Israel nega acusações de 'morte de fome em massa' que se espalha por Gaza
Israel negou nesta quarta-feira (23) as acusações de que seria responsável pela "morte de fome em massa" que se espalha pela Faixa de Gaza e afirmou que o Hamas provoca uma escassez deliberada nesse território palestino.
Israel enfrenta uma crescente pressão internacional devido à catastrófica situação humanitária no território palestino, onde mais de dois milhões de pessoas sofrem as consequências de mais de 21 meses de um conflito devastador.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Mais de 100 organizações humanitárias alertaram nesta quarta-feira que a "morte de fome em massa" se propaga pela Faixa de Gaza, e a França advertiu sobre o "risco de fome" provocado pelo bloqueio imposto por Israel.
Mesmo após o início, em maio, de um alívio parcial do bloqueio de mais de dois meses, a população de Gaza ainda enfrenta uma grave escassez de alimentos e outros bens essenciais.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta quarta-feira que "grande parte" da população de Gaza sofre de fome.
"Não sei de que outra forma se pode descrever o que está acontecendo, senão que há pessoas morrendo de fome em massa", declarou Tedros.
O porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou que "não há uma fome em massa causada por Israel. Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", que governa Gaza.
O presidente israelense, Isaac Herzog, declarou que o país atua "de acordo com o direito internacional" e acusou o Hamas de tentar "sabotar" a distribuição de ajuda com o objetivo de dificultar a ofensiva israelense.
– "Tenho que arriscar minha vida" –
"É um sofrimento alimentar meus filhos. Tenho que arriscar minha vida para trazer um saco de farinha para eles", conta Mohamed Abu Jabal, um deslocado palestino em Beit Lahia, que bateu a cabeça na roda de um caminhão ao tentar recolher ajuda.
A ONU denunciou na terça-feira que as forças israelenses mataram mais de mil palestinos que tentavam recolher ajuda em pontos de distribuição desde o fim de maio, quando foi criada a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), com apoio dos Estados Unidos e de Israel.
Nesta quarta-feira, 111 organizações, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, alertaram que seus próprios funcionários em Gaza "estão morrendo lentamente".
"Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, trabalhadores humanitários agora se somam às mesmas filas por comida, arriscando serem baleados apenas para alimentar suas famílias", diz o comunicado.
Os grupos pediram a negociação imediata de uma trégua, a abertura das passagens fronteiriças e o livre fluxo de ajuda pelos mecanismos da ONU, e não por meio da GHF.
O Cogat, organismo vinculado ao Ministério da Defesa de Israel, afirmou que recentemente entraram em Gaza cerca de 4.500 caminhões transportando farinha e alimentos para bebês e crianças.
– Negociações estagnadas –
O diretor do hospital Al Shifa, Mohamed Abu Salmiya, declarou na terça-feira que 21 crianças morreram de fome e desnutrição no território palestino nas últimas 72 horas.
No hospital Nasser, no sul de Gaza, imagens da AFP registraram pais chorando sobre o corpo esquelético de seu filho de 14 anos, morto de fome.
Nesta mesma quarta-feira, 17 palestinos morreram em novos ataques israelenses, quatro deles perto de um centro de distribuição de alimentos, segundo a Defesa Civil.
O Exército israelense disse ter intensificado suas operações na Cidade de Gaza e em Jabaliya, no norte do território, e assegurou ter "desmantelado dezenas de infraestruturas terroristas e localizado armas no sul" da Faixa.
Israel e o Hamas participam desde 6 de julho de negociações indiretas em Doha para tentar pôr fim a quase dois anos de conflito.
Mas, após mais de duas semanas de impasses, os esforços dos mediadores, Catar, Egito e Estados Unidos, não deram frutos.
O conflito começou em 7 de outubro de 2023 com o ataque do Hamas contra Israel, que resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais.
A campanha militar israelense no enclave palestino matou 59.219 palestinos, também majoritariamente civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas.
bur-tc/mtp/dbh-avl/an/mb-an/eg/lm/am
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente