Entre 75 candidatos no País com nome "Bolsonaro" nas urnas, Carlos Bolsonaro foi o único eleito
A maioria dos candidatos escolheu o sobrenome como estratégia de campanha, o que se provou como má ideia após o resultado das eleições municipais 2020
Gargamel Bolsonaro, Bolsonaro Sergipano, Capitão de Bolsonaro, Raimundo Bolsonaro do Sertão... O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou uma lista extensa de candidatos com nomes curiosos que escolheram o sobrenome do presidente da República para as urnas destas eleições municipais. Contudo, o que parecia uma boa ideia de campanha, para a maioria dos casos, mostrou ser um fracasso no dia da votação. Em levantamento realizado pelo O POVO Online, 86 candidatos se inscreveram utilizando "Bolsonaro" como nome social nas Eleições 2020. Dentre esses, 75 candidatos tiveram candidaturas aceitas pelo TSE, somente um se elegeu: o filho do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos), que foi reeleito para a Câmara do Rio de Janeiro.
No balanço geral das candidaturas de "Bolsonaros", em levantamento a partir de planilha disponibilizada pela Justiça Eleitoral com registros de todas as candidaturas a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores no Brasil, foram 86 inscrições, 75 deferimentos, sete candidaturas negadas pelo TSE, duas renúncias, um pedido não conhecido e uma candidatura pendente em julgamento. A principal razão para a escolha do sobrenome de Jair foi demonstrar apoio ao presidente e buscar votos na onda de popularidade do bolsonarismo. Alguns candidatos foram, inclusive, reconhecidos em transmissões ao vivo de Bolsonaro, como Deilson Bolsonaro (Republicanos), em Boa Vista-RR, e Adilson Bolsonaro (PSD), de Santa Cruz do Capibaribe-PE. No entanto, a grande maioria é anônima.
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"Bolsonaros" reais
Somente seis inscrições representam registros dos nomes reais de candidatos: Daniel Bolsonaro Vaz, Marcelo Bolsonaro, Joseane Bolsonaro, Marcos Antônio Bolsonaro, Rogéria Nantes Braga Bolsonaro e o vereador reeleito Carlos Bolsonaro. Daniel, Marcelo, Joseane e Marcos são primos distantes do presidente, segundo apuração do jornal Estadão. Daniel Bolsonaro (PSL-SP), 51 anos, tentou vaga na Câmara de Campinas pelo ex-partido do presidente. Marcelo Bolsonaro (DC), 45 anos, concorreu ao cargo de vice-prefeito em Itu-SP. Já Marcos Bolsonaro (PSL-SP), 58 anos, estreou na política disputando, sem sucesso, a prefeitura de Jaboticabal. Sem o apadrinhamento do primo presidente, amargou a última colocação das eleições na cidade, com somente 1.340 votos (4,01% dos votos válidos).
Rogéria Bolsonaro (Republicanos) é ex-mulher de Jair e mãe de Carlos. Nestas eleições, pleiteou por uma vaga na Câmara do Rio. Em 2000, a candidata chegou a enfrentar ação judicial do ex-marido, que tentou impedi-la na Justiça de usar o sobrenome Bolsonaro nas eleições. Reconciliada com o presidente, disputou este ano com o sobrenome e o apoio dos filhos, mas recebeu apenas 2.034 votos (0,08%) e não conseguiu ser eleita.
O único Bolsonaro vitorioso em 2020 foi Carlos Bolsonaro. O candidato à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro pelo Republicanos recebeu apoio significativo do pai presidente, que atuou na campanha do filho com intensidade nas redes sociais. Carlos foi o segundo vereador mais votado no estado, com 71 mil votos, atrás apenas de Tarcísio Motta (PSOL) que obteve 86.243 votos. Apesar do bom resultado nas urnas, Carlos teve desempenho inferior a 2016, quando foi o vereador mais votado do Rio, com 106.657, cerca de 36 mil votos a mais do que nas eleições deste ano.
Mapa dos "Bolsonaros"
Dos candidatos registrados sob o nome Bolsonaro, foram 23 mulheres (18 aptas a serem votadas) e 63 homens (57 aptos a serem votados). O estado que mais registrou "Bolsonaros" foi São Paulo, com 18 candidatos, seguido por Bahia, 5 candidatos, além de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com quatro candidatos cada um. O Ceará não apresentou nenhum registro de candidatura com o nome do presidente.
Candidaturas sob júdice
Ainda segundo levantamento da reportagem, uma parcela dos registros de candidatura com o nome Bolsonaro foi negada pela Justiça Eleitoral. Sete postulantes tiveram a candidatura indeferida, enquanto dois renunciaram antes das eleições, como é o caso de Adilson Bolsonaro (PSL-SC), que tentaria vaga como vereador em Biguaçu, e Daiane Bolsonaro (PSDB-RS), que seria candidata a vereadora em Canoas, ambos sem ligação com o presidente. A lista do TSE ainda conta com um pedido de candidatura não conhecido, por Fernanda Bolsonaro (PSL-SP), e uma candidata pendente em julgamento, Rosana Bolsonaro (PSL-SP), também sem conexão com Jair.

Uma das decisões judiciais que mais repercutiu antes das eleições municipais foi a que envolveu o candidato a vereador em Brusque, João Santana (PSL-SC). Sob a alcunha de "Donald Trump Bolsonaro", João foi impedido de concorrer às eleições pelo Ministério Público Eleitoral e, posteriormente, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC). A decisão foi tomada porque a Justiça entendeu que Santana não conseguiu comprovar que é conhecido por este apelido. Em entrevista à Folha de São Paulo, o candidato admitiu que a ideia se tratava de uma "estratégia de marketing para ganhar publicidade gratuita". Mesmo proibido pela Justiça Eleitoral, o curioso nome apareceu nas urnas e recebeu 107 votos na cidade (0,7% dos votos), ficando em 128º lugar na disputa de Brusque.