Brasil boicota pela 1ª vez discurso na ONU e se retira antes de Netanyahu entrar
A delegação brasileira que participa da Assembleia-Geral da ONU em Nova York se retirou do plenário nesta sexta-feira, 27, antes de o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, subir ao palco para fazer seu discurso. A ação foi um protesto - repetido por outras várias delegações de outros países - contra a condução da guerra na Faixa de Gaza e à recente escalada contra o Hezbollah no Líbano.
A decisão do País não estar presente no discurso de Netanyahu partiu do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou um diplomata ao Estadão/Broadcast. Ele determinou que o Brasil não participaria na noite de ontem, dia 26. Teria pesado na decisão a escalada do conflito no Oriente Médio, com dois brasileiros mortos no Líbano, além de toda crise humanitária na Faixa de Gaza, explica, na condição de anonimato.
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Outro diplomata ouvido pela reportagem diz que a ausência da diplomacia brasileira no discurso de Netanyahu foi uma "orientação de Brasília". "Sempre acompanhamos todos", afirma a fonte, que prefere não ser citada.
Tradicionalmente, ao menos um diplomata brasileiro participa de todos os discursos de chefes de Estado na ONU durante a Assembleia-Geral. Em um discurso do governo israelense, essa é a primeira vez na história que o Brasil se retira.
Quando Netanyahu entrou no salão e foi apresentado, vaias e vozes elevadas ecoaram no espaço, e muitos delegados deixaram o local. De acordo com a agência Associated Press, houve tanta confusão na plateia que o diplomata presidente teve que gritar: "Ordem, por favor".
O governo Lula tem sido um forte crítico a Israel pela ofensiva militar em Gaza e, mais recentemente, pelos ataques contra o grupo Hezbollah, no Líbano. Nesta semana, o Itamaraty condenou, "nos mais fortes termos", os ataques aéreos israelenses contra zonas civis no Líbano, ao confirmar a morte dos dois brasileiros menores de idade.
Lula, mais de uma vez, já afirmou que o governo de Netanyahu está cometendo um "genocídio", o que provocou uma crise diplomática. Há cerca de sete meses, o País está sem embaixador em Israel. Ao falar em evento, em Nova York, nesta semana, o presidente brasileiro disse que a ONU "não tem coragem" de criar o Estado da Palestina.
Na quinta-feira, Lula encontrou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na sede da ONU e defendeu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "É a primeira vez que eles participam da Assembleia-Geral da ONU. Manifestei minha solidariedade pelo sofrimento de mulheres e crianças palestinas com a violência e a necessidade de um cessar-fogo imediato", escreveu Lula no Instagram.
Com a assembleia esvaziada, Netanyahu repetiu que vai continuar a campanha para destruir a milícia xiita Hezbollah, no Líbano, prometeu derrotar o Hamas na Faixa de Gaza até a "vitória total" e ameaçou o Irã. "Se vocês nos atacarem, nós os atacaremos", declarou. Do lado de fora da sede da ONU em Nova York, manifestantes contra Netanyahu também protestaram.
Durante o discurso do primeiro-ministro israelense, as nações que acompanhavam reagiam com palmas e vaias, conforme ele prometia novas retaliações ao Irã, caso haja novo ataque do país vizinho, e afirmava que não vai recuar da Faixa de Gaza enquanto o Hamas não devolver todos os reféns israelenses com vida.
Netanyahu ainda criticou a postura de líderes globais na Assembleia-Geral da ONU, que constantemente em seus discursos criticaram as incursões militares israelenses contra rivais no Oriente Médio, em território libanês e iraniano, por exemplo. Segundo ele, a postura dos líderes que discursam contra os ataques de Israel é "antissemita", e desrespeita o povo israelense.
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