Gabriella Bezerra: O PT e o STF nas ondas da política

Gabriella Bezerra Professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem)
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Gabriella Bezerra Professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem)
Não vale a pena fazer de qualquer jeito. Não vale a pena pela pressão popular. Afinal, nossas memórias não são fixas, são circunstanciais. Por isso, é preciso reconhecer a estratégia petista de insistir numa ampla frente de ação para reivindicar a lisura do processo jurídico. Seus componentes mobilizaram a opinião pública internacional, as lideranças de esquerda e de centro, aproveitou-se da onda extremista para insistir no óbvio: uma investigação realizada ao belo sabor dos ventos pode trazer perigos ao sistema democrático. Mas foi muito criticado por especialistas e ‘opinadores’. Agora colhe uma simbólica vitória. Esse é o grande charme e a grande dificuldade de tentar encapsular o significado mesmo de estratégia.

Quem está jogando, está simulando os passos dos adversários, está vendo além. Para quem assiste, não é possível preencher todos esses espaços em branco. Entretanto, não é privilégio dos atores políticos partidários. O STF também pensa e age estrategicamente. Foi inundado pela pressão popular e midiática, ignorou certos movimentos, visando a produtividade do resultado, que não chegou. Hoje encontra-se diante de um governo tenso para a relação entre os poderes, ou melhor, para qualquer tipo de relação democrática típica. Mas conseguiu no uso do tempo e da análise dos momentos, recuar e refazer alguns passos.



Quero insistir nas consequências não tão aparentes. A Operação Lava Jato custou quanto aos cofres públicos? Dinheiro que agora encontra-se perdido. Tão perdido quanto o das propinas que denunciou? E o tempo? Quantos anos estamos acompanhando uma investigação que já deveria ter sido contornada e submetida a controles externos rígidos, e talvez, chegado a punições menos vigorosas, mas significativas para a mudança dos comportamentos corruptos institucionalizados.

Para quem tinha o sincero desejo de uma limpeza no sistema, também perdeu a confiança. Encontramo-nos pior do que antes? Agora, aqueles que querem se proteger, vão ter elementos que os resguardam? Uma boa estratégia busca ver a sequência e o resultado. Vencer nem sempre é ganhar.

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