Combates continuam no Sudão, apesar dos pedidos de cessar-fogo

Os disparos e as explosões continuam nesta terça-feira (18) em Cartum, capital do Sudão, no quarto dia de intensos combates entre dois generais rivais, que deixaram quase 200 mortos, apesar dos apelos internacionais por um cessar-fogo.

O conflito opõe o comandante do Exército, general Abdel Fattah al-Burhan, líder de fato do país, e seu ex-número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti", chefe do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).

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O conflito entre ambos, latente durante semanas, explodiu pela falta de acordo sobre como integrar os paramilitares das FAR às tropas regulares.

Sob pressão da comunidade internacional, o general Daglo anunciou, nesta terça, que havia aprovado "um cessar-fogo de 24 horas", mas, no horário indicado, às 13h (em Brasília), o barulho dos combates continuava em diferentes bairros de Cartum, segundo várias testemunhas. "Não há nenhum sinal de apaziguamento em Cartum e em muitas outras regiões", constatou a ONU.

As FAR acusaram o Exército regular de ter "violado a trégua", enquanto seus próprios homens continuavam disparando com armas pesadas nas ruas, indicaram testemunhas.

Paramilitares das FAR foram vistos nesta terça-feira em caminhonetes atirando para o alto, na entrada de vários prédios residenciais em Cartum.

Já os aviões comandados pelo general Al Burhan, que lidera o país desde o golpe de 2021, tinham como alvo os quartéis-generais das FAR, espalhados pela cidade.

Os ataques aéreos já atingiram quatro hospitais em Cartum. Em todo o país, pelo menos 16 hospitais estão fora de serviço, segundo um grupo de médicos.

O conflito persiste, apesar dos apelos dos ministros das Relações Exteriores do G7, da ONU e dos Estados Unidos para "acabar imediatamente com a violência".

Na capital, a maioria dos moradores está confinada em casa, sem eletricidade nem água encanada, e as poucas mercearias abertas avisaram que não vão continuar funcionando por muito tempo sem receber novas mercadorias.

Grupos de mulheres e homens com sacolas enormes foram vistos caminhando em direção ao sul, onde não há combates.

"Faz quatro dias que não dormimos", disse à AFP Dallia Mohamed Abdelmoniem, de 37 anos, que mora em Cartum.

Segundo a ONU, tiros e foguetes deixaram mais de 185 mortos desde sábado, e cerca de 1.800 feridos.

Tanto as Nações Unidas quanto várias ONGs decidiram suspender a ajuda no país, onde a fome atinge mais de um terço dos habitantes.

Três funcionários do Programa Mundial de Alimentos (PMA) foram mortos no sábado. Na segunda-feira, um comboio diplomático dos Estados Unidos foi alvo de um ataque, enquanto o embaixador da União Europeia foi "atacado em sua residência" em Cartum.

A Cruz Vermelha e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediram às duas partes que garantissem acesso às pessoas que necessitam de ajuda.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, denunciou a "pilhagem de certos centros de saúde e o uso de outros com fins militares".

Na região de Darfur, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou que, em três dias, recebeu 183 feridos em seu último hospital em funcionamento. "A maioria é de civis, muitos deles crianças", informou a ONG, lembrando que 25 morreram por falta de atendimento.

Darfur é o reduto do general Daglo e de milhares de seus homens, que cometeram inúmeras atrocidades durante a guerra de 2003 na região.

Neste momento é impossível saber quem controla quais instalações. As duas partes em conflito reivindicam o controle do aeroporto, do palácio presidencial e da sede do Estado-Maior.

"É a primeira vez na história do Sudão desde a sua independência [em 1956] que existe tal nível de violência no centro, em Cartum", disse à AFP Kholood Khair, fundador do centro de pesquisa Confluence Advisory, em Cartum.

Para o cientista político Amr Chobaki, "a situação atual é o resultado dos erros do regime" do ditador Omar al Bashir (1989-2019), "e do período de transição que, depois da queda de Bashir, deveria ter tratado da unificação das forças armadas".

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