Lula é eleito presidente por estreita margem e Bolsonaro se mantém em silêncio

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) governará o Brasil pela terceira vez, após vencer por estreita margem no segundo turno, neste domingo (30), o presidente Jair Bolsonaro (PL), que se mantém em silêncio horas depois do resultado.

O ícone da esquerda latino-americana, de 77 anos, venceu por 50,9% a 49,1% dos votos o ex-capitão do exército, com quase 100% das urnas apuradas.

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Horas depois do resultado, Bolsonaro, de 67 anos, ainda não tinha dado nenhuma declaração. Fontes da Presidência informaram que ele estava no Palácio da Alvorada, em Brasília.

Bolsonaro enviou mensagens contraditórias sobre se vai ou não reconhecer os resultados em caso de derrota. Na sexta-feira, garantiu que vai fazê-lo: "Quem tiver mais votos, leva". "É a democracia".

Na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, local emblemático de manifestações do ex-presidente, Lula, que estava em um trio elétrico, foi recebido por milhares de apoiadores.

"Estou metade alegre e metade preocupado porque a partir de amanhã tenho que me preocupar em como a gente vai começar a governar o país. Preciso saber se o presidente [Bolsonaro] vai permitir a transição", disse.

Lula também pediu unidade aos brasileiros. "A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Esse país precisa de paz e união", afirmou.

Dirigiu-se, ainda, à comunidade internacional: "o Brasil está de volta" ao cenário internacional e deixará de ser um "pária", prometeu. Além disso, assegurou que lutará contra o desmatamento porque "o Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva".

"O Brasil está voltando aos trilhos após quatro anos de obscurantismo. A população estava sentindo medo e sofrendo muitos problemas", disse à AFP Larissa Meneses, de 34 anos.

A campanha eleitoral aprofundou a polarização no país, dividido entre um movimento conservador e aqueles com uma visão progressista, alinhada à diversidade social do país.

"O Brasil vai ter uma mudança importante de governo, com a metade da população descontente com isso", disse à AFP o cientista político Leandro Consentino, do instituto de pesquisas Insper, de São Paulo.

Lula "representa muitas coisas, igualdade de gênero, liberdade. Tudo vai mudar", afirmou, aos prantos, Carolina Freio, funcionária pública de 44 anos em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

"Para nós, a volta do Lula é muito importante. Ele tentou demarcar as nossas terras, fez alguns projetos, alguns programas bons", disse, por sua vez, o pajé Saha da Silva, da etnia indígena sateré-mawé, que votou na comunidade de Iranduba, a 80 km de Manaus.

Lula, único presidente eleito para três mandatos e que governou o Brasil de 2003 a 2010, conta com o apoio dos mais vulneráveis e de quem se ressentiu das políticas e das ofensas do presidente, como os jovens, as mulheres e as minorias.

Mas desta vez também fez alianças com setores mais ao centro, unidos com o objetivo comum de derrotar Bolsonaro.

Ele prometeu "consertar o país", ainda impactado pela crise da pandemia e seus 688.000 mortos, embora tenha falado pouco de seu programa de governo.

Durante sua campanha, destacou os feitos socioeconômicos de seus dois mandatos anteriores, como a saída de mais de 30 milhões de brasileiros da pobreza com iniciativas sociais financiadas pelo 'boom' das matérias-primas.

Neste terceiro mandato, ele não contará com o mesmo cenário favorável: embora a economia dê sinais de melhora, com crescimento, menos inflação e mais emprego, está longe da prosperidade dos anos 2000.

Tampouco terá vida fácil com o Congresso, onde os conservadores são maioria.

Lula voltou ao cenário político no ano passado, depois que suas condenações por corrupção foram canceladas por motivos processuais. Ele esteve preso por 19 meses, salpicado especialmente pelo escândalo investigado pela operação Lava Jato, que desvendou um esquema de propinas montado na Petrobras.

Bolsonaro, ex-capitão do exército, tentou a reeleição defendendo os valores tradicionais e a melhora recente dos dados econômicos - desaceleração da inflação e queda do desemprego -, ao mesmo tempo em que insuflou um discurso nacionalista.

Uma mensagem especialmente valorizada pelo agronegócio e pela população evangélica, que representa um terço do eleitorado e continua crescendo neste país de maioria católica.

Após a posse, em 1º de janeiro de 2023, Lula terá "um governo frágil", disse à AFP Brian Winter, redator-chefe da publicação Americas Quarterly. "Estará sob a lupa desde o primeiro dia e enfrentará um Congresso hostil", afirmou.

Lula foi parabenizado logo após a notícia de sua eleição pelo presidente americano, Joe Biden, que elogiou a realização de eleições "livres" e "justas".

Também o fizeram os presidentes de França, Colômbia, México, Chile, Venezuela, Argentina, Canadá e Uruguai, entre outros. "Lula. Alegria", tuitou o presidente chileno, Gabriel Boric.

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