Senegal: ponte do narcotráfico entre América do Sul e Europa

Autor DW Tipo Notícia

País afriano se tornou um centro de trânsito fundamental no comércio global de cocaína, apesar de o consumo local continuar diminuindo. Especialistas alertaram sobre as implicações para a saúde, a segurança e a economia.As autoridades aduaneiras senegalesas confiscaram uma quantidade significativa de cocaína perto da fronteira do país com o Mali, em abril. Especialistas dizem que este é um dos muitos casos que destacam o crescente envolvimento da região no comércio global de drogas. O país da África Ocidental funciona agora como uma escala importante entre a América do Sul e a Europa, normalmente o destino final das mercadorias dos traficantes. Apesar disso, o consumo de cocaína na região tem diminuído, consolidando ainda mais o papel da África Ocidental como ponto de trânsito. Diminuição do consumo local O uso de cocaína nas ruas de Dakar despencou nas últimas décadas, tornando o mercado estrangeiro muito mais atraente para os envolvidos no comércio de drogas. Andre Correa, consultor independente na luta contra a delinquência juvenil, conta à DW que "em comparação com a década de 1990, o consumo de cocaína diminuiu muito, mas o trânsito aumentou". Ele próprio ex-usuário de cocaína, Correa acrescentou que "na década de 1980, a gente consumia cheirando e tudo mais. Agora, os jovens transformaram em pedrinhas", relata, referindo-se à forma cristalina da droga que pode ser fumada, também conhecido como crack, e que oferece um efeito mais intenso. Normalmente, o crack é mais impuro – portanto, mais barato para muitos usuários de drogas. No auge da sua popularidade, existiam áreas em Dakar, como Medina, Grand Dakar e Parcelles Assainies, onde fumar crack era comum, especialmente à noite. Mas, hoje em dia, mesmo esta versão mais acessível da droga altamente viciante não é mais uma visão comum. Mudança nos padrões regionais do tráfico As atividades de tráfico substituíram os padrões de consumo locais. E o envolvimento do Senegal no tráfico de cocaína é apenas um aspecto de uma tendência maior de tráfico extensivo na subregião, de acordo com Amado Philip de Andres, representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) para África Ocidental e Central. "Se compararmos 2019 e 2024, as apreensões e o tráfico de cocaína para a África Ocidental estão claramente aumentando. A Guiné-Bissau já não é a principal porta de entrada", destaca Andres à DW. "Vimos apreensões em Cabo Verde, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Libéria, Costa do Marfim. Também assistimos a um aumento no tráfico de cocaína para o Togo e o Benin". De 2019 a 2022, só Cabo Verde (que tem uma população de apenas cerca de 560 mil pessoas) testemunhou a apreensão de mais de 17 toneladas de cocaína, destacando a magnitude do papel que a região desempenha no comércio global de drogas. Houve também um aumento significativo nas apreensões ao longo do Golfo da Guiné, com mais de 10 toneladas confiscadas até março de 2024. Nos países do Sahel, como Burkina Faso, Níger e Mali, também houve um aumento recorde nas apreensões, sugerindo que estas nações estão agora desempenhando um papel significativo no contrabando de cocaína para a Europa. Implicações econômicas e de saúde Apesar destas tendências e padrões em mudança, o comércio de drogas também continua tendo consequências graves para as populações locais. Mor Gassama, economista do Senegal, destaca o papel do país como ponto de trânsito, ao mesmo tempo que enfatiza o impacto na saúde pública e na economia. "O tráfego é extremamente denso, e Dakar continua sendo uma zona de trânsito, mesmo que parte dele seja susceptível de ser consumido no local. Isto não é uma boa notícia, em primeiro lugar, para a saúde da população. Além disso, também promove a circulação de dinheiro ilícito", explica. Em resposta a esta taxa crescente de tráfico de drogas, o UNODC tem colaborado ativamente com os países membros para melhorar as medidas de controle fronteiriças e tentar combater o tráfico de drogas e a criminalidade grave na África, destaca Andres. Mas os volumes recordes de apreensões de cocaína na região continuam. Autor: Robert Adé

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