Bolsonaro continua isolado e Lula já atua como presidente eleito

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou nesta segunda-feira (31) o primeiro desafio antes de assumir seu terceiro mandato: o silêncio de Jair Bolsonaro, que ainda não reconheceu sua derrota nas eleições que colocaram a polarização do país em evidência.

O líder do Partido dos Trabalhadores (PT), de 77 anos, venceu o ultradireitista por uma margem estreita, de 50,9% dos votos contra 49,1%.

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Passadas mais de 18 horas do resultado oficial, Bolsonaro, de 67 anos, não havia se pronunciado sobre a vitória de Lula, que foi reconhecida de imediato por líderes mundiais como o americano Joe Biden e o russo Vladimir Putin, com quem o presidente manteve boas relações.

Lula se reuniu nesta segunda-feira com o presidente argentino, Alberto Fernández. Ambos os líderes, aliados de longa data, se abraçaram ao se encontrarem em um hotel em São Paulo, segundo um vídeo postado na conta oficial no Instagram do argentino, que adiantou que o petista viajará a Buenos Aires antes de tomar posse.

"Lula me deu a grande alegria de me contar que sua primeira visita será para a Argentina antes de assumir" a presidência do Brasil, em 1º de janeiro de 2023, revelou Fernández.

"Eu não queria estar ausente em um dia em que o povo do Brasil está reivindicando esse líder maravilhoso que eles têm, que é Lula", disse Fernandez, que destacou coincidências na "necessidade de integração na América Latina".

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, também se comunicaram com o líder de esquerda por telefone, segundo sua assessoria de comunicação.

Durante seu discurso de vitória, Lula manifestou sua preocupação com a transição de poder: "Preciso saber se o presidente vai permitir que haja uma transição".

Na noite de domingo, Bolsonaro se isolou na residência oficial do Palácio da Alvorada em Brasília, e na segunda-feira voltou ao Palácio do Planalto sem dar declarações, constatou um fotógrafo da AFP.

Somente alguns de seus aliados parlamentares admitiram a derrota nas redes sociais, onde o bolsonarismo costuma ser muito ativo.

Caminhoneiros e outros manifestantes bloquearam rodovias em 11 dos 26 estados do país e no Distrito Federal, em protesto contra a derrota de Bolsonaro. A polícia rodoviária precisou intervir para liberar o fluxo, apesar de dezenas de estradas continuarem bloqueadas, segundo um relatório oficial.

Consciente dos desafios que enfrentará a partir de 1º de janeiro, quando será empossado, Lula reconheceu em seu discurso que governará em "uma situação muito difícil" e destacou a necessidade de restabelecer a unidade dos brasileiros.

A transição pode representar um desafio para Lula, explicou Paulo Calmon, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília.

"Lula deve ter cuidado, primeiro com um 'terceiro turno': com qualquer desafio que Bolsonaro e seus aliados possam criar, como (Donald) Trump nos Estados Unidos, para deslegitimar sua vitória e mobilizar seu eleitorado contra ele", afirmou à AFP.

Lula teve dois milhões de votos a mais que Bolsonaro, a vitória mais apertada em um segundo turno na história da democracia brasileira, após uma campanha polarizada e tensa.

Marco Antônio Teixeira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, afirmou que o presidente eleito terá que trabalhar para "ampliar a legitimidade do governo", com a presença no Executivo de "setores não petistas".

O Congresso, que em 2 de outubro se inclinou à direita com a eleição de conservadores e aliados de Bolsonaro, deve apresentar uma oposição mais forte do que as que Lula enfrentou em seus dois outros governos.

O Partido Liberal (PL) de Bolsonaro elegeu a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 99 representantes.

Lula, que governou o Brasil de 2003 a 2010, chega ao poder com o apoio dos mais vulneráveis, grupo que possui uma memória afetiva da bonança sob sua administração.

Ele fez várias promessas para melhorar a economia, incluindo aumentar o salário mínimo e reforçar os programas sociais.

Adriano Laureno, da consultoria Prospectiva, disse que o resultado de Bolsonaro, que foi o segundo colocado mais bem votado na história do país, significa que Lula terá uma oposição "forte, organizada, inclusive nas ruas".

Durante a campanha, o líder do PT destacou as conquistas socioeconômicas de seus dois primeiros mandatos, como a saída da pobreza de mais de 30 milhões de brasileiros graças a iniciativas sociais financiadas com o 'boom' das commodities.

O terceiro mandato de Lula não contará com o mesmo cenário favorável: embora a economia dê sinais de melhora, com crescimento, menos inflação e mais emprego, está longe da prosperidade dos anos 2000 e enfrenta um mundo em risco de recessão global.

Se não forem atendidas, as expectativas podem voltar como um bumerangue, afirmam os analistas.

"É um governo que começa com muita dificuldade na parte econômica. Vai assumir num cenário internacional complicado, numa possível recessão, com juros muito altos no Brasil e mais essa bomba fiscal para lidar" (400 bilhões de reais), afirmou Laureno.

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