Sem energia fóssil, países ricos também 'sofrerão', diz negociador russo na COP

Sem energia fóssil, países ricos também 'sofrerão', diz negociador russo na COP

Sem combustíveis fósseis, até mesmo pessoas que vivem em países ricos "sofrerão", disse à AFP o chefe negociador da Rússia na COP30 de Belém do Pará, onde o Brasil tenta colocar na mesa de negociação a transição energética.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs iniciar nesta COP na Amazônia a construção de uma folha de rota para abandonar os combustíveis fósseis.

Mas Vladimir Uskov, cujo país é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa, acredita que "não há uma única folha de rota que possa se adequar" a todos os países.

"Não se pode apostar em painéis solares na Sibéria", afirma.

A seguir, trechos da entrevista editada para melhor compreensão.

Pergunta: A ausência dos Estados Unidos nesta COP impulsiona novas lideranças?

Resposta: "Nenhum país deveria ficar excluído desse processo. A inação dos maiores emissores de alguma forma atrasará os resultados."

P: A Rússia apoia a proposta brasileira sobre os combustíveis fósseis, respaldada por países como a França?

R: "É fácil falar em eliminar os fósseis quando se vive em países desenvolvidos como a França. Mas em lugares como Belém, onde as pessoas não têm acesso à eletricidade ou a alimentos, não podemos dizer que precisam de energia solar ou eólica. Essas pessoas precisam de energia e às vezes de combustíveis. Não lutamos contra elas, e sim contra as emissões, e temos tecnologias para fazer isso sem que as pessoas sofram. Precisamos de uma boa combinação: gás natural, energia nuclear, fósseis. Se começarmos a viver sem combustíveis fósseis, até mesmo as pessoas na França sofrerão, acredite."

P: Sobre a proposta brasileira, qual é sua resposta específica?

R: "Todas as opções estão sobre a mesa. Não há uma única folha de rota que possa se adaptar a todos. Se outros têm seus próprios caminhos rumo ao objetivo comum, é para isso que estamos aqui. Infelizmente, não se pode apostar em painéis solares na Sibéria."

P: O senhor confia que a presidência brasileira destravará pontos conflitivos nesta COP, como financiamento climático e comércio?

R: "Nossos parceiros brasileiros farão tudo o que puderem para fechar as brechas. Mas são realistas, não alcançarão resultados históricos. Já é um resultado histórico que, em circunstâncias políticas turbulentas como as que temos em 2025, estejamos aqui e estejamos conseguindo avanços técnicos."

P: A Rússia está disposta a se comprometer com metas de redução de emissões mais ambiciosas?

R: "Nosso país está submetido a uma enorme pressão de limitações ilegais, o que não ajuda com os fluxos financeiros, a transferência de tecnologia e o comércio internacional. Isso está completamente fora do mandato da ONU e é totalmente ilegal. E apesar disso apresentamos nossa ambiciosa NDC [meta anual de redução de emissões de gases poluentes]. Lembro que alguns atores maiores - não mencionarei os países ou blocos de países — não o fizeram. Faremos muito mais se tivermos a possibilidade de um comércio justo e fluxos financeiros livres. E se a situação geopolítica nos permitir, claro, aumentaremos nossa ambição [climática] em consequência."

ffb-jmi/app/atm/am

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