defesa declarada do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que, em mensagem no Twitter, defendeu a nomeação. "Coloquei os atributos necessários para o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila."

A médica teve conversas com congressistas do Centrão na última semana e já havia sido cotada para ministra em abril de 2020, quando Luiz Henrique Mandetta (DEM) foi demitido do cargo. O escolhido, porém, foi o médico Nelson Teich, que ficou apenas um mês e deixou o governo por divergências com o presidente.

Em 2018, a médica chegou a avaliar o estado de saúde de Bolsonaro, então candidato, quando ele recebeu uma facada em ato de campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG). Ludhmila viajou para Minas, na ocasião, como chefe de uma equipe de médicos do Hospital Sírio Libanês, tendo sido enviada pelo cardiologista Roberto Kalil Filho. Mas a família Bolsonaro optou que ele fosse transferido da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo "Trabalho com a Ludhmila há 14 anos. É uma profissional preparada, uma médica determinada que trabalha 24 horas por dia", afirmou Kalil ao Estadão.

Inviável

Para além da pressão do Congresso, a inviabilidade de Pazuello no cargo passa, ainda, pelas investigações do Supremo Tribunal Federal, que apura seus atos e eventuais responsabilidades pela crise generalizada no sistema de saúde. Ao deixar de ser ministro, Pazuello perde, inclusive, o foro privilegiado e o caso deverá ser encaminhado para a primeira instância da Justiça Federal.

Oficialmente, o governo deve alegar que Pazuello está cansado e que pediu para ser substituído. Em nota no fim da tarde de ontem, porém, o general disse que segue ministro e que não está "doente". "Não estou doente, não entreguei o meu cargo e o presidente não o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da Saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas", afirmou.

Pacientes

Cardiologista, Ludhmila Hajjar se especializou em cuidados da covid-19 e acompanhou o tratamento do próprio Pazuello, no Hospital DF Star, em Brasília, além da internação de outras autoridades, como o ministro do STF Dias Toffoli e a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP). Trabalhando para o hospital mais concorrido entre autoridades de Brasília, aproximou-se de políticos do Centrão e da família do presidente.

O pai dela, Samir Hajjar, é empresário e pecuarista de renome em Anápolis e tem proximidade com políticos locais, como o ex-deputado goiano Vilmar Rocha (PSD).

Outra paciente famosa de Ludhmila foi a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando a petista enfrentou um câncer no sistema linfático, em 2009. Na época, ela era ministra da Casa Civil do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Anos depois, em maio de 2016, a então presidente fez um "cumprimento especial" à médica em discurso na cerimônia de inauguração de um novo terminal no aeroporto de Goiânia. "Saibam vocês que ela é uma das pessoas mais importantes no tratamento que eu assisti, tanto no Sírio Libanês, como no Incor", disse Dilma.

Críticas à atuação do governo

Cardiologista com especialidade em terapia intensiva cirúrgica, Ludhmila Abrahão Hajjar atua na linha de frente contra a covid-19 desde o início da pandemia. Crítica à condução do governo Jair Bolsonaro ao longo da crise sanitária, a médica é contra o chamado "tratamento precoce" propagado pelo presidente, à base de cloroquina, e defensora de todas as medidas combatidas por ele, como uso de máscaras, distanciamento social e até lockdown de acordo com estatísticas de cada região.

Natural de Anápolis (GO), Ludhmila afirmou ao jornal goiano Opção, na semana passada, que o Brasil "está fazendo tudo errado no combate à pandemia". Segundo a médica, o governo deveria estar hoje com cinco ou seis vacinas disponíveis quando na realidade apenas dois tipos de imunizantes são oferecidos aos grupos já definidos no Plano Nacional de Imunização. São elas a Coronavac e a vacina de Oxford.

Enquanto o presidente Bolsonaro reclama até hoje da decisão do STF que deu liberdade para governadores e prefeitos tomarem medidas de enfrentamento à pandemia, Ludhmila é favorável às decisões descentralizadas, incluindo a adoção de medidas mais restritivas de isolamento social - alvo dos protestos de bolsonaristas ontem.

"A questão de fazer lockdown e toque de recolher tem de ser tratado Estado por Estado, semana a semana, pelos técnicos e cientistas locais. Não acredito que deve haver uma medida nacional única que sirva para todo o Brasil. Tem de ser tratado individualmente", afirmou ao jornal.

Em entrevista à revista Forbes no fim do ano passado, Ludhmila apontou como uma das causas dos números registrados da doença no País a ineficiência do governo na adoção de medidas que poderiam ter minimizado a prevalência da covid-19.

A médica também é defensora do rastreamento dos infectados como forma de evitar a transmissão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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MINISTÉRIO DA SAÚDE/PAZUELLO/SAÍDA

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