EUA envia porta-aviões para combater narcotráfico na América Latina
Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (24) o envio de um porta-aviões e sua frota para "combater o narcoterrorismo" na América Latina, uma medida que aumenta a tensão na região e com a qual Washington, segundo o presidente Nicolás Maduro, está "inventando uma guerra" com a Venezuela.
Os Estados Unidos mobilizaram em agosto destróieres, um submarino e navios com forças especiais em águas internacionais do Caribe, com o suposto propósito de combater o tráfico de drogas.
Embora tenha havido regularmente presença de porta-aviões para exercícios de treinamento com forças de países vizinhos, é a primeira vez que os Estados Unidos deslocam uma força dessa magnitude na América Latina contra o narcotráfico.
A Venezuela insiste que a verdadeira intenção de Washington é promover uma mudança de regime no país.
"Estão inventando uma nova guerra eterna, prometeram que nunca mais se envolveriam em uma guerra e estão inventando uma guerra que nós vamos evitar", reagiu Maduro em uma transmissão obrigatória de rádio e televisão.
O desdobramento do grupo de ataque do porta-aviões USS Gerald R. Ford ocorre "em apoio à diretiva do presidente de desmantelar as Organizações Criminosas Transnacionais (TCOs) e contrabalançar o narcoterrorismo em defesa da Pátria", disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, no X.
Horas antes, o secretário de Guerra, Pete Hegseth, informou via X o décimo ataque contra uma suposta lancha do narcotráfico, com um balanço de seis mortos.
Mais de 40 pessoas morreram no Caribe e no Pacífico desde que os Estados Unidos iniciaram uma campanha sem precedentes de ataques letais na região, em 2 de setembro. A embarcação destruída na madrugada de hoje operava para o cartel Tren de Aragua, afirmou o secretário da Defesa.
"Nossos serviços de inteligência sabiam que a embarcação estava envolvida no contrabando de narcóticos", acrescentou. O ataque ocorreu em "águas internacionais".
Esse foi o primeiro ataque noturno na região, disse Hegseth.
O chefe do Pentágono alertou que os Estados Unidos tratarão os "narcoterroristas" como tratam a organização terrorista "Al Qaeda", de Osama bin Laden.
- 'Gringos, vão pra casa' -
Os Estados Unidos estão cometendo "execuções extrajudiciais", afirmou o presidente colombiano, Gustavo Petro, que mantém um embate particular com o presidente Donald Trump.
Petro e seu ministro do Interior, Armando Benedetti, foram sancionados nesta sexta-feira pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos. Qualquer bem que Petro (assim como a mulher e um dos seus filhos) e Benedetti tiverem nos Estados Unidos, bem como qualquer meio de pagamento internacional com sede no mesmo país, ficam bloqueados.
"Lutar contra o narcotráfico durante décadas e com eficácia me traz essa medida do governo da sociedade que tanto ajudamos para deter seu consumo de cocaína", publicou Petro no X. "Gringos, vão pra casa", respondeu Benedetti.
Trump havia avisado que estava disposto a usar todo o potencial militar dos Estados Unidos para acabar com as rotas do narcotráfico e com os líderes dos cartéis.
Para isso, declarou cartéis como o de Sinaloa ou Tren de Aragua "organizações terroristas", por meio de decreto presidencial.
Isso permitiria a Washington, segundo o governo, usar as mesmas ferramentas que utilizou durante duas décadas em todo o mundo após os ataques de 11 de setembro de 2001 da Al Qaeda.
Os Estados Unidos estão em "conflito armado" com os cartéis de drogas, explicou Trump em uma carta enviada ao Congresso.
O republicano assegura que o tráfico marítimo de drogas foi praticamente erradicado. No entanto, o ritmo dos ataques com mísseis contra as embarcações aumentou.
Ao mesmo tempo, o presidente evoca de maneira crescente que está disposto a agir contra os interesses "narcoterroristas" em terra firme, sem esclarecer onde.
Washington anunciou ontem, juntamente com Trinidad e Tobago, exercícios militares conjuntos com o navio de guerra USS Gravely em frente à costa da Venezuela. O governo de Trinidad e Tobago disse que oferece "categoricamente seu apoio claro à intervenção militar em curso".
- 'Incendiar' a América do Sul -
Segundo Maduro afirmou na sexta-feira, os Estados Unidos "inventam um relato extravagante, vulgar, criminoso e totalmente falso".
Maduro, acusado pelo governo dos Estados Unidos e oficialmente indiciado perante um tribunal em Nova York por supostamente chefiar o denominado cartel de los Soles, o que o presidente nega.
O país caribenho mobilizou tropas e milícias diante da ameaça dos Estados Unidos.
Uma "intervenção externa" na Venezuela "pode incendiar" a América do Sul, disse em entrevista à AFP o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim.
Trump chegou a confirmar que a CIA poderia realizar operações encobertas dentro da Venezuela.
A oposição democrata no Congresso também exigiu explicações. A Constituição explicita que o Congresso deve autorizar expressamente uma declaração de guerra.
Trump declarou que está disposto a enviar Hegseth ao Congresso para prestar explicações antes de passar a uma nova fase de ataques em terra.
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