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Falcão: Queremos inflação no centro da meta sem arrocho

15:40 | Ago. 06, 2014
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A corrida presidencial deste ano promete ser uma das mais acirradas e competitivas da história. Neste clima que já permeia as campanhas, o presidente nacional do PT e coordenador-geral da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, Rui Falcão, garante que seu partido está pronto para enfrentar a oposição em qualquer debate, da

corrupção à economia.

Em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, o dirigente rechaça um dos argumentos usados pela oposição de que a economia será o calcanhar de Aquiles da campanha de Dilma Rousseff e diz que, se a presidente enfrenta resistência de parte do mercado financeiro, no mercado mais amplo do País, que é o consumidor, o PT tem boa aprovação. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Broadcast Político - A economia vai ser o calcanhar de Aquiles da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff?

Rui Falcão - Não concordo. O debate principal será a disputa de projeto de País. A oposição (o tucano Aécio Neves) tem como principal formulador o Armínio Fraga (ex-presidente do BC) e como ícone o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou seja, um modelo de País difícil de expor porque, ao fazer isso, o candidato vai ter de dizer que realmente terá de impor medidas impopulares.

BP - Qual o tema mais sensível para a campanha neste momento: a inflação em alta, o baixo crescimento ou a queda no emprego?

Falcão - É difícil falar em desemprego quando nós geramos 20 milhões de novos postos com carteira assinada - agora a meta é qualificar essa mão de obra. Sobre a inflação, queremos convergir para o centro da meta (4,5%), mas de forma gradual, de forma a evitar arrocho ou desemprego. E nesses 12 anos de governo conseguimos manter o que consideramos

fatores essenciais para o crescimento, que é emprego, distribuição de renda e salário. Isso é o que conta para a maioria da população. E vamos lembrar que o FHC entregou o País com 12,5% de inflação e a média de sua gestão era de 10%.

BP - Qual a sua avaliação sobre as críticas de que o governo Dilma destruiu os pilares macroeconômicos?

Falcão - O câmbio está totalmente bem administrado. Temos uma economia que não é mais vulnerável. Que fundamentos nós destruímos se temos US$ 375 bilhões de reservas, quando tínhamos apenas US$ 35 bilhões quando o Lula (ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva) assumiu? Qual economia está com os fundamentos abalados?

BP - O Aécio Neves afirmou que vai anunciar nomes de eventuais ministros para acalmar o mercado.

Falcão - Cada um tem suas escolhas. Mas nós preferimos não ficar antecipando (nomes) porque respeitamos a manifestação da população e ela só será expressa depois da apuração nas urnas (em outubro). Além do mais, ninguém ganhou ainda a eleição para ficar escolhendo ministros. Nomear ministro antes de ganhar a eleição é se antecipar ao veredicto das urnas.

BP - O senhor acredita que a presidente Dilma precisa acalmar o mercado financeiro?

Falcão - Temos um amplo mercado consumidor que cresceu bastante a partir da vitória do Lula, quando a política salarial permitiu um aumento real de 70% do salário mínimo, promovendo uma distribuição de renda inédita, num curto período. E neste mercado nós temos boa aprovação. Mas, como não há unanimidade numa eleição, ela tem de fazer o seu programa de governo não para acalmar ou agitar o mercado (financeiro), mas para ser coerente com este projeto que vem dando certo no Brasil há 12 anos.

BP - E o episódio Santander (que divulgou um informe a clientes dizendo que o cenário econômico iria deteriorar se Dilma fosse reeleita) já está superado?

Falcão - Sim. Quem se penitenciou foi a direção mundial do banco, que resolveu demitir. Nós só condenamos a distorção no informe, que não estava retratando o cenário. Estava dizendo que se a Dilma ganhasse as eleições, as coisas iriam piorar. Isso não é uma avaliação técnica, isso é juízo político.

BP - A rejeição da presidente Dilma Rousseff, identificada nas pesquisas de intenção de voto, preocupa o comando de campanha?

Falcão - Existe uma rejeição estrutural de um terço do eleitorado. Essa situação ocorre mais especificamente em São Paulo, onde está o núcleo maior do grande capital, onde está a maior expressão da mídia monopolizada e onde tem a força do nosso principal opositor, os tucanos. Contudo, à medida que a população de São Paulo for conhecendo com maior profundidade tudo o que foi feito nesses 12 anos, a tendência é que a gente reduza a nossa rejeição e amplie a dos opositores.

BP - Como o PT vai tratar de temas como o escândalo do mensalão, que levou para a prisão alguns ex-dirigentes do partido?

Falcão - O pioneiro (no mensalão) foi o PSDB, que introduziu a prática do caixa 2, e não o PT. Enveredamos por um caminho equivocado, mas isso não nos isenta. Foi um erro que, entretanto, ao ser admitido, não justificava o processo que se estabeleceu, fazendo um julgamento midiático e com violação dos princípios elementares do direito. Então, a melhor maneira de se trabalhar isso é fazer o debate sobre a corrupção nestas eleições. Ninguém criou tantas instituições de combate à corrupção como os governos do PT. Nós queremos fazer este debate e não o tememos.

BP - Num eventual segundo mandato, como deve ser tratada a questão da regulação da mídia?

Falcão - Nós do PT vamos continuar batalhando por isso, pois a Constituição proíbe monopólio e oligopólio. Fora daí, nós não queremos nenhum controle de conteúdo.

BP - Mas o PT e o governo reclamam da cobertura da mídia.

Falcão - A mídia monopolizada, que funciona como partido de oposição, tem feito campanhas contra a Copa, contra a economia em geral, diziam que teria crise cambial. Não me refiro aos jornalistas, mas à orientação editorial. Se tivéssemos uma democratização da mídia, melhoraríamos as condições de trabalho.

BP - Qual a expectativa em relação à campanha da Dilma?

Falcão - Muito otimista. Porque nós temos convicção que fizemos mais do que qualquer outro governo e que, portanto, temos credenciais (para continuar governando). Somos os principais propagadores de que é preciso mudar o País. E nós não fizemos todas as mudanças necessárias porque 12 anos é muito pouco tempo.

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