Belarus liberta líder de protestos e vencedor do prêmio Nobel após acordo com EUA
A líder dos protestos de rua em Belarus, Maria Kolesnikova, e o ganhador do Prêmio Nobel Ales Bialiatski foram libertados neste sábado, 13, juntamente com outros 121 presos políticos, em um acordo sem precedentes mediado pelos Estados Unidos.
O presidente bielorrusso Alexander Lukashenko prendeu milhares de seus opositores, críticos e manifestantes desde as eleições de 2020, que, segundo grupos de direitos humanos, foram fraudadas e provocaram semanas de protestos que quase o derrubaram.
Kolesnikova foi a estrela do movimento de 2020 que representou o desafio mais sério a Lukashenko em seus 30 anos no poder. Ela ficou famosa por rasgar seu passaporte quando a KGB tentou deportá-la do país.
Bialiatski, um veterano defensor dos direitos humanos de 63 anos e vencedor do Prêmio Nobel de 2022, é considerado por Lukashenko como um inimigo pessoal. Ele documentou violações de direitos humanos no país, um aliado próximo de Moscou, durante décadas.
Bialiatski ressaltou que continuaria lutando pelos direitos civis e pela liberdade dos presos políticos após sua libertação, que ele chamou de "um enorme choque emocional".
"Nossa luta continua, e o Prêmio Nobel foi, eu acho, um certo reconhecimento de nossa atividade, de nossas aspirações que ainda não se concretizaram", disse ele à mídia em uma entrevista em Vilnius. "Portanto, a luta continua", acrescentou.
Ele recebeu o prêmio em 2022, enquanto ainda estava na prisão. Depois de ser retirado da prisão, ele disse que foi colocado em um ônibus e vendado até chegarem à fronteira com a Lituânia.
"Estou pensando naqueles que ainda não são livres e estou muito ansiosa pelo momento em que todos poderemos nos abraçar, quando todos poderemos nos ver e quando todos seremos livres", disse ela em uma entrevista em vídeo com uma agência governamental ucraniana.
A saudar a libertação de Bialiatski, o Comitê Nobel disse à AFP que ainda havia mais de 1,2 mil presos políticos no país. "A sua detenção continuada ilustra de forma gritante a repressão sistémica que se mantém no país", afirmou o presidente Jorgen Watne Frydnes.
Os opositores presos de Lukashenko são frequentemente mantidos incomunicáveis em um sistema prisional notório por seu sigilo e tratamento severo. Havia receios quanto à saúde de Bialiatski e Kolesnikova enquanto estavam atrás das grades, embora ambos tenham dito que se sentiam bem em entrevistas no sábado. O acordo foi mediado pelos Estados Unidos, que pressionaram pela libertação dos prisioneiros e ofereceram em troca algum alívio nas sanções.
Um enviado do presidente dos EUA, Donald Trump, John Coale, esteve em Minsk esta semana para conversas com Lukashenko. Ele disse a repórteres da mídia estatal que Washington retiraria as sanções contra a indústria de potássio do país, sem fornecer detalhes específicos. Um funcionário dos EUA disse separadamente à AFP que um cidadão americano estava entre os 123 libertados.
Minsk também libertou Viktor Babariko, um ex-banqueiro que tentou concorrer contra Lukashenko nas eleições presidenciais de 2020, mas acabou preso. Kolesnikova fazia parte de um trio de mulheres - incluindo Svetlana Tikhanovskaya, que se opôs a Lukashenko e agora lidera a oposição no exílio - que liderou os protestos de rua de 2020. Ela estava cumprindo uma pena de 11 anos em uma colônia penal.
Em 2020, os serviços de segurança colocaram um saco sobre sua cabeça e a levaram até a fronteira com a Ucrânia. Mas ela rasgou seu passaporte, frustrando o plano de deportação forçada, e foi presa.
Ex-presidiários da prisão de Gomel, onde ela estava detida, disseram à AFP que ela foi proibida de falar com outros presos políticos e regularmente jogada em celas de punição severas.
Uma imagem de Kolesnikova fazendo um coração com as mãos se tornou um símbolo dos protestos contra Lukashenko.
Bialiatski já estava na prisão quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2022 por seu trabalho incansável documentando violações de direitos. Ele fundou a Viasna na década de 1990, dois anos depois que Lukashenko se tornou presidente.
Um dos mais de 100 prisioneiros libertados por Belarus neste sábado é americano, disse um funcionário à AFP.
As autoridades de Minsk libertaram 123 prisioneiros neste sábado, pouco depois de um enviado dos Estados Unidos em visita ao país declarar que Washington havia suspendido as sanções ao potássio bielorrusso.
Essa fonte americana, falando sob condição de anonimato, classificou a libertação dos prisioneiros como "mais uma prova da liderança do presidente Trump" e um "marco significativo nas relações entre Estados Unidos e Belarus".
O funcionário agradeceu à Lituânia, aliada dos EUA, pela assistência na libertação desse grupo de prisioneiros, que incluía a líder da oposição Maria Kolesnikova e o co-vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2022, Ales Bialiatsky.
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