Caos da guerra no Sudão dificulta a triste busca pelos desaparecidos

Quando Ayman Abu Arki e seu tio Hosam pararam de atender seus telefones no Sudão, a família recorreu às redes sociais, o único canal disponível para encontrá-los em meio ao caos da guerra.

A única resposta que receberam foi uma foto no Facebook de um carro crivado de balas, com dois corpos dentro.

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Na imagem, conseguiram identificar a placa do veículo que os dois homens levaram quando, apesar dos combates, "saíram para comprar água" em 16 de abril, disse um parente à AFP.

Na véspera, havia começado o confronto entre o comandante do exército e líder de fato do país, Abdel Fatah al Burhan, e o general Mohamed Hamdan Daglo, que comanda a milícia das Forças Paramilitares de Apoio Rápido (FAR).

A disputa entre os dois generais rivais, que foram aliados no golpe de Estado de 2021, surpreendeu a população em pleno fim de semana do Ramadã. Muitos não tinham reservas de comida ou de água.

Por isso, muitas pessoas como Ayman e Hosam Abu Arki arriscaram sair de casa, sob o fogo de artilharia e bombardeios.

Na capital Cartum, devastada pelos combates, grande parte de seus cinco milhões de habitantes não tem água encanada ou eletricidade. As redes sociais se tornaram a única esperança para as famílias que tentam encontrar os desaparecidos.

Heba, que preferiu não divulgar seu nome completo, disse que não conseguiu contato com o pai no dia 23 de abril. Naquele dia, seu pai saiu para comprar um remédio essencial. "Ele nunca voltou", contou à AFP.

Esse fenômeno é tão generalizado que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) estabeleceu uma linha direta para denunciar desaparecimentos.

Munira Edwin falou pela última vez com seu irmão Babiker em 15 de abril. Quando o confronto começou, "ele me ligou para pedir que dissesse à esposa e aos seis filhos que estava bem", disse. Depois dessa ligação, eles não se falaram novamente.

Edwin entrou em contato com uma iniciativa chamada Mafqoud ('Desaparecido' em árabe), que é um projeto online para ajudar a encontrar pessoas desaparecidas em meio à violência.

Um grupo de voluntários iniciou o projeto em 2019, quando os dois generais rivais, que agora se enfrentam no conflito, reprimiram a tiros os protestos pró-democracia.

Munira Edwin recebeu um telefonema da Mafqoud, quase duas semanas após o desaparecimento de seu irmão, que confirmou seus piores temores.

"Eles me disseram que o corpo de Babiker foi encontrado com dois buracos de bala e que ele estava na Grande Mesquita", um local próximo ao ponto de ônibus que ele usava para voltar do trabalho para casa, lembrou.

Desde então, "estamos em contato com o imã da mesquita" para que guarde o corpo, para que sua família possa enterrá-lo um dia.

O porta-voz da Mafqoud, Mosab Kamel, estima que há 250 pessoas desaparecidas desde o início dos combates, a maioria delas idosos, pessoas com deficiência e crianças.

Na semana seguinte, "havia entre 10 e 15 desaparecidos por dia", dos quais muitos foram encontrados: alguns foram detidos pelos paramilitares e outros pelo exército.

Mas para outros, a espera pode ser longa porque os combates impossibilitam a retirada dos corpos das ruas e sua identificação.

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