Drones viram desafio de segurança nacional na Alemanha

Em mercados de Natal ou áreas militares, sobrevoos não autorizados acendem alerta de espionagem ou sabotagem. Governo federal aposta em maior controle.O aparecimento de drones desconhecidos nos céus tem se tornado um desafio de segurança para a Alemanha. Após uma série de notórios sobrevoos não autorizados sobre os mais diversos lugares, desde um mercado de Natal até áreas políticamente sensíveis, o governo criou uma nova unidade especial na Polícia Federal para defesa contra estes equipamentos. Leis que até agora não mencionavam drones também estão sendo revisadas, a fim de conter a impressão de impotência por parte das autoridades diante de uma percebida ameaça híbrida. No início de outubro, drones paralisaram por várias horas o intenso tráfego aéreo em Munique, no sul da Alemanha, deixando passageiros retidos. Repetidamente, eles têm aparecido sobre portos marítimos, linhas ferroviárias, instalações industriais e até áreas militares. Estes casos têm frequentemente levantado suspeitas de espionagem pela Rússia. Os drones seriam "controlados por potências inimigas", disse o ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt. Mas nem sempre se trata de ameaças de segurança. Em dezembro, um drone inesperadamente sobrevoou o Christkindlesmarkt de Nuremberg, uma famosa feira de Natal no centro da cidade, colocando a polícia em alerta. O equipamento pertencia a um blogueiro que queria fazer "belas imagens aéreas", ignorando uma proibição em vigor. O caso terminou sem maiores consequências. Novo centro de inteligência Neutralizar drones é complicado: eles se deslocam em alta velocidade e muitas vezes desaparecem rapidamente. Quem os controla geralmente permanece anônimo. A defesa contra drones é principalmente responsabilidade das polícias dos 16 estados federais e da Polícia Federal, que cuida da segurança em aeroportos, estações ferroviárias e fronteiras. O novo Centro Conjunto de Defesa contra Drones (GDAZ, na sigla em alemão), inaugurado nesta semana pelo Ministério do Interior, reunirá informações 24 horas por dia da Polícia Federal, das polícias estaduais, dos serviços de inteligência e da Bundeswehr num panorama integrado. "Assim aumentamos a velocidade e a precisão no combate a ameaças híbridas, sabotagem e provocações deliberadas", declarou o ministro Dobrindt. Críticos da oposição ao governo, entretanto, consideram que ainda é pouco, afirmando ser necessário definir responsabilidades mais claras e mais ação pelas polícias estaduais. "É preciso decidir em minutos o que fazer contra um drone potencialmente muito perigoso", afirma Irene Mihalic, do Partido Verde. Mais poder à Bundeswehr Além disso, a Bundeswehr (Forças Armadas) ganhará mais poderes: poderá agir contra drones com uso de força, inclusive abatendo-os fora de áreas militares. Até agora não havia base legal para tal. Isso deve mudar com uma nova versão da Lei de Segurança Aérea, atualmente em discussão no Bundestag, o Parlamento alemão. Na prática, porém, serão poucos os casos em que a polícia poderá recorrer à Bundeswehr. Na Alemanha, as funções da polícia e do exército são estritamente separadas. Em caso de ataque militar com drones armados, a Bundeswehr seria responsável. Se drones aparecerem sobre um aeroporto, uma usina ou a Oktoberfest de Munique, por exemplo, isso é competência da polícia. A corporação pode pedir auxílio à Bundeswehr, mas apenas se isso evitar um desastre particularmente grave. "Operações da Bundeswehr dentro do país só são permitidas em limites muito estreitos, e assim deve permanecer", enfatizou a ministra da Justiça, Stefanie Hubig. Preparação insuficiente Está a Alemanha bem preparada para a defesa contra drones com todas as novas medidas? O especialista em aviação Gerald Wissel duvida. "Ainda estamos longe de uma detecção e defesa realmente eficaz", diz. Segundo ele, só haverá segurança se o espaço aéreo inferior (que tem até 250 metros de altitude e é onde circulam os drones) for monitorado de forma abrangente. Ele também advoga por um sistema obrigatório de identificação eletrônica para todos os drones, para que seja possível reconhecer os equipamentos que eventualmente se aproximem de multidões, instalações industriais ou aeroportos. Isso ainda não acontece. "Se não tivermos um panorama aéreo unificado, não é possível distinguir entre drones 'bons' e 'maus'. Essa é nossa grande preocupação", observa. Drones viraram hobby Comprar uma drone pela internet ou numa loja e colocá-lo para voar virou um hobby popular na Alemanha. Em 2023, o portal Statista contabilizou mais de 350 mil drones de uso privado – isso é mais do que em quase qualquer outro país europeu. Embora existam muitas regras para os usuários, elas são frequentemente ignoradas. Outra proposta de especialistas é restringir o uso recreativo de drones, limitando-os a aeroclubes e propriedades privadas, na altura máxima de 50 metros. "É proibido voar com drones a quilômetros do próprio campo de visão por hobby", explica Wissel, "mas isso é fácil de fazer. E descobrir onde está quem controla o drone só é possível com grande esforço técnico." Autor: Nina Werkhäuser, Marcel Fürstenau

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