Fissuras na oposição venezuelana chegam à mesa de negociação com Maduro
As profundas divisões da oposição venezuelana nas negociações que se desenvolvem no México com o governo de Nicolás Maduro ficaram evidentes nesta quinta-feira (12), depois que o dirigente radical Leopoldo López acusou delegados opositores de atuarem a favor dos "interesses" do presidente chavista.
Essas acusações chegam uma semana depois que uma maioria dentro da oposição eliminou, desde 5 de janeiro, o simbólico "governo interino" de Juan Guaidó na Venezuela, reconhecido há quatro anos pelos Estados Unidos e outros 50 países em uma ofensiva fracassada para tomar o poder após denunciar como "fraude" a reeleição de Maduro.
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"É uma delegação que lamentavelmente tem pessoas que têm ligação direta com a ditadura", comentou López, que pertence à ala mais radical da oposição e vive exilado na Espanha desde outubro de 2020, em uma videoconferência com correspondentes estrangeiros.
O político investiu, em particular, contra os negociadores Tomás Guanipa e Luis Aquiles Moreno, membros de dois dos partidos opositores que promoveram o fim da "interinidade", Primeiro Justiça (PJ) e Ação Democrática (AD), mas isentou de responsabilidade o chefe da delegação, Gerardo Blyde.
É "um homem honesto, claro, comprometido, mas ele tem uma delegação em que há penetração dos interesses da ditadura", apontou o político de 51 anos, que, no entanto, descartou que seu partido, Vontade Popular (VP), deixasse as negociações. "Não vamos abandonar nenhum espaço".
Nas conversas no México, restabelecidas em novembro depois de 15 meses de paralisia, a oposição exige a marcação de uma data para as próximas eleições presidenciais, previstas para 2024, enquanto o governo pede a suspensão de todas as sanções internacionais que buscavam forçar a queda de Maduro.
Ainda não há data para a próxima reunião entre as partes.
"Devo dizer que todas as decisões referentes ao processo de negociação foram tomadas por consenso, após amplas e profundas discussões internas", reagiu Blyde no Twitter, sem citar López.
"Nenhum delegado tentou impor uma visão ou interesse particular. Sempre imperou o consenso", ressaltou.
A AFP tentou fazer contato, sem sucesso, com Tomás Guanipa, que se limitou a retuitar Blyde.
A reeleição de Maduro em 2018, um pleito boicotado pela oposição que o tachou de fraudulento, foi a raiz para a criação do "governo interino".
Agora, o grosso dessa mesma oposição afirma que pretende, sim, participar das novas eleições e anunciou, há alguns meses, um acordo para eleger um candidato único em um processo de primárias.
"Para nós, é o único caminho para reconstruir o caminho da unidade", disse López.
O dirigente, no entanto, alega que outras lideranças, como os ex-candidatos presidenciais Henrique Capriles e Manuel Rosales (atual governador do estado petroleiro de Zulia), tentam frear o processo das primárias, e propõem a escolha por consenso do adversário de Maduro.
"Nós não vamos acompanhar nenhuma candidatura de consenso" sem passar por um processo de primárias, expressou López, que negou ter a intenção de ser candidato em 2024.
O líder de direita deixou a Venezuela após participar de um levante de um grupo de militares em 30 de abril de 2019, durante o qual foi libertado de forma inesperada. Ele cumpria prisão domiciliar desde 2017.
A oposição também pede no México que sejam suspensas as inabilitações judiciais contra dirigentes que poderiam ser candidatos.
"Quem ganhar [as primárias], que esteja habilitado para concorrer [nas eleições], que não venha: habilitem este, habilitem outro", opinou López.
Na última reunião no México, em novembro, as partes firmaram um acordo para liberar 3 bilhões de dólares bloqueados por sanções contra a Venezuela, a fim de usá-los em projetos sociais, ao qual os Estados Unidos responderam com uma flexibilização de sanções que permite à petrolífera Chevron operar no país sul-americano.
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