Pesquisador de Havard analisa relação entre guerras e eleições nos EUA; veja entrevista
Os candidatos à Casa Branca têm posições divergentes em relação aos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio
Ucrânia x Rússia, Israel x Hamas: as duas guerras que sacodem a geopolítica mundial foram temas do mais recente, e por enquanto único, debate entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Kamala Harris. O encontro aconteceu na última-feira, 10, na Rede ABC. Durante o confronto, os dois expressaram divergências sobre as suas respectivas posturas em relação aos conflitos, caso cheguem à Casa Branca.
Para entender mais sobre os respectivos conflitos a depender de quem vença o pleito presidencial dos Estados Unidos, O POVO entrevistou Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Veja na íntegra a entrevista com o professor Vitelio Brustolin:
Ucrânia x Rússia
O guerra russo-ucraniana é o principal conflito armado que acontece em solo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Considerada pela Rússia como sua área de influência, a Ucrânia tem hoje cerca de 20% de seu território controlado pelas forças inimigas.
Iniciada em 24 de fevereiro de 2022, a invasão russa no país foi amplamente condenada nas Nações Unidas, resultando em uma resposta de vários países no repasse de armas para Ucrânia, e no fim da neutralidade de décadas de Finlândia e Suécia, que aderiram à Otan.
A possível adesão da Ucrânia à aliança ocidental foi um dos argumentos utilizados por Vladimir Putin para a invasão ao país vizinho. Contextualizar a importância da aliança nas políticas dos dois candidatos é fundamental para compreender suas posições.
Trump alega que os Estados Unidos pagam um preço muito alto para manter a segurança europeia, ao mesmo tempo que cobra aos membros da Otan gastos maiores com suas defesas. Em uma de suas frases polêmicas, Trump disse que encorajaria a Rússia a invadir países que não comprissem as metas da Otan de gastos em defesa.
Seguindo a mesma posição, o republicano reclama dos gastos dos Estados Unidos com a guerra na Ucrânia. Alegando como objetivo acabar com a guerra, mesmo que isto resulte na perda de territórios da Ucrânia.
Em referência ao tema, Vitelio Brustolin lembra que, no debate, da ABC News, Kamala colou a imagem do republicano a ditadores, o chamando de fraco, dizendo que Putin iria almoçá-lo .
“Kamala disse que o Trump seria almoçado pelo Putin. No Brasil, diríamos que o Putin teria jantado o Trump. Então a Kamala tentou mostrar um Trump fraco. Ao contrário do que ele diz”, disse Vitelio.
Para o professor, no caso de eleição de Kamala, a democrata deve manter a mesma postura do atual presidente e continuar com a assistência ao país europeu. A candidata alegou a importância da democracia para explicar a assistência dada por Biden à Ucrânia.
Perguntado sobre a possibilidade da Europa agir sozinha no caso de uma vitória de Trump com um corte de repasses de armamentos para defesa ucraniana, Vitelio não descarta essa possibilidade se a Rússia avançar mais.
“A Europa tem medo do avanço russo, tanto que a resposta ao avanço russo ao invadir a Ucrânia, foi acabar alargando a Otan. A Suécia era neutra desde de 1814, e não saiu da neutralidade nem na segunda guerra mundial. E a Finlândia era neutra desde 1945”, argumentou o acadêmico.
Para o professor, o retorno de Trump à Casa Branca seria muito prejudicial para a resistência ucraniana.
“Não há dúvidas que uma vitória do Trump seria um desastre para a Ucrânia. Ele foi perguntado duas vezes sobre isso, se é o interesse dos Estados Unidos que a Ucrânia vença essa guerra e ele desconversou e disse que o interesse é que a guerra cabe”, conclui Vitelio.
Ainda segundo o professor, acabar com a guerra por meio da política apaziguamento não vai funcionar, visto que foi a mesma política adotada com Hitler e que não impediu a invasão da Polônia pela Alemanha nazista, o que deu início a Segunda Guerra Mundial.
Israel x Hamas
Em relação à guerra em Gaza, as posições parecem se inverter. Durante o debate da ABC, Trump acusou a adversária de odiar Israel. Em uma tentativa de considerar Kamala complacente com o grupo terrorista Hamas.
Para Vitelio, a posição de Kamala é de condenação ao Hamas, mas também de crítica ao uso abusivo da forma por parte de Israel em Gaza, considerando o alto número de mortes de civis.
“Ela critica o ato do Hamas, chama de terrorista, mas critica o uso abusivo da força na Faixa de Gaza onde pessoas inocentes estão sendo mortas lá”, explicou o professor.
Kamala deve manter a politica de Biden, de apoio a Israel, mas manter criticas pontuais a situações abusivas por parte do Estado judeu, além de manter um apoio a política de dois estados, como ele mesmo falou em seu discurso na conversão democrata em 22 de agosto passado.
Já a preferência de Israel por Trump não é necessariamente do país, mas do grupo político do premier israelense. A vitória de Trump poderia considerar uma sobrevida ao governo Netanyahu, aponta o professor.
No caso de vitória de Trump, é provável que as criticas à resposta israelense em Gaza inexistam, e que o governo tenha carta branca para realizar ataques ainda mais fatais em território palestino sem ser questionado pelo seu principal aliado e fornecedor de material bélico.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente