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Primeira aula sobre "golpe de 2016" na UFC tem críticas a Moro e a intervenções nos estados

Todos os 52 assentos do auditório da História, no Centro de Humanidades II da UFC, foram ocupados por estudantes, com diversos outros sentados no chão ou buscando cadeiras de salas próximas
21:59 | Mar. 08, 2018
Autor Carlos Mazza
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Carlos Mazza Repórter de Jornalismo de Dados
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Tipo Notícia

[FOTO1]Começou nesta quinta-feira, 8, a disciplina da Universidade Federal do Ceará (UFC) sobre o "golpe de 2016". Ofertada pelo curso de História, a turma "Tópicos Especiais em História IV" teve primeira aula marcada por, além de muitos ataques ao "ilegítimo governo" de Michel Temer (PMDB), críticas ao juiz Sérgio Moro e a intervenções militares nos estados.

 

"O golpe, que começou com o Judiciário no centro, agora vai se desdobrando e já transita para o militarismo", disse o professor Newton Albuquerque, do curso de Direito da UFC. Um dos 27 juristas que assinam livro criticando condenação do ex-presidente Lula (PT) por Moro, ele defendeu tese de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi, sim, um golpe de Estado.

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[SAIBAMAIS]

"Há uma forte narrativa para dizer que não houve golpe, que foi legal. Mas não conheço um golpe que se apresente como tal. Golpes usam máscaras", disse. "Antigamente vinha pelas fardas, pelos tanques, pela violência explícita. Hoje vem com lantejoulas jurídicas". O professor criticou “atuação de exceção” de Moro na Lava Jato. "É o direito do nazismo puro".

Reproduzindo curso semelhante anunciado pela Universidade de Brasília (UnB) e que gerou grande repercussão, a disciplina sobre o golpe foi disputada por alunos na UFC e preencheu rapidamente todas as 50 vagas disponíveis. O curso terá 64 horas de duração com 16 encontros, sempre das 18 às 22 horas das quintas-feiras, até junho.

 

Após o anúncio da disciplina na UnB, o Ministério da Educação anunciou que iria acionar a Advocacia-Geral da União (AGU), o Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF) para que investiguem "improbidade administrativa" cometida ao ministrar a disciplina.

 

Sobre a situação da UnB, o ministro Mendonça Filho disse lamentar "que uma instituição respeitada e importante adote uma prática de apropriação do bem público para promoção de pensamentos político-partidários". Após a polêmica, a iniciativa se difundiu pelo Brasil.

Procura

Na aula desta quinta-feira, todos os 52 assentos do auditório da História, no Centro de Humanidades II da UFC, foram ocupados por alunos, com diversos outros sentados no chão ou buscando cadeiras de salas próximas. A maioria deles é dos cursos de História, Direito e Ciências Sociais, mas até alunos da Farmácia estão matriculados na disciplina.


De acordo com o programa da disciplina, ministrada por professores de História, Direito e Economia, o conteúdo será dividido em quatro unidades: uma com uma "leitura interdisciplinar sobre o golpe", uma sobre "propaganda, censura e tortura no Brasil", uma sobre “intelectuais e governos autoritários no Brasil” e outra sobre "lutas sociais pela democracia no tempo".

Uma das organizadoras, a professora Adelaide Gonçalves (História) destacou a importância da disciplina e defendeu o papel da universidade no debate. "Não constitui qualquer surpresa o curso de História fazer o debate público sobre o que passa pelo País", diz. "Nós temos claro o que significou o golpe de 1964, vimos a perseguição contra professores e intelectuais".

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