Rússia prende mulher acusada do assassinato de conhecido blogueiro militar
A Rússia prendeu, nesta segunda-feira (3), uma mulher acusada do ataque que matou no domingo, em São Petersburgo, um conhecido blogueiro militar defensor da invasão na Ucrânia, além de responsabilizar Kiev e apoiadores do opositor russo preso Alexei Navalny.
Os investigadores anunciaram a prisão de uma mulher identificada como Daria Trepova, de nacionalidade russa e apresentada como ativista da Fundação Anticorrupção de Navalny, proibida na Rússia desde 2021.
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A mulher, de 26 anos, é acusada de portar a estatueta explosiva que matou o blogueiro Maxim Fomin, conhecido pelo pseudônimo de Vladlen Tatarsky.
O caso foi classificado como uma "ação terrorista (...) planejada e organizada do território ucraniano", disse o Comitê de Investigação, que destacou as "opiniões de oposição" ao Kremlin de Trepova.
Na sequência, a polícia divulgou um vídeo, no qual ela admite ter carregado a estatueta, recusando-se a dizer a procedência da bomba. Ela não faz qualquer menção à organização de Navalny. Preso há mais de dois anos, este ativista cumpre uma sentença de nove anos de detenção por fraude. Também é acusado de extremismo.
O ataque "foi planejado pelos serviços especiais ucranianos, que recrutaram agentes entre os que colaboram com a chamada Fundação Anticorrupção de Navalny", anunciou o comitê antiterrorismo russo nesta segunda-feira.
O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, denunciou um "ato de terrorismo".
Também nesta segunda, Putin condecorou o blogueiro militar. Maxim Fomin recebeu, em homenagem póstuma, a Ordem da Coragem "pela coragem e bravura que demonstrou no exercício de sua profissão", declarou o Kremlin no decreto publicado em sua página institucional.
Questionado hoje sobre o caso, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que estava muito ocupado, preocupando-se com seu país, para prestar atenção ao ataque na Rússia.
Na véspera, Mikhailo Podoliak, conselheiro do ministro-chefe da Presidência ucraniana, desmentiu no Twitter qualquer envolvimento de Kiev.
Após as acusações contra a organização de Navalny, seu porta-voz, Kira Yarmysh, denunciou um golpe organizado pelo Kremlin.
"Alexei será julgado em breve por extremismo e pode pegar 35 anos (de prisão). E o Kremlin disse 'é ótimo poder acrescentar uma acusação de 'terrorismo'", tuitou.
A Rússia está fazendo uma repressão implacável contra os críticos do Kremlin, em particular contra os que denunciam a intervenção militar na Ucrânia.
De acordo com a agência de notícias Tass, a mulher presa hoje já ficou detida, por dez dias, em 2022, por se manifestar contra a ofensiva russa.
O blogueiro Tatarsky morreu no domingo em um atentado a bomba em um café de São Petersburgo. No momento do ataque, ele discursava em uma conferência de uma organização de apoio à ofensiva russa na Ucrânia, chamada "Cyber Z Front".
O balanço mais recente é de 32 pessoas feridas na explosão, oito delas em estado grave.
O café, onde ocorreu o atentado, pertence ao chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, que declarou no Telegram nesta segunda-feira que o colocou à disposição da organização.
O ataque lembra o que foi cometido em agosto contra Daria Dugin, grande defensora da guerra na Ucrânia e filha do ideólogo ultranacionalista Alexander Dugin. À época, a Rússia também acusou Kiev, que negou ter participado do assassinato.
Em oposição às autoridades russas, Prigozhin pareceu excluir que esses assassinatos tenham sido organizados pelos serviços especiais ucranianos.
"Não acusaria o regime de Kiev desses atos. Acredito que um grupo de radicais está agindo", disse ele no canal de sua assessoria de imprensa no Telegram.
O blogueiro, de 40 anos, era do Donbass, uma região no leste da Ucrânia e epicentro do conflito. Tatarsky, que se deslocava com frequência para a linha de frente do lado russo, tinha mais de meio milhão de seguidores no Telegram.
Segundo a imprensa russa, ele foi preso na Ucrânia aparentemente por um assalto em 2011. Em 2014, aproveitando-se dos confrontos no leste da Ucrânia pelos separatistas pró-Rússia, escapou da prisão e se somou a esses combatentes.
Em 2019, deixou as forças separatistas, segundo o jornal Kommersant, para se dedicar ao seu blog. Em setembro, seus comentários em uma celebração do Kremlin sobre a anexação de várias regiões ucranianas causaram tumulto.
"Vamos ganhar de todo mundo, vamos matar todo mundo, vamos roubar quantas pessoas forem necessárias. Tudo do jeito que a gente gosta", afirmou, diante das câmeras.
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