Frente ao negacionismo, chefe do IPCC reforça papel humano no aquecimento global
Frente ao auge do negacionismo climático, o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Jim Skea, reforçou, em entrevista à AFP, o papel da ciência e que as mudanças climáticas são, "sem dúvida", o resultado das atividades humanas.
A França recebe, até esta sexta-feira (5), mais de 600 membros do IPCC, grupo de cientistas climáticos da ONU, que vão iniciar os preparativos para seu próximo relatório.
"Sem dúvida, os humanos são a causa das mudanças climáticas que estamos assistindo", ressaltou Jim Skea, professor escocês que preside o painel.
PERGUNTA: O senhor disse há pouco que era "quase inevitável" que o mundo ultrapasse o limite de 1,5º C de aquecimento no curto prazo. Qual será, então, a mensagem de seu próximo relatório, dentro de alguns anos?
RESPOSTA: "A mensagem é que, se quisermos que o aquecimento global seja de 1,5º C, as decisões que precisamos tomar são muito claras. Precisamos reduzir significativamente as emissões relacionadas com a energia e o uso do solo. Também devemos começar a pensar em retirar o CO2 da atmosfera em larga escala. E faltam muitos conhecimentos sobre este tema".
P: A França expressou seu apoio ao IPCC esta semana frente ao auge do negacionismo climático. É um apoio importante?
R: "É realmente importante e bem-vindo ter este nível de apoio de parte do governo francês, de múltiplas fontes: o chefe de Estado, três ministros. É um nível de apoio significativo e dá muito incentivo aos cientistas. Quando falei com eles depois, estavam muito felizes: deu a eles confiança e entusiasmo para seguir adiante".
P: Como as conclusões do IPCC vão se sobrepor ao público apesar da desinformação, quando há quem qualifique as mudanças climáticas de fraude, como o presidente americano, Donald Trump?
R: "Devemos continuar comunicando a ciência de forma muito clara. Nosso último relatório tinha essa conclusão muito simples: sem dúvida, os humanos são a causa das mudanças climáticas que estamos assistindo. Devemos reforçar essa mensagem e podemos apoiá-la com vários tipos de explicações e múltiplas fontes de dados".
P: O governo dos Estados Unidos está ausente do IPCC e não financia os pesquisadores que participam de seus trabalhos. Mas o senhor não teme que bloqueie seus relatórios quando os países tiverem que aprová-los?
R: "Seguimos nos beneficiando de uma enorme presença americana no IPCC. Temos quase 50 autores nesta reunião, cuja presença é financiada por organizações filantrópicas americanas e que foram nomeados por organizações observadoras procedentes dos Estados Unidos (...) Quanto às sessões de aprovação, quando terminamos os relatórios, sempre foram difíceis porque os cientistas e os governos precisam estar de acordo em cada ponto e vírgula. E não acho que agora seja realmente mais difícil do que já era.
Só aconteceu uma vez na história do IPCC a não aprovação do resumo [elaborado] para as autoridades e o adiamento da decisão até a sessão seguinte. E não é algo recente, foi em 1995. Então, isso sempre foi difícil, mas sempre superamos esses obstáculos".
P: Países como a França querem que o próximo relatório de avaliação do IPCC seja publicado em 2028, antes da COP33 na Índia, que dará lugar a um segundo "balanço mundial" dos esforços realizados desde o Acordo de Paris. Mas a Arábia Saudita e a Índia preferem esperar 2029. É importante?
R: "Cabe aos governos decidirem se nosso relatório será publicado a tempo do balanço mundial. Para os cientistas, a questão é, ao contrário, saber se o calendário é compatível com o tempo necessário para produzir uma avaliação. E, francamente, esse tempo não deveria ser nem curto demais, nem longo demais".
P: Qual é a sua mensagem para os dirigentes e o público em geral, agora que está começando um novo ciclo de trabalho?
R: "Segurem a respiração à espera do que vamos publicar dentro de uns três anos! Há novos temas de pesquisa, novas lacunas nos nossos conhecimentos que temos que explorar, inclusive esta questão: 'É possível limitar o aquecimento global a 1,5º C no longo prazo?'"
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