Teste inédito de fertilização in vitro reduz risco de doenças hereditárias
Oito bebês saudáveis nasceram no Reino Unido graças a uma nova técnica de fertilização in vitro (FIV) que reduziu com sucesso o risco de doenças genéticas herdadas de suas mães, segundo as conclusões de um estudo inédito publicado na quarta-feira(16).
As descobertas foram celebradas como um grande avanço que aumenta a esperança de que mulheres com mutações no DNA mitocondrial possam um dia ter filhos sem transmitir doenças incapacitantes ou fatais.
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Uma em cada 5.000 pessoas nasce com doenças mitocondriais, que não têm tratamento e cujos sintomas podem incluir perda de visão, diabetes e atrofia muscular.
Em 2015, o Reino Unido se tornou o primeiro país a aprovar uma técnica de fertilização in vitro (FIV) que utiliza uma pequena quantidade de DNA mitocondrial saudável de um óvulo doado (junto com o óvulo da mãe e o esperma do pai).
Bebês nascidos por meio desse procedimento são às vezes chamados de "bebês com três pais", embora pesquisadores rejeitem esse termo, já que apenas cerca de 0,1% do DNA de um recém-nascido vem do doador.
Os resultados do tão aguardado estudo no Reino Unido foram publicados em vários artigos no New England Journal of Medicine.
– "Uma opção reprodutiva importante" –
Das 22 mulheres submetidas ao tratamento no Newcastle Fertility Centre, no nordeste da Inglaterra, nasceram oito bebês. Os quatro meninos e as quatro meninas têm atualmente entre menos de seis meses e mais de dois anos de idade.
A quantidade de DNA mitocondrial mutado — que causa a doença — foi reduzida entre 95% e 100% em seis dos bebês, segundo o estudo.
Nos outros dois recém-nascidos, a quantidade foi reduzida entre 77% e 88%, níveis abaixo do limite que causa a doença. Isso indica que a técnica foi "eficaz na redução da transmissão" de doenças entre mãe e filho, segundo um dos estudos.
Todas as oito crianças estão atualmente saudáveis, embora uma tenha apresentado um distúrbio do ritmo cardíaco que foi tratado com sucesso, segundo os pesquisadores.
A saúde delas será monitorada nos próximos anos para verificar se surgem problemas.
Para Nils-Göran Larsson, especialista em reprodução sueco que não participou do estudo, o avanço representa um "marco".
A nova técnica oferece "uma opção reprodutiva muito importante" para famílias afetadas por doenças mitocondriais "devastadoras", acrescentou.
– Revisão ética –
A doação de mitocôndrias continua sendo um tema controverso e não foi aprovada em muitos países, como Estados Unidos e França.
Líderes religiosos se opuseram ao procedimento por envolver a destruição de embriões humanos. Outros críticos temem que abra um precedente para a criação de "bebês projetados" por engenharia genética.
Uma revisão do conselho de bioética Nuffield Health, fundação independente do Reino Unido, foi "fundamental" para a condução desta pesquisa, disse sua diretora, Danielle Hamm, na quarta-feira.
Peter Thompson, diretor da Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA, na sigla em inglês), que aprovou o procedimento, indicou que apenas pessoas com "risco muito alto" de transmissão de uma doença mitocondrial seriam elegíveis para o tratamento.
Objeções éticas também foram levantadas sobre o uso da doação de mitocôndrias para tratamento de infertilidade na Grécia e na Ucrânia.
A especialista francesa em doenças mitocondriais Julie Stefann disse à AFP: "É uma questão de relação risco-benefício: para uma doença mitocondrial, o benefício é claro".
"No contexto da infertilidade, não está comprovado", acrescentou.
Para o especialista em genética reprodutiva da Universidade de Oxford, Dagan Wells, "alguns cientistas ficarão decepcionados com o fato de tanto tempo e esforço terem resultado, até agora, em apenas oito filhos".
Entre as crianças monitoradas de perto, três apresentaram sinais do que é conhecido como "reversão", um fenômeno ainda pouco compreendido.
Trata-se de "um fenômeno em que a terapia inicialmente consegue produzir um embrião com pouquíssimas mitocôndrias defeituosas, mas, no momento do nascimento, a proporção de mitocôndrias anormais em suas células aumenta significativamente", explicou.
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