Arce rebate questionamentos de Milei e Morales sobre tentativa de golpe
Desde que militares cercaram com tanques o palácio do governo, há oito dias, o presidente da Bolívia, Luis Arce, não dorme bem, diz.
Além da tentativa de golpe de Estado e da crise econômica, estão entre as preocupações de Arce o ex-presidente Evo Morales e o presidente da Argentina, Javier Milei, antagonistas ferrenhos, mas unidos na suspeita de que o líder boliviano forjou um golpe.
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Após receber um apoio quase unânime, inclusive da comunidade internacional, Arce passou a responder aos questionamentos feitos pelo ex-comandante do Exército Juan José Zúñiga no momento da sua prisão, em 26 de junho.
Acusado de comandar o levante militar, o general Zúñiga afirmou que foi o próprio Arce que lhe pediu que preparasse algo para aumentar a sua popularidade, o que o presidente negou.
As palavras de Zúñiga ganharam eco em Morales, ex-aliado de Arce e com quem o presidente boliviano disputa o poder e a indicação do Movimento ao Socialismo (MAS) para as eleições presidenciais de 2025.
Após Morales, Milei também passou a questionar o golpe fracassado, o que levou La Paz a convocar seu embaixador em Buenos Aires.
Vestido à vontade, sem gravata e de calça jeans, Arce recebeu a AFP em uma sala ao lado do seu gabinete.
Pergunta: O presidente da Argentina diz que não houve uma tentativa de golpe na Bolívia. Além de convocar o embaixador em Buenos Aires, o senhor considera tomar outras medidas?
Resposta: "Bom, não são de se estranhar essas declarações do Sr. Milei. Ele tem conflitos com a Espanha, o Brasil, Paraguai... Teve desavenças com o Chile... Acho que não contribui para a boa vizinhança essa inquietação que ele tem mostrado, infelizmente.
O que mais nos estranha é a coincidência entre Milei e Evo Morales. Acho que está a tempo de Evo decidir de que lado da história quer estar, porque a posição que o Sr. Milei defende claramente não é uma posição de esquerda."
P: Existe a opção de uma aproximação com Morales para as eleições de 2025, ou buscará a reeleição?
R: "Não sei de onde vem a minha candidatura, mas todos nós sabemos que ele quer ser candidato. O golpe de Estado deveria tê-lo feito refletir, e não assumir uma posição claramente eleitoral e perder os princípios ideológicos e políticos de um homem de esquerda.
Infelizmente, Evo Morales acredita ser dono do instrumento político [o partido Movimento ao Socialismo], mas são as organizações sociais as verdadeiras e legítimas donas do instrumento político."
P: Há uma situação econômica complicada devido à escassez de combustível e dólares. Bastará ao senhor apenas um mandato para colocar a economia de volta nos trilhos?
R: "Já estamos tomando medidas para resolver essa questão econômica, apesar do boicote da direita e de Evo Morales contra nós na Assembleia. Sobre a questão do diesel e da gasolina, aos poucos vem voltando à normalidade, ao abastecimento.
Em relação aos dólares, justamente no dia do golpe o Banco Central informava sobre uma medida importante, e hoje estamos podendo divulgar para os diferentes veículos de comunicação qual é o uso das criptomoedas no nosso país. Ninguém quer usar o dólar, mas aqui pedem o dólar, enquanto em outros países estão se desfazendo dos dólares.
Aos poucos, vamos tomando medidas que vão resolver essa questão da escassez de meios de pagamento, porque, na verdade, temos uma falta de liquidez temporária de dólares. Portanto, isso pode ser resolvido."
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