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Economistas questionam viabilidade da proposta de Ciro que prevê retirar nomes do SPC

Economista diz que o refinanciamento da dívida pode gerar ainda mais prejuízo aos bancos e ao País. "É o princípio da inflação"
16:55 | Ago. 20, 2018
Autor Lucas Braga
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Lucas Braga Repórter do O POVO Online
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Tipo Notícia
Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência, tem reforçado proposta controversa de reverter a negativação de nomes no mercado. Ele promete limpar nomes a partir do investimento público no refinanciamento das dívidas. O POVO Online consultou economistas. Eles duvidam da viabilidade e dos efeitos da medida.
 
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O presidenciável explicou em vídeo, em sua página nas redes sociais, como pretende cumprir a promessa de tirar o nome dos brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Acrescentou que os devedores terão ainda três meses de carência para começar a pagar o empréstimo que fariam nos bancos para quitar as dívidas.
 
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Na peça publicitária, ele afirma ainda que, em média, os brasileiros devem R$ 4.200. Com o desconto do programa prometido, essa dívida pode cair para até R$ 1.200.
  
Ele afirmou que irá negociar os débitos dos endividados diretamente com as instituições financeiras. "Aí vou tirar os juros de 486% e vou cobrar de 10 a 12%", acrescentou, mencionando que as transações poderão ser feitas através de bancos públicos
  
"Estou preparando um projeto só com Caixa Econômica, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Basa, Banrisul. Vai dar certo", prometeu
  
A proposta de Ciro foi alvo de ataques feitos sobretudo por Persio Arida, assessor econômico do tucano Geraldo Alckmin (PSDB), que disparou contra o que chamou de "promessas irresponsáveis". Ele estimou que a proposta de Ciro teria um impacto superior a R$ 60 bilhões nas contas públicas. 
  
"Motor"
Para o economista José Irineu de Carvalho, a medida só faz sentido se não visar ao consumo. "Algumas pessoas realmente têm dificuldade para pagar. Mas não tem sentido limpar o nome para gastar e sujar novamente", opina. 
  
  
José Irineu completa que o refinanciamento da dívida pode gerar ainda mais prejuízo aos bancos e ao País. "É o princípio da inflação", adverte.
 
Mas a proposta de Ciro justamente prevê reaquecimento da economia. "Vou ajudar a limpar o nome das pessoas não é porque sou bonzinho. É porque meu projeto prevê que um dos motores da economia é o consumo das famílias", disse Ciro em transmissão ao vivo no Facebook.
  
Cálculos
Para o economista Érico Veras Marques, pesquisador da área de finanças comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), a viabilidade da proposta ainda é uma dúvida. "Tem que ver os aspectos legais disso, a viabilidade econômica e política. Levar o endividamento para o setor público teria custo alto. É preciso ir para a origem do problema", ratifica, ponderando as causas da inadimplência, como a recessão e o desemprego.
  
"Os bancos negociariam empréstimos a essas pessoas, tem certo sentido. Mas no Refis (refinanciamento de dívidas dos contribuintes jurídicos), há renúncia: o governo deixa de receber. É uma proposta de eleição, acho que ele se arrependeu de dizer isso, virou motivo de piada", finaliza Érico.
  
Viabilidade
Já o candidato afirma que ouve especialistas há mais de um ano. Em comício na última quinta-feira, 16, ele explicou a jornalistas que a proposta envolve leilão. "Financeiras, bancos e empresas de cartão de crédito e de crediários que me derem o maior desconto serão as primeiras a serem refinanciadas. E pega os mais pobres de baixo para cima e empresta pelo Banco do Brasil e pela Caixa em até 36 meses de prazo". O pedetista acredita que o desconto nas dívidas pode chegar até 90%.
  
 
De acordo com o presidenciável, a dívida média do brasileiro está em 4.200. Com redução de juros, a dívida média seria reduzida a R$ 1.400. "Se eu picar as prestações em 36 meses, ele vai pagar prestação ao redor de R$ 40 por mês e vai fazer ele a sair da humilhação, e ajudar o país a voltar a turbinar a economia" argumentou ainda no comício do dia 16.
  
Ouvido pela equipe de Ciro em peça publicitária, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas, concorda. Ele menciona exemplos de reestruturação de dívidas como a feita na Alemanha, após a II Guerra Mundial. "Em 1948, houve reforma monetária que fez isso. É forma fundamental de criar condições monetárias para que as pessoas possam gastar".
 

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