Tutora acumula R$ 20 mil em multas após vizinho acionar Justiça contra gato laranja
Desde a sentença, Rémi é acusado de ter repetido as travessuras, o que levou a uma nova intimação de Dominique à Justiça, marcada para dezembro deste ano
Nas redes sociais do Brasil, os gatos laranjas são famosos por serem naturalmente travessos em casa e com seus tutores. Na França, porém, o comportamento bagunceiro não foi bem recebido por um vizinho, virou caso de Justiça e resultou em uma série de multas, além de ter viralizado internacionalmente. Essa é a história do felino Rémi e sua tutora, Dominique Valdès.
O tribunal de Béziers condenou Dominique, de 70 anos, a pagar 1.250 euros em indenização e custas judiciais pelas recorrentes visitas do animal à casa do vizinho. O valor da indenização é equivalente à cerca de R$ 7,7 mil conforme a cotação de 6 de novembro de 2025.
A decisão judicial inclui ainda uma multa de 30 euros (equivalente a R$ 180) cada vez que Rémi ultrapassar novamente a cerca da casa ao lado. Segundo o jornal Le Parisien, o gato laranja é acusado de deixar marcas em reboco fresco, urinar em um edredom e defecar no jardim, além de causar outros transtornos ao vizinho de Dominique.
Desde a sentença, divulgada em 17 de janeiro condenando a tutora do bichano, Rémi é acusado de ter repetido as travessuras, o que levou a uma nova intimação de Dominique à Justiça. A nova audiência está marcada para dezembro deste ano.
A nova multa chega ao valor de 2.000 euros, ou seja, mais cerca de R$ 12,3 mil, e agora com risco de acréscimo de 150 euros (R$ 927) para cada vez que o felino aparecer no jardim. Ao todo, a tutora já soma mais de R$ 20 mil em multas pelas acusações do vizinho contra seu gato.
Briga de vizinhos devido a gato laranja vira caso de Justiça e gera debate sobre direitos dos animais na França
O caso, porém, pode abrir um caminho delicado para a jurisprudência francesa ao restringir a liberdade dos pets. Até então, a circulação dos animais em um raio de um quilômetro ao redor de sua residência é praticamente aceita por todos. Para a tutora de Rémi, a condenação foi como um golpe forte na cabeça.
“Nesse volumoso processo judicial de 90 páginas, não há provas reais de que tenha sido o Rémi quem causou esses danos. No bairro, existe outro gato ruivo, e as inúmeras fotos que o vizinho forneceu mostram que muitos outros gatos também passaram pelo jardim dele”, afirma Dominique em entrevista ao Le Parisien.
Desde a primeira sentença, a tutora afirma estar mantendo o gato em casa. Segundo ela, o confinamento fez com que ele ganhasse peso e ficasse agressivo. “Eu não posso nem o deixar no meu jardim, com medo de que ele pule a cerca. É como se ele tivesse sido condenado à prisão domiciliar, uma espécie de encarceramento e uma dupla punição”, acrescentou.
O diretor-geral da Sociedade Protetora dos Animais na França (SPA), Guillaume Sanchez, expressou preocupação com a decisão. Na visão do diretor, o caso representa bem mais do que somente uma "briga entre vizinhos".
“É algo muito mais grave. O gato doméstico, especialmente quando vive em uma casa, tem uma necessidade natural de explorar os arredores de seu território. Se esse processo criar jurisprudência, sem dúvida poderemos temer uma queda nas adoções”, declarou Sanchez.
Os moradores da rua de la Treille manifestaram apoio a Dominique e demonstraram indignação com o caso.
“Como isso é possível? Aqui os gatos vão e vêm de uma casa para outra. É um fato muito conhecido. E quando não se quer que eles estejam por perto, basta espantá-los”, disse Nathalie, dona de quatro gatos e vizinha de Rémi.
O vizinho que denunciou Dominique Valdès era até então conhecido principalmente por ter instalado inúmeras câmeras de vigilância que também captam as fachadas das casas vizinhas e a rua, o que lhe rendeu uma advertência da Comissão Nacional de Informática e Liberdades (CNIL).
Para o diretor-geral da SPA, a esperança é de que a situação se resolva com bom senso. “Outro juiz provavelmente terá uma opinião diferente sobre esse caso surpreendente”, declarou ele.
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