Estudo nos EUA sugere proteção de rebanho de vacina contra HPV

Estudo nos EUA sugere proteção de rebanho de vacina contra HPV

Autor DW Tipo Notícia

Ampla cobertura vacinal de meninas e meninos contra o vírus do HPV, o maior causador de câncer no colo do útero, pode proteger mulheres vacinadas e até as não vacinadas contra a doença, sugere pesquisa.A vacinação contra o HPV nos Estados Unidos tem sido tão bem-sucedida que a imunidade coletiva contra o vírus – o principal causador do câncer no colo do útero – pode estar próxima de ser alcançada em algumas áreas do país. Uma pesquisa publicada na revista científica JAMA Pediatrics descobriu que o extenso programa de vacinação contra o HPV nos EUA levou a reduções significativas nos diagnósticos da doença, também chamada de câncer cervical, inclusive entre mulheres não vacinadas. No entanto, a imunidade dessas comunidades ao papilomavírus humano (HPV) só continuará se os EUA tiver a capacidade de manter as altas taxas de vacinação, ponderam os pesquisadores. O HPV é a infeccção sexualmente transmissível mais comum do mundo. Vacinas contra certas cepas do HPV existem há quase duas décadas, e os resultados apontam para uma consequente redução dos casos de câncer cervical em todo o mundo. Atualmente, os EUA aplicam uma vacina nonavalente, que protege contra nove cepas do HPV que, juntas, são responsáveis por 90% dos casos de câncer cervical. Outros países utilizam vacinas adaptadas a duas ou quatro variantes – a última é o tipo adotado do Brasil. "Nosso estudo demonstra evidências de imunidade coletiva contra o HPV causador do câncer cervical em uma comunidade e em um contexto de altas taxas de vacinação e uma estratégia de vacinação neutra em termos de gênero, ou seja, vacinação de meninos e meninas", disse uma das autoras do estudo, a pediatra Jessica Kahn, do Albert Einstein College of Medicine, em Nova York. A comunidade à qual Kahn se refere é um grupo específico de mulheres com maior risco de infecção pelo HPV, com quase 80% tendo tido dois ou mais parceiros sexuais do sexo masculino e mais da metade tendo sido diagnosticada com uma doença sexualmente transmissível (DST). A análise de quase 20 anos de dados do grupo mostra que as infecções por HPV diminuíram substancialmente com o imunizante. No caso das mulheres que tomaram vacinas bivalentes, que têm como alvo duas cepas, houve uma redução de 98% na infecção. Como os comportamentos sexuais do grupo de estudo tiveram pouca alteração, isso significa que as vacinas contra o HPV são as prováveis responsáveis pela redução das taxas de infecção, inclusive entre mulheres não vacinadas. Mesmo sem proteção imunológica, esse grupo observou uma redução de 75% na infecção pelas cepas cobertas pela vacina bivalente. Tal fenômeno sugere que a imunidade coletiva contra a doença nos EUA está ao alcance, embora Kahn tenha alertado que nunca seria possível ter certeza disso. "Não há um ponto fixo específico em que possamos dizer que o HPV foi eliminado", disse Kahn. "A proteção coletiva é dinâmica e pode diminuir se a adesão à vacina diminuir, os indivíduos se tornarem mais suscetíveis ao HPV ou a dinâmica de transmissão mudar." HPV: Frequentemente benigno, potencialmente mortal O câncer de colo do útero é uma doença evitável, mas ainda é o quarto câncer mais comum em mulheres, com a maioria das mortes ocorrendo em países de baixa e média renda. Os vírus HPV foram relatados pela primeira vez como causa do câncer cervical pelo cientista alemão Harald zur Hausen, em 1983. Ele foi co-ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 2008 pela descoberta. Estudos indicam que cerca de 80% da população sexualmente ativa deve ser infectada pelo vírus em algum momento de sua vida, mas geralmente não apresenta sintomas. Esses vírus podem causar o crescimento de verrugas geralmente benignas na pele de seres humanos, principalmente no pé, mãos, garganta e genitais. Às vezes, certos vírus HPV se incorporam a células saudáveis, interrompendo seus processos celulares normais. Nas células que revestem o colo do útero, isso pode levar ao desenvolvimento de câncer ou a sérias lesões. As taxas de câncer cervical diminuíram desde a introdução de uma vacina chamada Gardasil, desenvolvida por pesquisadores australianos na década de 1990 e lançada na década de 2000. Foi a primeira de uma família de vacinas capazes de prevenir infecções por HPV. As vacinas atuais contra o vírus são geralmente administradas a meninas de 9 a 14 anos. Meninos nessa faixa etária também podem receber a vacina, como é o caso nos Estados Unidos e no Brasil, para proporcionar uma proteção mais ampla à comunidade. Desafios para vacinação A Organização Mundial da Saúde (OMS) quer eliminar o câncer cervical. Sua estratégia prevê que 90% das meninas sejam vacinadas até os 15 anos em todo o mundo, pelo menos 70% das mulheres sejam submetidas a exames de rastreamento do câncer cervical aos 35 e novamente aos 45 anos, e 90% das mulheres diagnosticadas com o câncer recebam tratamento. Pelos cálculos da organização, o cumprimento dessas metas poderia prevenir 300 mil casos de câncer no colo do útero até o final desta década. Todos os anos, cerca de 660 mil pacientes são diagnosticadas, mais de 17 mil no Brasil. O país atingiu mais de 82% de cobertura vacinal contra o HPV entre meninas de 9 a 14 anos em 2024, superando a média global de 12%, segundo dados da OMS. Entre os meninos da mesma faixa etária, a cobertura chega a 67%. A vacina protege contra diversos tipos de câncer associados ao HPV, incluindo colo do útero, ânus, pênis, garganta e pescoço, além de verrugas genitais. Na Escócia, após o início do programa de vacinação, em 2008, nenhum caso de câncer cervical foi detectado em mulheres que foram totalmente vacinadas. Os médicos, contudo, estão preocupados com a queda no número de jovens escoceses que tomam a vacina, sobretudo em comunidades mais carentes. Um estudo realizado com mais de 1,6 milhão de meninas e mulheres na Suécia descobriu que havia quase metade dos casos de câncer cervical entre aquelas que foram vacinadas do que entre aquelas que nunca receberam a vacina. A principal autora do estudo, Jiayao Lei, epidemiologista do Instituto Karolinska, disse que as conclusões de uma possível imunidade de rebanho feitas pelo estudo americano não foram surpreendentes, tendo em vista o que sua investigação tinha revelado. "É uma evidência realmente boa, porque demonstra a proteção indireta da vacinação, particularmente para as [mulheres] não vacinadas", disse. Lei defende que receber a vacina durante a adolescência também proporcionava uma melhor proteção contra a infecção pelo HPV, mesmo com apenas uma dose da vacina. "Aqueles que foram vacinados mais cedo terão uma proteção mais forte", disse à DW. "Há uma eficácia comparável alcançada para aqueles que se vacinam mais cedo [com qualquer dosagem], enquanto para aqueles que se vacinam após os 20 anos, parece que é preciso uma dose mais alta para oferecer melhor proteção." Isso é particularmente importante para países que estão apenas começando a distribuir a vacina para grupos de adolescentes. O Paquistão iniciou recentemente seu programa de HPV para meninas de 9 a 14 anos, enquanto Gana começará a distribuir vacinas para essa faixa etária em outubro. Ainda assim, há desafios. O Paquistão está enfrentando campanhas intensas de desinformação, com a circulação de alegações falsas de que a vacina causa infertilidade. Apesar disso, nove milhões de meninas já foram vacinadas, de acordo com o Ministério da Saúde do Paquistão. O objetivo é vacinar cerca de 13 milhões de meninas. O aumento do ceticismo em relação às vacinas e a diminuição da aceitação das vacinas em todo o mundo representam um desafio único para o controle e, potencialmente, a erradicação de doenças como o câncer cervical causado pelo HPV. A interrupção dos programas de vacinação e as crises do sistema de saúde, a disparidade no acesso às vacinas e a hesitação causada por campanhas de desinformação e informações falsas representam um grande obstáculo para conter o câncer cervical. "A vacina é extremamente eficaz, mas somente se for aplicada", disse Kahn. Autor: Matthew Ward Agius

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