Participamos do

Enquanto houver palavra

08:04 | Out. 28, 2018
Autor O POVO
Foto do autor
O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

Caro amigo, (a esta altura da vida, já compreendo que é melhor considerá-lo assim do que brigar com você), escrevo porque, enquanto houver palavra, é preciso dizer. Quero lhe falar ainda de amor, essa força estranha e extraordinária que nos ultrapassa.

 

Você, melhor do que eu, sabe que tudo mais (ódio, mágoa) passa. Escrevo-lhe, e não à razão (nossa amiga-outro-nível, certeira, mas intransigente), por se tratar de amor e amor não se define ou se explica; é argumento por si mesmo. Pensei estar imune às sentimentalidades desta vez, caro amigo, depois de acreditar e desacreditar na esperança vencendo o medo.

 

Mas, aí, vi uma moça sertaneja e universitária escrevendo sobre a mãe (todas as vezes) solteira, feita de sol e de roça, que só tinha a dignidade pra alimentar seis filhos. E vi a Manu, que nem conheço, sorrindo e escrevendo sobre lutar como uma garota - igual minha amiga Silvinha (que cuida do Teo, do João, do Paulo e da humanidade restante) sorri, escreve, luta.

 

E vi ruas escreverem mil Marielles. E vi um menino da escola pública escrevendo que foi ver o professor-candidato-a-presidente porque tem um mesmo querer corajoso: ser doutor. Achei tudo tão bonito, que arrisco amar de novo. Precisamos do belo, você me mostra.

 
Quem diria, depois das desilusões que me causou, cá estamos, caro amigo, juntos por palavras de amor. Ainda confio em você porque, dia a dia, aprendo com você, é inevitável: você é mais sábio que eu. Então lhe pergunto, caro amigo, amar uns aos outros, como o filho daquele carpinteiro escreveu, é que é grande, não é? Todo amar é válido, não é?


 
Espero uma resposta sua, caro amigo Tempo. Até lá, continuarei escrevendo como quem ama, quase em vão.


 
Abraços daqui,

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente