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Carta para minha mãe

07:51 | Out. 28, 2018
Autor Tânia Alves
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Tânia Alves Coordenadora do Impresso no OPOVO
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Tipo Notícia
Querida mamãe,


 
Escrevo para a senhora, neste domingo, pois existe dia que a gente precisa de colo de mãe. Traço estas linhas, mesmo sabendo que, talvez, daqui a dois dias a senhora não se lembre de mais nada.


 
Ultimamente tenho encontrado muitas angústias por onde ando. Por esses dias, estive com um amigo que vive em solitária caminhada no Interior. Ele encontra respostas em textos que pinça aqui ou ali e que falam de como a gente ainda precisa aprender por aqui. O outro diz que tudo que está acontecendo nesta temporada, de bom e ruim, já existia. Desnuda o ser humano com sua escuridão que, às vezes, se faz luz. Preciso acreditar mais nisto.


 
Li sobre o medo que está paralisando, sobre mágoas de parentes que se fecham nas respostas fáceis dos memes que fazem rir, mas nunca levam a pensar. Tenho procurado alento, mamãe, em livros que falam de amor, em textos que tentam disparar o bem.


 
Por estes dias, em busca de luz, tenho procurado escrever mais nas redes sociais. A esperança me veio após encontrar por lá a mensagem de que a energia que pairava sobre nós precisava ser dissipada, coisa que os de fora já tinham enxergado. Escrevi cartas ao papai, o que deixou a senhora com ciúmes. Falei de família, felicidade, prece e fé. Tentei contar, especialmente, de amor. Tentei encontrar forças após perceber que mesmo eu, que me considerava feita para a compaixão, havia perdido a paciência e entrado na onda do confronto, dos rompimentos da falta de empatia. Fiquei mal. Teria deixado de amar?


 
Depois descobri, também em leituras por estes dias, que amar os inimigos não é ter afeição natural por eles. É abdicar do ódio, do rancor, da vingança e perdoá-los incondicionalmente. Ao perdoá-los, não estamos impondo obstáculo à reconciliação. Agindo assim, mamãe, acho que a gente ganha. Mesmo perdendo, a gente ganha. Entendendo isso, fica mais fácil enfrentar o que está por vir...


 
Um beijo


 
Da filha.

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