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Entenda o caso Banestado, ponto de partida da série "O Mecanismo", da Netflix

Investigações revelaram o maior esquema de corrupção em operação no Brasil durante a década de 1990
15:20 | Mar. 28, 2018
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Tipo Notícia
[FOTO1]Esquema de corrupção envolvendo empresários, políticos e doleiros para o envio de dinheiro ao Exterior, tudo isso investigado pelo juiz federal Sérgio Moro. O cenário, que parece ser da Lava Jato, descreve o escândalo do Banestado, descoberto na década de 1990. À época, o caso se revelou como um dos maiores planos criminosos já montados no País. E é relembrado agora como ponto de partida da nova série de José Padilha para a Netflix, O mecanismo

[SAIBAMAIS]
 
Um dos personagens principais dos dois esquemas é o mesmo: o doleiro Alberto Youssef. Ele era o responsável por enviar o dinheiro obtido de forma ilegal a outros países usando dados de "laranjas". O principal destino dos recursos era contas na agência do Banco do Estado do Paraná (Banestado) em Nova York.
 
 
Os montantes, estimados na casa dos bilhões de dólares, foram transferidos a partir de 1996, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), segundo as investigações. Contudo, na série O Mecanismo, o caso é mostrado a partir de 2003, no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
 
 
Investigações
 
 
À época do governo petista, foi instalada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo. Em um ano e meio de investigações, o relatório indicou o indiciamento de 91 pessoas por crimes contra o sistema financeiro, sonegação, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa. 


 
Entre os suspeitos, Gustavo Franco, presidente do Banco Central no governo tucano, e Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, e Samuel e Michel Klein, donos das Casas Bahia. Tentando desbaratar o esquema, o Ministério Público denunciou ainda o senador Jorge Bornhausen, à época presidente do PFL (atual DEM). 


 
Ao longo das investigações, foi apontado envolvimento do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, conhecido como Toninho da Barcelona, além dos ex-presidentes do Banestado Domingos de Tarço Murta Ramalho e Manoel Campinha Garcia Cid. Foram denunciados também o ex-presidente do Conselho do Banco do Estado do Paraná e secretário de Estado de Fazenda do Paraná, Giovani Gionédis, e o ex-secretário de Estado da Fazenda, Miguel Salomão. 


 
[FOTO2]O esquema


 
Além de Youssef, outros doleiros também operavam as contas internacionais. Eles enviavam recursos por meio de contas CC-5 (nas quais empresas multinacionais podem fazer transferências para outro país). Quando o dinheiro chegava aos Estados Unidos (EUA), eles movimentavam os valores entre contas americanas. Em seguida, enviavam a paraísos fiscais, para contas administradas pelos proprietários dos valores, mas registradas em nomes fantasias. 


 
Conforme os investigadores, entre 1996 e 1997, foram mais de 90 contas do tipo CC-5 abertas em nomes de laranjas nas agências do Banestado em Foz do Iguaçu. Ao todo, foram analisadas movimentações na ordem de R$ 28 bilhões, dos quais R$ 24 bi passaram por contas CC-5. Desse montante, R$ 2,45 bilhões foram comprovadamente transações envolvendo recursos obtidos de maneira ilegal. 


 
Cerca de 100 pessoas foram condenadas pelo escândalo. Políticos de projeção nacional e empresários não chegaram a ser presos. Alguns fecharam acordos de delação, outros foram absolvidos. Há ainda casos como o de funcionários do Banestado. Dos 14 julgados e com penas determinadas pelo juiz Sérgio Moro, a maioria foi beneficiada porque os crimes prescreveram


 
Em um de seus despachos, em 2016, o magistrado chegou a reclamar da sequência de recursos que impediram a execução das penas antes delas serem prescritas. "Há algo de errado em um sistema criminal que leva tanto tempo para produzir uma condenação definitiva", escreveu no documento em que manda executar pena de prisão para Aldo de Almeida Júnior, ex-funcionário do banco.

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