Alvo da PF por suspeita de terrorismo admite recrutamento pelo Hezbollah
A Polícia Federal ainda inseriu mandados de prisão contra outros dois alvos, que estariam no Líbano, na lista de difusão vermelha da Interpol - a relação dos mais procurados da polícia internacional
Um dos alvos da Operação Trapiche - ofensiva aberta nesta quarta-feira, 8, para desmantelar atos preparatórios de terrorismo contra prédios da comunidade judaica no Brasil - admitiu, em depoimento à Polícia Federal o recrutamento pelo grupo radical Hezbollah.
O investigado em questão foi alvo de buscas da Trapiche, que vasculhou onze endereços em dois Estados e no Distrito Federal. Dois homens foram presos no bojo da ofensiva: um foi detido em uma panificadora e outro capturado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Junto do alvo localizado quando desembarcava no Brasil, a PF apreendeu US$ 5 mil. Os investigadores visam descobrir a origem do valor. Eles querem saber se o montante foi entregue pelo Hezbollah para bancar eventual ataque no País.
A Polícia Federal ainda inseriu mandados de prisão contra outros dois alvos, que estariam no Líbano, na lista de difusão vermelha da Interpol - a relação dos mais procurados da polícia internacional.
Segundo os investigadores, o grupo sob suspeita planejava ataques contra prédios da comunidade judaica no Brasil. O grupo já estaria inclusive "monitorando" alguns alvos, como sinagogas, fazendo fotos de tais locais.
Ao longo do inquérito foi constatado que alguns dos investigados viajaram para Beirute (Líbano), para encontros com o Hezbollah. As apurações tiveram início com informações colhidas pela inteligência dos Estados Unidos e de Israel.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse nesta quinta-feira, 9, que "nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal". A declaração é uma resposta ao primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que afirmou que a prisão dos dois brasileiros suspeitos de agir pelo Hezbollah teve a colaboração do serviço secreto israelense, o Mossad.
"Nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil. E nenhum representante de governo estrangeiro pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal, ainda em andamento", escreveu Dino no X (antigo Twitter). O ministro também disse que a Operação Trapiche, que prendeu os dois brasileiros, vem de uma investigação anterior ao começo da guerra em Israel e não tem a ver com o conflito.
O gabinete de Netahyahu publicou uma nota nesta quarta, 8, que provocou a reação de Dino. "O Mossad agradece às autoridades brasileiras por seu papel na prisão da célula terrorista operando sob ordens do Hezbollah, que pretendia lançar um ataque contra alvos da comunidade judaica no Brasil", diz o texto.
O primeiro-ministro tomou para o serviço secreto israelense parte do crédito pelas prisões, ao afirmar, em outro trecho da nota, que os dois brasileiros pertenceriam a uma rede mundial ligada ao Hezbollah que é alvo de investigações do serviço secreto israelense. "O Mossad continuará operando para prevenir esses ataques onde e quando for necessário", disse Netahyahu.
Dino rebateu o primeiro-ministro israelense dizendo que, apesar de seguir as cooperações internacionais, "o Brasil é um País soberano". Ele também afirmou que os resultados da "investigação técnica, isenta e com apoio em provas analisadas exclusivamente pelas autoridades brasileiras" serão divulgados quando for "legalmente oportuno".
O Hezbollah é uma milícia xiita, cujo nome significa "partido de Deus". O grupo foi criado durante a guerra civil libanesa nos anos 1980 e é próximo do Hamas. Embora não tenha ingressado abertamente no conflito de Israel, o Hezbollah já disse que o enxerga como uma "guerra santa", elogiou o Hamas e trocou disparos com o exército israelense na fronteira do Líbano. A possibilidade de a milícia ingressar com suas forças na guerra é um dos pontos de tensão sobre o destino do confronto.
De acordo com o que divulgou o portal BBC News, os dois brasileiros presos nesta quarta já tinham escolhido os alvos dos ataques. Além de sinagogas, eles pretendiam atacar a Embaixada de Israel, em Brasília. Eles podem ser enquadrados nos crimes previstos na Lei de Terrorismo, de 2016, sancionada no final do governo de Dilma Rousseff.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) elogiou a operação da PF e pediu que as autoridades investiguem como os brasileiros foram cooptados para as ações que pretendiam fazer em nome do Hezbollah.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente