Participamos do

Como as pesquisas eleitorais conseguem representar grande parte dos eleitores

Dos quase 140 milhões de votantes, apenas cerca de 3 mil são entrevistados em pesquisas nacionais
09:10 | Out. 05, 2018
Autor Rubens Rodrigues
Foto do autor
Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
[FOTO1]
A poucos dias das eleições 2018, as pesquisas têm gerado debates entre eleitores e norteado a campanha dos candidatos que estão nas ruas pedindo votos desde 16 de agosto. Para muitos eleitores, espanta o fato de amostra aparentemente pequena  representar os quase 140 milhões de votantes. E surgem dúvidas. Por que é tão difícil ser entrevistado? Dá para confiar nos resultados dos levantamentos?
  
De acordo com o Instituto Datafolha, o processo eleitoral compreende cerca de 136 milhões de brasileiros aptos a votar nas eleições nacionais - e, desse total, nem todos votam. O instituto trabalha com amostras de 2 mil ou 2,5 mil entrevistados nas pesquisas. Isso quer dizer que dentre 54.300 pessoas, apenas uma é entrevistada.
  
Dessa forma, se torna mesmo difícil conhecer alguém que já tenha sido entrevistado nessas pesquisas, embora elas aconteçam com frequência em determinados períodos. 
  
A escolha dos eleitores é feita a partir de critérios diferentes. O Ibope Inteliência, por exemplo, usa parâmetros que têm como base os dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
  
Para o Ibope, o primeiro passo é realizar a seleção probabilística dos municípios onde as entrevistas serão realizadas e dos chamados setores censitários a partir de dados do IBGE. Depois, a parcela de pessoas que serão entrevistadas é escolhida seguindo quotas de sexo, idade, grau de instrução e setor de dependência econômica. Já o Datafolha escolhe proporcionalmente de acordo com os dados do IBGE e do TSE.
  
O professor do departamento de Estatística e Matemática Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC), André Jalles, ilustra que ser escolhido para responder a uma pesquisa "é quase como ganhar na Mega Sena". Ainda assim, as chances de cada brasileiro participar são praticamente as mesmas. 
  
"O que existe de problemático ainda é que nós temos mais de cinco mil cidades com menos de 50 mil eleitores. Cidades pequenas podem conter nichos eleitorais, e quando há muitos nichos de um mesmo candidato há a possibilidade de alterar a proporção de votos na eleição", explica. 
  
Jalles afirma que o resultado de pesquisas realizadas em cidades pequenas são extrapolados - quando o resultado de uma cidade específica é estendido e passa a representar outras cidades. Em caso de eleição presidencial, também é normal mais nichos em cidades pequenas. Mas a proporção maior de nichos diferentes compensa.
  
Pesquisas são confiáveis?
As pesquisas partem da ciência estatística para chegar aos resultados apresentados ao público e, segundo o Ibope, "refletem fielmente" o que é transmitido pelos entrevistados. Há diferença entre as entrevistas realizadas em lugares públicos e nas residências. Já as feitas por telefone não sustentam a mesma credibilidade.
  
Para o Datafolha, por exemplo, é impensável realizar levantamentos por telefone. No Brasil, apenas 40% das pessoas possuem linhas telefônicas em casa, segundo o instituto. 
  
Na análise do estatístico André Jalles, o telefone é um filtro que pode atrapalhar de forma fundamental esse processo. "Há pessoas que não atendem ligações de um telefone desconhecido. Se você tem esse tipo de comportamento, nunca vai ser representado", diz. 
  
"Essas pessoas podem ter comportamentos eleitorais mais parecidos, assim a pesquisa deixa de registrar esse comportamento. Isso pode estar vinculado ao fato desse grupo votar mais para um candidato específico", analisa. "O critério básico para se construir a representatividade é ter um plano amostral que gere para cada brasileiro a mesma chance dele aparecer na pesquisa, mesmo que seja pequena", pondera Jalles.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente