Chilenos se despedem do ex-presidente Piñera
Apoiadores do ex-presidente Sebastián Piñera começaram a se despedir, em Santiago, do primeiro chefe de Estado chileno de direita após o retorno do país à democracia, em 1990.
Piñera morreu na tarde de ontem por "asfixia por submersão" quando seu helicóptero caiu no Lago Ranco, informou a procuradora regional de Los Ríos, Tatiana Esquivel, na cidade de Valdivia, a cerca de 70 km do lugar do acidente.
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Piñera pilotava seu helicóptero acompanhado de três pessoas, incluindo sua irmã, que saíram ilesas. "Ele estava livre, sem cinto, ao lado do helicóptero, a 28 metros de profundidade", disse nesta quarta-feira o bombeiro Ricardo González, que o resgatou.
O corpo foi levado de Valdivia para Santiago, a 850 km, em um voo da Força Aérea, acompanhado dos quatro filhos de Piñera, de alguns de seus netos e da viúva, Cecilia Morel, que se mostraram abatidos diante das centenas de pessoas que os aguardavam na região da antiga sede do Congresso.
Os apoiadores do ex-presidente aguardavam a sua vez de se aproximar do caixão, que permanecerá até sexta-feira no antigo Congresso e depois será levado à Catedral de Santiago e ao Palácio de La Moneda, antes de ser sepultado em cerimônia reservada.
O Congreso ficará aberto ao público até amanhã. Confirmaram presença na missa de sexta-feira os ex-presidentes do Equador Guillermo Lasso e do Paraguai Mario Abdo, segundo a chancelaria.
O empresário, de 74 anos, era um dos homens mais ricos do Chile. Foi o primeiro presidente de direita a chegar ao poder por eleição popular após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acabando com duas décadas de hegemonia de governos de esquerda.
Piñera, que governou por dois mandatos, 2010-2014 e 2018-2022, foi elogiado por apoiadores e adversários políticos por sua capacidade de diálogo e seu compromisso com uma democracia liberal.
"Foi um democrata desde a primeira hora e buscou genuinamente o que acreditava ser o melhor para o país", declarou o presidente de esquerda Gabriel Boric, que sucedeu Piñera em março de 2022.
Entre os marcos de suas gestões, destacam-se a agilidade na reconstrução do país após o terremoto de 2010; a determinação no resgate com vida dos 33 mineiros que ficaram presos a 700 metros de profundidade durante 69 dias naquele mesmo ano, no norte do Chile; e a rápida compra de vacinas da China em 2020, que tornou o seu país um dos primeiros a imunizar a maioria da população contra a covid-19.
O ex-presidente havia viajado nesta semana para sua casa em Lago Ranco, local rodeado de florestas próximo a um imenso lago, situado 920 km ao sul de Santiago, onde organizou reuniões com seus ex-ministros para ajudar na reconstrução de Valparaíso, devastada por incêndios que deixaram 131 mortos.
Era "um homem que não descansava", afirmou sua ex-ministra Karla Rubilar, ao contar que Piñera os havia convocado na última segunda-feira para uma conversa por Zoom, pois estava "preocupado sobre como contribuir ao governo do presidente Boric na grande tragédia que estamos vivendo" em Viña del Mar e outras regiões do sul do país.
Piñera mal havia decolado com seu helicóptero, depois de almoçar com amigos e sua irmã Magdalena Piñera. Ele estava na aeronave com ela, seu amigo e empresário Ignacio Guerrero e o filho deste último, Bautista Guerrero, quando caíram em uma tarde marcada por fortes chuvas e neblina.
Governos e líderes políticos expressaram seu pesar pela morte do dirigente chileno e destacaram a sua capacidade de diálogo, apesar das diferenças ideológicas que o distanciaram de certos chefes de Estado.
"Surpreso e triste com a morte de Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile. Convivemos, trabalhamos pelo fortalecimento da relação dos nossos países e sempre tivemos um bom diálogo, quando ambos éramos presidentes, e também quando não éramos", disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sua conta da rede social X.
"Muito triste seu falecimento de forma tão abrupta. Meus sentimentos aos seus familiares e amigos de Piñera por esta perda", concluiu o presidente.
"Paz à sua alma!", desejou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na rede social X, acrescentando que seu país se unia "ao luto que acomete o povo do Chile diante do falecimento lamentável" de Piñera.
O presidente americano, Joe Biden, declarou que valorizou muito o tempo em que trabalhou com o chileno na última década. "Vi em primeira mão a sua dedicação com o país", afirmou.
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