Chefe regional da Cruz Vermelha alerta para explosão de violência armada no Haiti

Três milhões de pessoas sofrem com a violência armada e a situação se deteriora diariamente no Haiti, adverte Marisela Silva, chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para o Panamá e o Caribe (CICV).

Marisela, que é peruana e visitou o Haiti recentemente, pede ajuda internacional "o mais rapidamente possível" para enfrentar "a crise humanitária" provocada pela violência das gangues.

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O Haiti, país mais pobre das Américas, atravessa uma crise profunda, exacerbada desde o assassinato do presidente Jovenel Moise, em 2021. Mais de 500 pessoas foram mortas por quadrilhas de criminosos no primeiro trimestre deste ano, segundo a ONU, que pediu neste mês o envio de uma força de apoio especializada.

Segue abaixo um resumo da entrevista de Marisela à AFP no Panamá, sede regional do CICV, realizada na última quarta-feira (29).

Pergunta: Que conclusões tira de sua visita recente ao Haiti?

Resposta: Infelizmente, para a população haitiana, a situação em Porto Príncipe se deteriora cada vez mais. Levo praticamente dois anos e meio visitando e acompanhando nossa equipe naquele local, e a violência armada se aproxima muito mais das zonas residenciais. Há sinais de expansão da violência armada também para outras áreas do país.

P: Em quais setores o Haiti precisa de mais ajuda?

R: Temos aproximadamente 3 milhões de pessoas (ndr: de uma população total de 11,4 milhões) afetadas pela violência armada, e isso tem impacto em sua falta de acesso aos serviços básicos de saúde, restrições de circulação e na impossibilidade de acessar serviços essenciais.

P: A violência é o maior problema que o Haiti enfrenta?

R: Há muitas problemáticas que coexistem. Uma delas, efetivamente, é a violência armada de alta intensidade, mas há uma problemática econômica que põe pressão sobre a população, e uma em termos de saneamento que, infelizmente, gera um caldo de cultura para uma epidemia de cólera.

P: O Haiti, a ONU e alguns chefes de Estado e governo pedem um fundo de ajuda urgente. Considera isto viável?

R: É necessário que a comunidade internacional tenha uma ação firme para poder habilitar esta resposta humanitária frente às necessidades de uma população extremamente vulnerável. O sofrimento e o impacto na população requerem uma resposta firme e oportuna.

P: Em quanto a Cruz Vermelha estima esta ajuda internacional?

R: É um apoio que não pode ser medido, necessariamente, de forma monetária, mas deve ser sustentado. Se hoje a gente compara o impacto da violência armada no Haiti à Ucrânia, com esse conflito armado devastador, podemos nos surpreender ao identificarmos que, em uma mesma semana, pode haver muitos mais mortos e feridos em um contexto como o do Haiti do que em um contexto como o de Ucrânia, Afeganistão, Iêmen ou Síria. O ponto é que todas estas crises, assim como a haitiana, merecem a atenção da comunidade internacional e um apoio comprometido.

P: Por que acha que esta ajuda demora a chegar?

R: Há três razões principais: a primeira é a fadiga da comunidade internacional, que investiu durante anos no contexto haitiano. O segundo elemento é que os Estados Unidos passam por uma recessão econômica. E o terceiro é que há crises que são, de uma ou de outra forma, muito mais midiáticas, como o conflito na Ucrânia.

P: Os Estados Unidos e vários presidentes que participaram da Cúpula Ibero-Americana falam em elaborar um plano para pacificar o Haiti antes de enviarem qualquer ajuda. A Cruz Vermelha acredita nesta proposta?

R: Como o CICV, com base em nossos princípios de imparcialidade, neutralidade e independência, não nos compete nos pronunciarmos. O que podemos dizer é que, quando se propõe a sequência entre ajuda e pacificação, vem a pergunta do ovo e da galinha: quem veio primeiro?

P: Quais consequências a Cruz Vermelha acredita que possa ter a construção do muro construído pelo governo dominicano para frear a migração de haitianos?

R: As medidas que os países puderem adotar em relação aos fluxos migratórios devem estar sempre alinhadas às suas respectivas obrigações internacionais envolvendo a proteção das pessoas.

P: O Haiti está condenado a continuar sendo o país mais pobre das Américas?

R: A esperança de que esta condenação não seja assim é algo que não podemos perder.

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