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Mulher, solta tua voz!

10:54 | Jun. 27, 2018
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[FOTO1]A cena é rotineira: uma mulher tem a fala interrompida reiteradas vezes a ponto de atrapalhar seu raciocínio, ficar desestabilizada emocionalmente e terminar por não se expressar como gostaria. De tão comum, o ato de interromper a fala de uma mulher ganhou nome próprio na literatura feminista. “Manterrupting” é o termo em inglês que sintetiza o hábito desrespeitoso que muitos homens têm de não permitir a conclusão da fala de uma mulher durante um debate.
 
Se fora dos holofotes a prática já gera indignação, é inquestionável a carga simbólica do manterrupting quando uma pré candidata à Presidência da República não consegue concluir uma fala durante uma entrevista, lugar onde supostamente foi convidada para explanar ideias. Falo do episódio ocorrido com Manuela D’Ávila, pré candidata do Partido Comunista do Brasil à presidência, que foi interrompida sessenta e duas vezes durante  o último programa Roda Viva da TV Cultura. Se interromper é praxe de entrevistas acaloradas em períodos eleitorais, há de se perceber o excesso a qual Manuela foi submetida. Enquanto Ciro Gomes foi interrompido oito vezes e Guilherme Boulos doze, ela foi interrompida mais do que o triplo de vezes dos dois outros pré candidatos juntos. 
 
O episódio é um espaço de reflexão sobre o silenciamento imposto às mulheres diuturnamente das mais variadas formas. Se nos idos séculos XVIII e XIV era comum o silêncio das mulheres, que eram relegadas à cozinha e outros espaços de serviço silente, os novos tempos trouxeram a revolução feminina e a conquista das mulheres dos ambientes de fala. No entanto, apesar dos avanços, as mulheres ainda lutam para serem ouvidas. Na segunda-feira foi Manuela, mas em outros dias e situações também são Marias, Saras, Carolinas e Joices que são limadas de ambientes de debate e impedidas de tornarem públicos seus posicionamentos. Em uma esfera pública dominada por homens, as mulheres que ousam ocupar esses zonas de poder são habitualmente desacreditadas, inferiorizadas e desautorizadas. Silenciar a fala das mulheres é também uma forma de violência. A quem interessa calar nossas ideias?
 
Dentro de uma luta pela igualdade, as mulheres buscam acabar com o manterrupting mantendo um posicionamento firme ante às intimidações. Foi o que fez a pré candidata durante a entrevista. Ousar subverter o status quo que naturaliza a predominância masculina em posições de poder na esfera pública e impõe às mulheres o silêncio e o descrédito é tarefa de todas nós. Que a firmeza de Manuela ante a uma bancada de entrevistadores desrespeitosa e machista nos seja exemplo para que nunca nos calemos em situações de intimidação ou ameaço. Mulher, solta tua voz!
 
Marina Solon
Editora Assistente da Editora Dummar

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