Empresário aposta na dupla cidadania para evitar sanções antirrussas na Noruega
A dupla cidadania pode proteger os russos de sanções? A Justiça norueguesa terá de dirimir essa questão no julgamento do empresário anglo-russo Andrei Yakunin, acusado de sobrevoar drones, ilegalmente, sobre o Ártico.
Yakunin, de 47 anos, filho de um ex-associado do presidente Vladimir Putin, declarou-se inocente, nesta terça-feira (29), no primeiro dia de seu julgamento perante o tribunal de Tromsø, no norte da Noruega. Ele se encontra em prisão preventiva desde meados de outubro.
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As autoridades acusam-no de ter feito drones sobrevoarem Svalbard, no verão passado, durante uma viagem em seu iate por este arquipélago situado em uma zona estratégica do Ártico.
Seguindo o exemplo da União Europeia, bloco ao qual não pertence, a Noruega decidiu proibir cidadãos e entidades russas de sobrevoarem seu território, em represália pela invasão russa da Ucrânia. O país nórdico incluiu o uso de drones na proibição.
A Noruega é, hoje, o maior fornecedor de gás natural da Europa e está muito preocupado com a segurança de suas instalações energéticas.
"Não se trata, de modo algum, de afirmar que o acusado espionou, de uma forma ou de outra, ou que agiu em nome dos serviços de Inteligência russos", declarou a promotora Kristin Røhne em seus comentários iniciais nesta terça-feira.
"Não há nada que sustente isso. Mas pensamos que o respeito às normas é importante, inclusive em um caso como este", acrescentou a promotora, citada pelo jornal Verdens Gang.
Apresentado como um amante da natureza e dos esportes radicais, Andrei Yakunin reconhece que acionou um drone de lazer para documentar sua viagem a Svalbard, como mostram as fotos e os vídeos apreendidos. Ele rejeita, no entanto, as acusações feitas contra ele.
Seus advogados destacam a nacionalidade britânica obtida em 2015 por seu rico cliente, um empresário que atualmente reside na Itália, cujo único erro, afirmam, foi ter nascido russo.
"Fazer um drone de lazer voar em Svalbard, enquanto cidadão britânico, não tem nada de criminoso", disse à AFP um de seus advogados, Bernt Heiberg.
Segundo ele, Yakunin, que deixou São Petersburgo em 2008, tem hoje uma relação meramente "marginal" com seu país de origem.
Além do aspecto inédito do ponto de vista jurídico, o caso ganhou visibilidade pelos laços familiares do réu com o Kremlin. Vladimir Yakunin, pai do acusado, foi presidente da companhia ferroviária russa e algumas vezes apresentado como um confidente de Putin.
Em entrevista ao canal TV2 na semana passada, Andrei Yakunin afirmou que não tem relação direta com o presidente russo, lembrando que se manifestou desde cedo contra a invasão da Ucrânia.
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