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Leitura para votar de peito aberto

07:33 | Out. 28, 2018
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O livro “Bolsonaro – O homem que peitou o Exército e desafia a Democracia”, de Clóvis Saint-Clair (Máquina de Livros, 192 páginas, R$ 39,90), é um presente ao eleitor de qualquer espectro político. Tanto faz se prefere Bolsomito ou Bolsonazi. A leitura provavelmente não exigirá muito mais do que uma tarde (ou manhã) de atenção. Como recompensa, chegará ao fim com a certeza de que não foi enganado ao consolidar a opinião para as eleições de outubro. A maior polêmica na política brasileira de hoje merece esse pequeno esforço.
 

Recém-lançado, o trabalho de pesquisa e redação foi feito ao longo de seis meses e não inclui nenhuma nova entrevista. Tudo o que está ali já foi publicado, visto, ouvido ou reproduzido em algum momento ao longo dos últimos 20 anos. A novidade é que foi organizado, resumido e bem contado. Ou seja, uma boa história escrita por um jornalista experiente. O momento é mais do que oportuno para uma publicação com essas características e que faz questão de não tomar partido. Nem precisa.
 

Começa no finalzinho dos anos 1960, nas matas no Sul de São Paulo, descrevendo o adolescente, apelidado de Palmito, que se oferecia como alcaguete do Exército, para rastrear e entregar Lamarca. Passa pela entrada na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde se destacou em atividades físicas e ganhou novo apelido, o de Cavalão; a ascensão na carreira militar, as primeiras transgressões disciplinares e seguidas punições, que culminariam numa aposentadoria não muito honrosa da farda. As entrevistas manifestando o descontentamento salarial foram o estopim para transformá-lo numa celebridade e o levaram a tramar um plano verdadeiramente bombástico, por pouco não posto em prática.
 

Haverá certamente leitores que prestarão mais atenção no sem-número de declarações ofensivas a gays, índios, negros e mulheres, às mostras evidentes de nepotismo, ao enriquecimento mal explicado, à suspeitíssima troca de mensagens com o filho, flagrada durante sessão na Câmara. Outros preferirão sublinhar o espírito contestatório, o poder de oratória, a defesa de interesses nacionais, a posição coerentemente conservadora, os votos contra o aumento salarial dos próprios parlamentares etc.
 

Para todos, fica bem claro que o terreno de exposição, crescimento e força de Jair Messias Bolsonaro é o enfrentamento aberto de questões polêmicas, eleitas como base do discurso. São poucas e bem escolhidas. Nesse campo, o ex-goleiro é atacante, bate forte, rápido e incansavelmente. Entra nesse ringue quem quer ou não se dá conta. William Bonner e Renata Vasconcellos entraram. Lendo “Bolsonaro – O homem que peitou o Exército e desafia a Democracia”, nenhum eleitor poderá alegar que entrou sem querer. Seja numa conversa de bar ou no novo governo em 2019.
 

 
Este é o terceiro lançamento da recém-criada Máquina de Livros. O primeiro foi “A Farra dos Guardanapos – O último baile da Era Cabral”, de Sílvio Barsetti. Voltada para o segmento de não ficção – reportagens e biografias –, a nova editora aposta no senso de oportunidade na escolha dos temas.

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