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Demóstenes quebra silêncio e critica proposta de Dilma

Senador postou, no sábado, artigo com críticas ao pacote de ajuda para a indústria anunciado pela presidente. Ele, contudo, não faz nenhuma menção às suspeitas das ligações com Carlinhos Cachoeira

13:15 | 08/04/2012

Dezessete dias depois de ter se recolhido ao silêncio diante das suspeitas cada vez mais graves de ligação com o empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (GO) fez sua primeira manifestação pública. E foi em seu blog particular (http://www.demostenestorres.com.br/), no qual postou no sábado, às 14h04, um artigo com críticas ao pacote de ajuda para a indústria anunciado pela presidente Dilma Rousseff no dia 3.

No blog, Demóstenes não faz nenhuma menção às suspeitas das ligações com Carlinhos Cachoeira nem sobre o seu incerto futuro. Já sem partido (desfiliou-se do DEM para fugir à expulsão no mesmo dia 3 do pacote de Dilma), ele responderá a processo de cassação no Conselho de Ética do Senado. Se o julgamento fosse hoje, não há dúvidas de que perderia o mandato. Mas ele tem deixado recados que são dados por seus advogados segundos os quais, em sua opinião, fará uma defesa que poderá convencer os pares de que não está envolvido com Carlinhos Cachoeira, preso num presídio de segurança máxima, em Mossoró, desde o dia 29 de fevereiro.

No blog só é possível perceber algo da angústia do senador por causa dos últimos posts em seu Twitter, datados de 23 de março, quando começaram a aparecer as conversas gravadas pela Polícia Federal, que aumentaram ainda mais as suspeitas sobre a ligação dele com o empresário de jogos de azar. Sua derradeira manifestação no microblog diz: "O sofrimento provocado pelos seguidos ataques a (sic) minha honra é difícil de suportar, mas me amparo em Deus e na certeza de minha inocência ". Uma semana depois, diante da iminência da expulsão, o senador pediu o desligamento do DEM.

"Saco de bondades"

O artigo em que Demóstenes critica o plano de ajuda à indústria brasileira tem por título a locução "Um Brasil maior para os pequenos". Nas suas 38 linhas, o senador lembra que o governo apresentou no dia 3 "mais um saco de bondades", com o slogan de "não abandonar a indústria brasileira". Para Demóstenes, "o pacote é menos que o esperado, principalmente para quem sobrevive acossado pela concorrência nos próprios Brics."

Segundo o senador, o governo da presidente Dilma usa "a tática de tratar o essencial aos espasmos". Ele considera que isso pode dar certo em outras áreas, mas na planta das fábricas é necessário respeitar o calendário anual. "O empresário tem despesas a quitar em todos os 365 dias do ano e o funcionário depende do equilíbrio do mercado para garantir a carteira assinada."

E continua: "A engrenagem é praticamente a mesma desde a revolução fabril, com o agravante de o sistema não se resumir mais a um embate entre trabalho e capital."

Demóstenes diz, no artigo, que "a era dos slogans de cartilha ficou no passado pré-computador. Estamos no século do empreendedorismo, em que qualquer pessoa deve receber a oportunidade de investir em seu talento para crescer".

O senador considera, no artigo, que o governo se esqueceu dos pequenos: "Evidentemente, os gargalos são abissais para grandes e pequenos, porém o poder de pressão dos micros se resume ao grito diante dos juros em empréstimos, em geral com agiotas clandestinos. A esperança é que, mesmo aos sustos, a eles chegue a sacola de facilidades sacudidas pelo governo quando a quebradeira se avizinha."

Para Demóstenes, "a defesa dos empregos, parte do anúncio da presidente Dilma Rousseff, deve ser observada também a partir dos empreendimentos de fundo de quintal, das lojinhas sem registro, dos feirantes."

Quase ao final do artigo há até espaço para um elogio à política do governo: "A redução de juros, que deveria ser generalizada e permanente, é uma das boas novidades, assim como um alívio no peso dos encargos trabalhistas, que esperam ser revistos com urgência. Ao menos, seria desejável que os US 25 bilhões anunciados em reforço para o BNDES fossem direcionados para a turma do Simples."

Nas últimas duas linhas, Demóstenes volta à crítica e cita os problemas na infraestrutura brasileira: "Enquanto isso, rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e a burocracia seguem seu curso, tragando sonhos de todas as extensões."

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