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Entenda a polêmica sobre a entrevista de Manuela D'Ávila ao Roda Viva

A deputada estadual diz que o episódio "violentamente hostil" no Roda Viva não é exceção
18:47 | Jun. 27, 2018
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia
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Pré-candidata à presidência da República nas eleições de outubro próximo, a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) foi entrevistada no programa Roda Viva, nessa segunda-feira, 25. As interrupções feitas pelos entrevistadores causaram incômodos e geraram denúncias de machismo e misoginia.  
  
No artigo Mulher, solta tua voz!, publicado nesta quarta-feira, 27, a jornalista Marina Solon no O POVO Online, lembra que o ato de interromper a fala de uma mulher ganhou nome próprio na literatura feminista: "Manterrupting". O termo é a junção das palavras em inglês man (homem) e interrupting (interrupção). 
  
Na bancada de entrevistadores: Vera Magalhães, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e comentarista da Rádio Jovem Pan; Frederico d’Avila, diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB); Letícia Casado, jornalista da Folha de S.Paulo em Brasília; João Gabriel de Lima, coordenador de jornalismo do Insper e colunista da revista Exame; e Joel Pinheiro da Fonseca, economista e filósofo.
  
De acordo com a Secretaria Nacional de Mulheres do PT (SNMPT), a entrevista de 70 minutos rendeu 62 interrupções. O programa está disponível, na íntegra, no YouTube.
  
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"Deixei te falar bastante mas eu queria retomar a palavra como entrevistada, se tu permitires, pode ser?", disparou em um dos momentos a Frederico d'Avila - um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro (PSL). "Eu posso terminar alguma frase?", questionou ao economista Joel Pinheiro após diversas interrupções. "Vocês gostam mais de falar do que eu. É fantástico".
  
Em nota enviada ao O POVO Online, a deputada gaúcha destaca que, o fato de um programa de TV com alcance tê-la entrevistado daquele modo fez com que muitas pessoas ficassem indignadas com o tratamento. 
  
"Agradeço a solidariedade e os elogios por ter, em ambiente tão violentamente hostil, apresentado propostas consistentes e lutado o bom combate", diz. "É revoltante mesmo o que houve. Mas é assim todo dia com as mulheres, e não só na política: no trabalho, na universidade, em casa". 
  
"Por isso não quero que pensem e tratem o que aconteceu como uma coisa excepcional", pontua. "Até porque a palavra vem de exceção, né? E o que aconteceu é a regra é não a exceção! É assim que nós mulheres fazemos nossa luta e vivemos nossa vida todo dia".
  
Tom agressivo teria pautado discussão
  
Presidente nacional do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos diz que o programa representou a síntese do anticomunismo e com o fato da entrevistada ser mulher. 
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"Juntaram esses dois preconceitos em um tom agressivo, provocativo e ironico", diz Luciana Santos. "Manuela não aceitou provocação, mas tem uma questão misógina, da cultura machista, muito forte". Já o presidente estadual do partido, Franciné Cunha, avalia que o programa "foi montado para massacar" Manuela. 
  
O episódio também foi avaliado como "misógino e revoltante" pela presidente estadual da União Brasileria de Mulheres (UBM), Francileuda Soares. "Não foi uma entrevista, foi uma sabatina. Ela não teve oportunidade de expressar o que os movimentos têm a contribuir para a sociedade e o mundo", afirma Francileuda, que também é membro do Conselho Municipal de Mulheres de Fortaleza. 
  
Até a ex-presidente Dilma Rousseff se solidarizou à deputada, afirmando que D'ávila foi alvo de ataques machistas e misóginos. "Foi interrompida dezenas de vezes para que não pudesse concluir as respostas. Um chefe de campanha de Bolsonaro foi convocado para insultá-la. Mas Manuela foi corajosa e firme. Saiu do programa engrandecida, como política e como mulher".
  
"Violência política sexista"
  
Professora do departamento de Ciências Políticas e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher, da Universidade Federal de Minas Gerais, Marlise Mattos publicou vídeo em que discute o episódio.
  
Ela classificou a entrevista como "grotesca" e afirmou se tratar de um caso de "violência política sexista". "É uma violência que tem sido recorrente e tem alcançado níveis assustadores no Brasil", diz. Dentre os fenômenos que caracterizam essa afirmativa estão as inúmeras interrupções e a "tentativa de manipulá-la psicologicamente para tentar desestabilizá-la", lista. "Pior é enxergar tentativas de repúdio, de rechaço à própria figura da Manuela. A gente viu uma exposição de argumentos machistas enraizadamente patriarcais de homens e mulheres, o que é ainda mais lamentável". 
  
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O que dizem os entrevistadores 
 
No Twitter, a jornalista Vera Magalhães expôs, ao seu ver, que "não houve machismo na sabatina". Ainda assim, declarou ser discutível a escolha de um assessor de um candidato para inquirir um adversário, fazendo referência a Frederico D'Avila.
  
"Manuela foi questionada sobre aspectos políticos, ideológicos e econômicos de sua candidatura e de seu partido. Foi interrompida e interrompeu", disse. "Foi irônica e, por vezes, inquirida em tom irônico. Foi questionada se achava que foi alvo de machismo de Lula – e condescendeu".
  
"Fiz entrevistas recentemente com Ciro (Gomes), (Guilherme) Boulos, (Jair) Bolsonaro e (Geraldo) Alckmin. Todos se queixaram de ser interrompidos. Com Ciro virou um debate. Mas diante de uma mulher, Manuela, a interrupção vira 'manterruption'", apontou no Twitter. 
  
Em vídeo no YouTube, Joel Pinheiro da Fonseca comentou que "é normal um político não se posicionar, tentar agradar a todo mundo e não se comprometer com uma resposta" e questionou se a candidatura de Manuela d'Avila é "um projeto viável ou é só uma isca pra atrair um certo tipo de eleitor pra uma outra candidatura". "É uma candidatura bastante divisível, que aposta na polarização do Brasil. E como um País como o nosso, é uma escolha difícil".
 
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