Relatório da Kroll aponta 56 contas suspeitas de alvos da Lava Jato
O documento produzido pela Kroll também levanta suspeitas de que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato, possa manter contas no Uruguai. A Kroll, contudo, não repassou aos parlamentares números de contas ou quais as propriedades e empresas em nome dos alvos selecionados pela CPI para a devassa.
Para isso, cobrava da CPI a assinatura de um novo contrato que ao final, segundo integrantes, poderia chegar a R$ 10 milhões. Para apenas levantar as suspeitas contra os alvos, sem qualquer comprovação de veracidade, a empresa cobrou e a Câmara aceitou pagar R$ 1,18 milhão. Sem acordo com os deputados, a Kroll anunciou nesta quinta-feira, 13, em nota, que não iria continuar os trabalhos. Dessa forma, os deputados terão apenas um conjunto de suspeitas que custaram aos cofres públicos mais de R$ 1 milhão.
A lista de devassados pela Kroll a pedido da CPI inclui outros delatores do esquema de corrupção da Petrobras, como o lobista Julio Camargo, que acusou Cunha de receber propina de US$ 5 milhões em seu depoimento, e até mesmo Stael Fernanda Janene, viúva do ex-deputado José Janene (PP-PR). E ainda: Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobrás), Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás), Augusto Mendonça (ex-dirigente da Toyo Setal), Eduardo Leite (ex-diretor vice-presidente da Camargo Corrêa), Dalton Avancini (ex-presidente da Camargo Corrêa), Julio Faerman (representante da SBM Offshore no Brasil) e Ricardo Pessoa (empreiteiro da UTC). Segundo integrantes da CPI, a Kroll levantou suspeitas contra todos.
Os nomes dos investigados pela Kroll vinham sendo mantidos em sigilo pelo presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), seu aliado político há dois meses. Ontem, contudo, Motta decidiu compartilhar a relação com os demais membros da CPI numa tentativa de renovar o contrato com a Kroll. Eduardo Cunha não comentou o vazamento da lista e negou ter conhecimento prévio dos alvos.
Interesses
Motta atribuiu a desistência a "falsas ilações" e "especulações" na imprensa. Para um parlamentar da CPI, a imagem "ficou ruim" para a Kroll pois "fica como se tivessem prestado serviços a meliantes", afirmou.
Deputados levantaram dúvidas sobre a postura da Kroll. "A Câmara gasta R$ 1 milhão com a empresa, que pouco acrescentou aos trabalhos de apuração do colegiado e, repentinamente, encerra as atividades, deixando o colegiado a ver navios", disse a deputada Eliziane Gama (PPS-MA).
O peemedebista disse não considerar que o trabalho tenha sido perdido, mas afirmou que ainda precisará pensar no que fazer. O material levantado pela Kroll deve ser compartilhado com o Ministério Público e com a Operação Lava Jato.