As mulheres na linha de frente contra as minas terrestres
"Quando criança não me permitiam brincar em determinados locais, e quanto mais via o meu tio mutilado por uma mina terrestres mais apavorada ficava", conta Filomena Chico, uma jovem angolana que agora neutraliza dezenas de explosivos a cada mês.
Como esta mãe de 27 anos, mais e mais mulheres estão se unindo ao trabalho de retirada de minas minas POMZ-2, TM-57, granadas ou outros dispositivos que feriram ou mataram 5.544 pessoas em 2021, segundo o Observatório de Minas.
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Em 2019, 20% dos trabalhadores eram mulheres, segundo uma investigação da organização Mines Action Canada, que consultou 12 ONGs envolvidas na desminagem.
Filomena Chico trabalha na região montanhosa de Benguela para a Halo Trust. Esta ONG britânica forma e emprega equipes só de mulheres em Angola para promover o seu "empoderamento".
Neste país devastado pela guerra civil até 2002, o trabalho é exigente. Somando-se ao estresse intenso, muitas vezes há quilômetros de caminhada para acessar áreas remotas infestadas por minas e até mesmo acampar.
"A gente se sacrifica pelo trabalho. Podemos ficar quatro semanas longe da família", resume, de Luena, Ngoie Mulunda, de 34 anos, que trabalha em Angola para a ONG Mines Advisory Group (MAG).
"Como mulheres, ficamos orgulhosas de que, com o terreno limpo, possam ser construídas escolas, o gado possa voltar e fazendas possam ser desenvolvidas", acrescenta Filomena Chico.
Limpar a terra de minas terrestres "não é uma questão de gênero", mas uma emergência, diz Lamngeunh, uma mãe de três filhos do Laos.
Parte da primeira equipe formada e recrutada pela Handicap International em 2006, a mulher, cujo pai foi vítima de uma mina, sabe que a erradicação de artefatos explosivos após um conflito pode levar tempo.
O Laos é um dos 164 Estados que fazem parte do Tratado de Ottawa de dezembro de 1997, que proíbe o uso de minas antipessoal e prevê a destruição de arsenais.
"O número de novas vítimas caiu dez vezes, mas voltou a subir desde 2015", lamenta Anne Héry, da Handicap International.
Esta ONG, juntamente com outras organizações, procura incentivar os Estados-membros, reunidos de segunda a sexta-feira em Genebra, a redobrar os esforços no combate a estas "armas dos covardes", aumentando o financiamento - em 2021, caiu 7% face a 2020.
Atualmente, 33 países terminaram o trabalho de retirada de minas de seus territórios, outros 20 devem fazê-lo até 2025, "mas sabemos que apenas alguns deles conseguirão respeitar este prazo", segundo Héry.
"O principal obstáculo (...) é a falta de financiamento", diz Chris Loughram, da Halo Trust, num contexto em que o uso de explosivos improvisados se generalizou em conflitos recentes como na Ucrânia ou Mianmar.
"Eles são mais perigosos. Cada artefato requer um processo e ferramentas diferentes. Às vezes, leva duas horas para se elaborar um plano de ação", explica Salwa Khider Murad, de Sinjar.
Quando a organização terrorista Estado Islâmico (EI) invadiu esta cidade no noroeste do Iraque em 2014, um reduto histórico da minoria yazidi, esta mulher fugiu.
Em 2016, aos 21 anos, ingressou na MAG como desativadora de minas para entrar em uma Sinjar abandonada por seus habitantes e ocupada pelo EI, onde os artefatos poderiam estar escondidos em carros, geladeiras, janelas e até bichos de pelúcia.
Seis anos depois, milhares de refugiados ainda não conseguiram regressar às suas casas, situação que lhe dá força "como mulher" para "lutar contra o EI" e continuar o trabalho.
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