Família roubada por nazistas recebe obras do Louvre e doa de volta ao museu
As obras foram exibidas durante muito tempo nas salas de pintura nórdica do Louvre sob o estatuto de obras "recuperadas". Elas voltarão a ser expostas ao público a partir da quarta
Duas obras do século XVII saqueadas durante a ocupação nazista na França e expostas no Louvre durante décadas devido à impossibilidade de encontrar os seus donos, foram devolvidas aos herdeiros de uma família judia, que as doou de volta ao museu.
A operação é "um apelo para nunca esquecer, um compromisso para transmitir a memória e uma lembrança constante de que devemos agir", comentou a diretora-presidente do Louvre, Laurence Des Cars, em comunicado.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
As obras em questão, "Nature morte au jambon" de Floris van Schooten e "Mets, fruits et verre sur une table" de Peter Binoit, provavelmente pintadas em 1630 e 1620 respectivamente, foram exibidas durante muito tempo nas salas de pintura nórdica do Louvre sob o estatuto de obras "recuperadas" (MNR na terminologia oficial), mas sua procedência era desconhecida.
Elas voltarão a ser expostas ao público a partir da quarta-feira, 5, afirmou Marion, uma das herdeiras legais das pinturas.
É um "dever de memória com sua família, saqueada e perseguida, cuja história é um exemplo para as gerações atuais", reforça Marion.
Juntamente com as pinturas, a exposição apresenta diversos documentos históricos sobre a história de seus antepassados.
Obras demoraram a ser devolvidas por erro de grafia
Os herdeiros da família Javal, da qual cinco membros foram deportados e assassinados em Auschwitz, foram encontrados recentemente devido a um trabalho conjunto de pesquisadores do Ministério da Cultura, do Arquivo Nacional francês e da Comissão de Indenização às Vítimas de Espoliação (CIVS, na sigla em francês), com a ajuda de genealogistas, o que permitiu ao Estado devolver-lhes as pinturas.
"As pesquisas permitiram compreender que as duas pinturas (...) pertenciam na verdade à Mathilde Javal", cuja mansão localizada em Paris foi ocupada e esvaziada em 1944, disse o ministério em um comunicado.
Embora Mathilde tenha solicitado oficialmente a restituição das obras de arte de sua família em 1945, as pinturas não puderam ser devolvidas devido a erros na grafia do sobrenome Javal.
Apenas através de um acordo de 2015 com o Ministério da Cultura, a organização Généalogistes de France concordou em realizar gratuitamente as pesquisas necessárias para identificar os herdeiros vivos de seis proprietários de obras "recuperadas", incluindo os Javal.
Obras saqueadas em ocupação nazista
Entre 1940 e 1945, aproximadamente 100 mil bens culturais foram saqueados na França, sobretudo de famílias judias, pelo regime nazista e pelo governo de Vichy, ou vendidos sob coação.
Muitos deles foram transferidos para a Alemanha. No final da Segunda Guerra Mundial, cerca de 60 mil obras foram devolvidas à França, das quais 45 mil retornaram aos seus proprietários.
Das 15 mil obras restantes, 13 mil foram vendidas pelo Estado, enquanto cerca de 2.200 ficaram sob a guarda de museus nacionais, integrando a seção das chamadas obras "recuperadas" e não pertencem a coleções nacionais.
O Museu do Louvre é responsável por 1.610 obras recuperadas, das quais 791 são pinturas.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente