Hiroshima e Nagasaki: como estão as cidades hoje, 80 anos após as bombas?
Símbolos máximos da ameaça nuclear, Hiroshima e Nagasaki resistem ao tempo sem nunca esquecer do que aconteceu em 1945; entenda
Nesta quarta-feira, 6 de agosto, completam-se 80 anos desde o bombardeio norte-americano contra a cidade de Hiroshima, no Japão. O evento histórico é debatido até hoje como “necessário” para encerrar a Segunda Guerra Mundial, no entanto, o número de vítimas permanece como uma alerta sobre os riscos do uso de armas nucleares.
Outra cidade afetada foi Nagasaki, atingida três dias depois, em 9 de agosto de 1945. Os bombardeios marcaram a primeira vez que bombas nucleares foram lançadas em áreas urbanas, com consequências e impactos que perduram mesmo após décadas do acontecido.
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Mas como estão as cidades hoje?
Hiroshima e Nagasaki são grandes cidades hoje em dia
A cidade japonesa de Hiroshima tem 905,08 km² repleta de lojas, parques e empresas. Sua população é estimada em 2 milhões de habitantes, sendo a 11ª com maior número de moradores no Japão, conforme o World Population Review a partir da dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Historicamente um ponto militar e industrial, Hiroshima e região são atualmente um próspero polo industrial com empresas que vão desde indústrias pesadas, como construção naval, siderurgia e automóveis, até setores de ponta, como máquinas elétricas e peças eletrônicas.
O turismo é uma faceta importante de Hiroshima. O número de visitantes ultrapassou 10 milhões no total entre os anos de 2005 a 2020. De 2015 a 2019 — pouco antes da pandemia de covid-19 — o número anual de turistas estrangeiros ultrapassou 1 milhão, chegando a 1,8 milhão de visitantes estrangeiros em 2019.
Já Nagasaki é uma cidade bem menor, tem cerca 410.200 habitantes em uma área de 405,86 km². Localizada na costa oeste e cercada por oceano e montanhas, Nagasaki é famosa por sua vista deslumbrante do pôr do sol sobre o oceano azul-turquesa.
Hiroshima e Nagasaki são habitáveis mesmo após bombas atômicas?
Diferente de Chernobyl, que se tornou inabitável depois do acidente na sua usina nuclear, Hiroshima e Nagasaki conseguiram se reerguer depois dos bombardeios. A explicação científica para isso é que, como as bombas foram detonadas acima das cidades, as partículas radioativas se dissiparam na atmosfera ao invés de se impregnarem no solo.
No entanto, isso não impediu que os sobreviventes de ambas as bombas sofressem com os efeitos da radiação.
Parte de quem sobreviveu precisou enfrentar queimaduras que arrancaram a pele de seus corpos, enquanto outra, apenas exposta ao material radioativo, teve náuseas, vômitos, sangramento e queda de cabelo, desenvolvendo catarata e diferentes tipos de tumores malignos.
Com o passar dos anos, sobreviventes também tiveram problemas de saúde a longo prazo, como leucemia.
Meses depois, a vida voltou a nascer em Hiroshima
Harold Jacobsen, um dos cientistas do Projeto Manhattan, programa de pesquisa nuclear norte-americano, disse que Hiroshima ficaria inabitável por pelo menos 70 anos, mas, ainda no outono de 1945, ervas daninhas brotaram no solo da cidade.
No verão seguinte, flores de Oleandro e árvores de Canforeira voltaram a nascer, fazendo com que ambas fossem proclamadas flor e árvores oficiais de Hiroshima por representarem sua resistência.
Em 6 de agosto de 1949, quatro anos após o bombardeio, foi aprovada a Lei de Construção Memorial, fruto do esforço de moradores da cidade e do prefeito Shinzo Hamai.
Dois anos antes, ele criou o Festival da Paz de Hiroshima com o intuito de afastar o horror da guerra e construir a paz novamente. Foi com este ideal que a cidade se reergueu nas décadas seguintes.
Construído no centro de Hiroshima, o Parque Memorial da Paz se tornou símbolo da manutenção da paz na cidade. Com 120 mil metros quadrados, o terreno era um distrito comercial e residencial, mas hoje abriga mais de 60 monumentos, incluindo o Museu Memorial da Paz.
A reconstrução de Nagasaki
Nagasaki também começou seu processo de reconstrução em maio de 1949, com a aprovação da lei que permitiu a construção de novas casas e igrejas por conta do aumento da presença do cristianismo.
Alguns escombros foram deixados como memória do que aconteceu, como um torii danificado, portão que separa o mundano do sagrado em templos xintoístas.
Na década de 90, Nagasaki fundou o Museu da Bomba Atômica quando chegou aos 50 anos do bombardeio, oferecendo uma extensa história da guerra e das armas nucleares com recursos audiovisuais e documentação relacionada.
Em 2005, a cidade expandiu seus limites e incorporou várias cidades suburbanas como Nomozaki, Sanwa e Sotome. Assim como Hiroshima, Nagasaki é um exemplo de reconstrução após uma tragédia tão significativa.
Hiroshima e Nagasaki: como foi o bombardeio nuclear em 1945?
Na noite do dia 5 de agosto de 1945 começaram os preparativos para uma missão que iria entrar para a história, mas não de uma forma positiva. A bordo de um avião norte-americano B-29 batizado de Enola Gay, uma tripulação formada por 12 homens carregava uma bomba chamada de Little Boy.
O alvo ainda não havia sido escolhido, mas poderia ser Kokura, Nagasaki ou Hiroshima. A escolhida foi a última.
Com 256 mil habitantes, Hiroshima acordou no dia seguinte sem saber da tragédia que se abateria sobre ela. Às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, uma bomba atômica com 64 quilos de urânio-235 foi lançada a 10 mil metros de altura da cidade.
Demorou exatos 43 segundos até explodir, mas destruiu tudo em um raio de até dois quilômetros com uma explosão equivalente a 13 mil toneladas de TNT.
Estima-se que morreram entre 50 mile 100 mil pessoas apenas nesse momento, quando uma enorme nuvem em forma de cogumelo feita de poeira e cinzas subiu ao céu.
A explosão causou uma onda de calor de mais de 4.000 °C em um raio de até 4,5 quilômetros. Quem não morreu na hora, morreu dos efeitos radioativos que se seguiram. Mais de 60 mil edifícios de Hiroshima foram reduzidos a escombros.
Apesar do rastro de destruição, o Japão não se rendeu aos Estados Unidos, que decidiram seguir em frente. Três dias depois, o país bombardeou outra cidade japonesa com uma segunda bomba nuclear. No dia 9 de agosto de 1945, foi a vez de Nagasaki sofrer com a violência brutal de atentado nuclear.
Como Kokura amanheceu com o céu coberto de neblina e fumaça, a tripulação recebeu ordens de selecionar um alvo que explorasse o potencial destrutivo da bomba em questão, apelidada de Fat Man.
Lançada de outro B-29, a bomba nuclear explodiu a 500 metros acima do solo de Nagasaki, com uma explosão feita de plutônio-239, equivalente a 21 mil toneladas de TNT.
Ainda que a explosão tenha sido maior que Hiroshima, o terreno montanhoso de Nagasaki limitou a área de destruição, que deixou quase 40% da cidade em ruínas.
Após os bombardeios, o Japão anunciou sua rendição, assinada oficialmente em 2 de setembro de 1945 a bordo do USS Missouri, na Baía de Tóquio. O evento marcou o fim da Segunda Guerra Mundial, que se encerrou sem um número definitivo de vítimas das bombas de Hiroshima e Nagasaki. (colaborou Marcela Tosi)
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