Léo Pinheiro fez lobby com Cunha para Haddad; prefeito nega irregularidade
A ação conjunta deu certo e os dois comemoram, por meio de mensagem de texto de celular. "Aprovamos", afirmou Cunha. "Graças a você. Te devo mais esta!", disse Pinheiro. Não há conversas com o prefeito de São Paulo, mas ele confirmou à reportagem ter pedido a ajuda para aprovar o projeto. "Falei com mais de 100 pessoas. Era de interesse da cidade", disse Haddad. "Não tem irregularidade".
O material faz parte de um conjunto de centenas de mensagens trocadas pelo empreiteiro e o presidente da Câmara, analisadas pela Procuradoria-Geral da República. O prefeito é citado nominalmente tanto por Cunha quanto por Pinheiro. Já condenado a 16 anos de reclusão por crimes como formação de quadrilha e corrupção ativa, o empreiteiro demonstra atuar como ponte entre Haddad e Cunha.
A aprovação do projeto de rolagem da dívida dos Estados e dos municípios aconteceu no segundo semestre de 2013, logo após a série de protestos por melhores serviços públicos. A Prefeitura de São Paulo enfrentava enormes problemas financeiros e o prefeito Fernando Haddad viu-se obrigado a cancelar o aumento da passagem de ônibus no momento em que precisava melhorar o caixa do município.
Na ocasião, Cunha era líder do PMDB na Câmara e atuou como relator do projeto de lei complementar da rolagem da dívida na Comissão de Finanças e Tributação. Segundo os procuradores da Lava Jato, a primeira conversa com Pinheiro sobre Haddad se dá em 12 de agosto de 2013. O empreiteiro e o deputado claramente trocam detalhes sobre o texto da proposta.
Pinheiro trata o prefeito por "Fernando".
"Ainda hoje mando o texto que combinamos. A minuta do Fernando você me manda", diz Pinheiro. Por um momento, o deputado demonstra desconhecer a quem exatamente o empreiteiro se referia e questiona: "Qual do Fernando?" O empreiteiro ressalta: "Haddad".
Em outra mensagem, de 28 de agosto, Cunha pede a Pinheiro que oriente o prefeito a falar com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, que no começo da tramitação da proposta havia se posicionado contra o pleito do prefeito. "Agora tem de por Haddad para falar com Mantega", diz o peemedebista.
As negociações se arrastaram pelo mês de setembro. Ao fim, em 23 de outubro, a proposta de interesse de Haddad passou na Câmara. Além da renegociação da dívida, a PGR aponta a atuação de Cunha em favor da OAS em ao menos 11 medidas provisórias, em troca de "vantagens indevidas", especialmente doações eleitorais para o próprio deputado e seus aliados. Documentos da investigação dizem que empreiteiras chegavam a redigir os projetos.
Defesa
O prefeito Fernando Haddad rechaçou ter havido qualquer irregularidade nas negociações para a aprovação do projeto da rolagem da dívida dos Estados e dos municípios.
Ele disse que chegou ao empreiteiro Léo Pinheiro por intermédio da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), entidade que integra o Conselho da Cidade, composto lideranças políticas, empresariais e de entidade de classe.
"O pessoal da Apeop me falou que o Léo Pinheiro era uma pessoa que gozava da confiança do Eduardo Cunha, relator da proposta", disse Haddad. O prefeito também detalhou que se encontrou com Pinheiro na Apeop num evento. "Eu falei: 'Léo, estou sabendo que você tem uma amizade com o Eduardo. Faça chegar a ele uma emenda sem a qual o projeto se for aprovado não vai resolver o problema dos municípios'".
Haddad disse que falou também com Eduardo Cunha. Ele ressaltou que fez "uma grande mobilização" com várias lideranças da cidade para aprovar a lei. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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