Para líderes, participação do Planalto evitaria racha na sucessão de Cunha
Apesar do posicionamento público de que não pode haver interferência do Executivo numa possível disputa no Legislativo, a sinalização de que poderá haver mais de cinco nomes na briga é vista por representantes da base aliada como um elemento que irá gerar instabilidade à governabilidade do presidente em exercício, Michel Temer, na Casa.
"O presidente Temer precisa neste início conturbado de governo trabalhar pela união da base dele", afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF). Ele é um dos cotados para ser indicado ao comando da Câmara, caso o presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixe o cargo.
"Não me preparei para isso, vejo neste momento perfis mais experientes para essa função", esquivou-se o deputado em conversa com a reportagem, realizada no Salão Verde, diante da galeria dos presidentes da Câmara. "Olha aí na parede a exceção do Severino Cavalcanti, todos os presidentes da Casa eram afinados com o presidente da República", ressaltou, sinalizando apoiar a participação do Palácio na escolha do sucessor de Cunha.
Integrante do chamado 'Centrão' (composto por PSD, PR, PP e PTB), o líder do PR, Aelton Freitas (MG), vê como "natural" a interferência do Palácio na disputa pelo comando da Casa. "Eu acho que quando o Eduardo Cunha descer da cadeira, o Palácio entra. Até lá, o governo não vai interferir. Mas depois é natural que entre. Todo Executivo quer ter um Legislativo ao lado, para a manutenção da governabilidade", considerou o deputado.
O partido irá apoiar o nome do atual segundo vice-presidente da Câmara, Giacobo (PR-PR), em caso de eleições para a presidência da Casa. Outro deputado dentro da bancada que também demonstrou interesse na disputa é Milton Monte (SP). Uma reunião da Executiva Nacional do PR, prevista para esta sexta-feira, 24, deverá tratar do tema. "Vou conversar com o Milton hoje, amanhã e depois. Não pode ter mais de um candidato, se não implode a bancada e a base", ressaltou Freitas.
Outro que não vê como um problema a possibilidade de o governo entrar na disputa pelo comando da Câmara é o líder do PP, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). "O Palácio tem que entrar. Não pode ter vários candidatos. Temos que ter unidade, se não vamos ter problemas", considerou.
Próximo a Michel Temer, o líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (SP), é um dos poucos a considerar que não deve haver, neste momento, uma participação direta do governo nas discussões sobre a sucessão de Cunha. "Acho que uma interferência do Palácio na Casa não é necessária. E não é momento", ressaltou. Ele, porém, adota o mesmo discurso de que é preciso encontrar um consenso na escolha do próximo presidente para que a disputa não gere problemas de governabilidade. "Acho que o mais importante, se houver essa disputa pela sucessão, que ela ocorra de maneira harmoniosa. Acho que essa disputa não é boa para o Parlamento. Precisamos garantir a estabilidade da Casa para que possamos votar os projetos que são importantes para o País", defendeu o peemedebista.
Licença
Apesar de ser considerado como "fundamental" por parte dos líderes da base para a definição de um nome para um possível mandato tampão da presidência da Câmara, o Palácio do Planalto ainda tem se esquivado de tratar abertamente o tema. Interlocutores de Temer têm fugido das discussões enquanto Cunha permanece na cadeira.
O tema sobre a sucessão do peemedebista foi posto na reunião realizada na manhã de ontem pelos líderes do 'Centrão' e representantes do PSDB e DEM. Na ocasião, também estava presente o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Logo que o assunto foi posto em pauta, Geddel interrompeu seus interlocutores, pediu licença, e justificou que não gostaria de participar do debate. Antes de deixar o encontro com os parlamentares, realizado na liderança do governo da Câmara, Geddel deixou um CD, com cada um dos líderes, do qual constava um raio X da liberação das emendas realizadas até agora.
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