Defesa de Dirceu diz que delator não tem credibilidade
Diante das inúmeras e contraditórias versões apresentadas por Fernando Moura, as quais, sem sombra de dúvidas, demonstram não ter o acusado credibilidade para ser ouvido como colaborador da Justiça, requer-se: (i) Sejam desentranhados dos autos os documentos acostados nos eventos 660, 661 e 662, os quais foram colhidos em absoluta inobservância dos princÃpios do contraditório e da ampla defesa; e, (ii) Seja indeferido o pedido ministerial no sentido de que o colaborador Fernando Moura seja novamente interrogado nestes autos, haja vista que a produção da referida prova se mostra inócua diante do quanto acima ponderado", sustentou a defesa.
Na noite da quinta-feira, 28, a Procuradoria requereu a Moro que ordene novo interrogatório de Moura em razão de 'flagrante contradiçãoÂ? no depoimento que ele prestou na sexta-feira, 22, e um trecho de sua colaboração premiada, firmada em agosto de 2015. O pedido foi subscrito por onze procuradores da República que compõem a força-tarefa da Lava Jato. Eles destacam 'a prova falsa produzida por Fernando Moura em juÃzo'.
Nesta quinta, Moura foi ouvido pelos procuradores e confessou 'ter mentidoÂ? para Moro. Com isso, ele tenta salvar os benefÃcios que poderia ter como colaborador da Lava Jato. Os procuradores entregaram ao juiz o depoimento gravado do empresário.
Em documento de oito páginas, os advogados de Dirceu questionam 'valor probatório do depoimento de um colaborador que apresentou uma versão num primeiro momento, a desmentiu em JuÃzo e diante do contraditório e, agora, sem apresentar uma justificativa convincente para tanto, tentou apresentar uma terceira versão, mas, diante dos questionamentos insistentes do Procurador e da possibilidade de perder todos os benefÃcios do acordo de colaboração celebrado, decidiu ratificar suas primeiras declarações'.
O trecho dos relatos de Moura que irritou os procuradores é relativo ao motivo de sua saÃda do PaÃs, em 2005, supostamente por sugestão do ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu - réu e preso da Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na delação que firmou para se ver livre da prisão, o empresário afirmou em agosto de 2015 que 'resolveu se mudar para Paris após receber a 'dica' de José Dirceu para 'cair fora'.
Na sexta-feira passada, diante do juiz Sérgio Moro, em audiência formal no processo em que também é réu, Fernando Moura apresentou uma versão diferente. O juiz perguntou: "O sr mencionou que na época do Mensalão o deixou o paÃs por qual motivo?Â? O delator respondeu: "Eu deixei o pa Â? ai nessa declaração, até ai que depois que eu assinei que eu fui ler, eu disse que foi que o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso. Eu, eu saÃ, porque saiu uma reportagem minha na Veja, em março de 2005."
Sérgio Moro lembrou ao empresário que na delação ele deu aquela versão, atribuindo a Dirceu a ideia de deixar o PaÃs. "Falei isso?", questionou Moura. "Falou", disse Moro. "Assinei isso?", perguntou o empresário, rindo. "Devem ter preenchido um pouquinho mais do que eu tinha falado. Mas se eu falei, eu concordo."
"Não, não é assim que a coisa funciona", repreendeu Moro.
"Se eu falo e depois é colocado no papel, eu nem leio. Eu até pergunto para o advogado, 'é isso aqui?'. Falou: 'é'", afirmou.
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